Em declarações aos jornalistas à margem de uma ação de contacto com a população no mercado de Olhão, Catarina Martins referiu-se ao encontro que junta este sábado em Lisboa os chefes de Estado e de Governo de Chipre, Espanha, França, Grécia, Itália e Malta. “Se é importante a articulação entre governos dos países do sul, não podem ficar à espera de uma unanimidade na Europa que não chegará”, afirmou a coordenadora do Bloco.
Para Catarina Martins, estes governos “não podem continuar a ceder a regras do euro que foram feitas para enriquecer o centro à custa das periferias”. Por isso, “este era o momento de dizer algo claro e com consequências concretas: por exemplo, rejeitar o Tratado Orçamental que impõe um limite impossível de dívida e défice, para depois cortar mais nos direitos sociais dos povos da periferia”.
Um exemplo dessas regras que sugam a riqueza dos países periféricos foi dado esta semana pelas palavras do Eurogrupo acerca de Portugal, apontou Catarina. Se antes, o Eurogrupo dizia que o país precisava de “reformas estruturais – leia-se baixar os direitos do trabalho e os direitos sociais – porque o défice estava acima do limite”, agora que o défice está abaixo do limite, “o Eurogrupo repetiu exatamente a mesma coisa”, sublinhou.
“Creio que hoje, mesmo quem acreditou que a União Europeia pudesse ser um espaço de convergência e de direitos, já percebeu que isso não existe”, concluiu Catarina, defendendo que “os países devem ser absolutamente intransigentes na defesa dos direitos sociais, laborais, do emprego e da economia”.
Concertação: “Acordo está encerrado e bem encerrado”
Questionada pelos jornalistas sobre os últimos desenvolvimentos da relação entre parceiros sociais após o chumbo do desconto na TSU aos patrões que pagam baixos salários, Catarina desvalorizou as polémicas, dizendo que se trata de um assunto “encerrado e bem encerrado”.
“O que interessa é que o desconto da TSU que punha os contribuintes a pagar o aumento do salário mínimo está abandonado, o salário mínimo já subiu e as empresas com mais dificuldade têm um apoio não pelo aumento do salário mínimo mas pelas condições da economia, que pode ser significativo para a sua liquidez”, afirmou a coordenadora bloquista.
A visita ao Algarve serviu também para reforçar a oposição ao furo de exploração de petróleo autorizado pelo governo. Catarina lembrou que “em Portugal nunca foi feito um furo em alto mar e o anterior governo criou condições para fazer furos em todo o lado”, pela mão de “um diretor-geral que já estava de saída e assinou concessões para permitir o furo, o que já de si é bastante irregular”.
A oposição das 40 mil pessoas que participaram na consulta pública e de todas as autarquias da região são argumentos fortes para se concluir que “há todos os mecanismos para travar este processo”, prosseguiu.
“Fazer um primeiro furo só dará razão a todos os outros que também tiveram concessões feitas desta forma inaceitável pelo anterior governo. Não pode haver nenhum e não podemos abrir o primeiro”, acrescentou Catarina Martins.
Nesta visita ao Algarve, o tema das portagens da A22 também esteve presente nas questões dos jornalistas e da população, com a coordenadora bloquista a reconhecer a divergência com o governo nesta matéria e a prometer continuar a luta pela abolição das portagens.