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Catarina anuncia proposta para testagem massiva da população

Em entrevista ao Jornal de Notícias/TSF, Catarina propõe a testagem de todos os contactos, testagem em locais de ajuntamentos de pessoas bem como a distribuição de testes individuais. “Se a testagem é cara, cada mês que o país pára seguramente fica muito mais caro do que um mês de testagem intensiva”.
O Governo “prometeu que iria alterar a estratégia de testagem, mas em vez de o fazer criou uma task force para pensar os critérios".
O Governo “prometeu que iria alterar a estratégia de testagem, mas em vez de o fazer criou uma task force para pensar os critérios". Foto de Catarina Martins, Agência Lusa.

Na entrevista publicada este domingo pelo Jornal de Notícias e pela TSF Rádio Notícias, a coordenadora do Bloco de Esquerda falou sobre as propostas do Bloco de Esquerda para o teletrabalho e a exigência de impedir a fuga aos impostos da EDP, e apresentou propostas sobre a política de testagem como parte essencial do planeamento do desconfinamento.

“Temos sido solidários com o Governo na necessidade das medidas de confinamento e no planeamento de desconfinamento. Preocupa-nos é a preparação que fazemos de cada uma destas fases. Estamos a entrar numa nova fase de desconfinamento ainda sem as alterações necessárias na política de testagem, para não sermos apanhados desprevenidos”, começa por dizer Catarina Martins.

O Governo “prometeu que iria alterar a estratégia de testagem, mas em vez de o fazer criou uma task force para pensar os critérios. Às vezes, parece quase que estamos num sketch cómico”, ironiza.

“Nós temos proposta, falámos dela ao Governo mas, em vez de implementar a estratégia, vai criar um grupo de trabalho e portanto nós vamos apresentá-la no Parlamento, com estratégia para testagem de três formas”, explica.

Em primeiro lugar, “a testagem de todos os contactos, não só os chamados contactos de maior risco”. Em segundo lugar, “ter a testagem onde há ajuntamentos de pessoas. É o que o Governo está a fazer com as escolas, mas tem de se fazer nos sítios onde há grandes aglomerações, em transportes que são muito concorridos, em entradas de fábricas com muita gente”, continua por dizer.

E depois “é preciso avançar com a testagem individual. Não basta dizer que os testes vão ficar à venda no supermercado, porque nós precisamos que o Estado tenha uma capacidade de varrimento de toda a população. As pessoas que têm menos poder de compra, ou que têm menos cuidado, não se vão testar?”, questiona.  

A resposta “tem de ser a distribuição de testes individuais, nomeadamente através dos serviços sociais, através do acompanhamento das pessoas que estão mais isoladas, etc. É possível dar o teste à pessoa e pedir “devolva-nos o teste com o resultado e nós damos-lhe outro”, como é feito, por exemplo, noutros países europeus”, relembra.

Sobre o argumento de que a testagem é cara “há dois problemas. Um deles é que temos tido uma estratégia de testagem sobretudo com os PCR que, de facto, são muito caros. Mas na verdade temos tido o problema de estarmos muito reféns dos interesses dos próprios laboratórios nas definições da testagem”.

E dá o exemplo de Germano de Sousa, “uma das pessoas que decidem neste momento os critérios de testagem em Portugal, ao mesmo tempo que é o dono de uma das cadeias de laboratórios que mais testam. Portanto, há aqui conflitos de interesses que têm impedido decisões que possam utilizar mais testes e até testes mais baratos e que as pessoas possam fazer”.

“Se a testagem é cara, cada mês que o país pára seguramente fica muito mais caro do que um mês de testagem intensiva”.

Teletrabalho não significa isenção de horário

Questionada sobre a reação do Partido Socialista às propostas apresentadas pelo Bloco de Esquerda para regulamentar o teletrabalho, Catarina relembra que o PS “ainda não apresentou nenhuma proposta concreta. O que nós temos dito são algumas coisas muito simples. Em primeiro lugar, é que a mudança do posto de trabalho foi muitas vezes paga pelos trabalhadores. Por outro lado, também temos muitos casos de invasão de privacidade. Até a Comissão Nacional de Proteção de Dados já teve de se pronunciar. E temos também o problema de não haver horários de trabalho, porque se pede aos trabalhadores para trabalhar a qualquer hora. Como se estar em teletrabalho significasse isenção de horário”, relembra.

O que o Bloco “propõe, aliás, não é que haja uma lei a régua e esquadro para todos os setores, mas que as condições sejam estabelecidas em acordos coletivos de trabalho, porque nos vários setores seguramente a solução não é sempre a mesma”, explica.

Como teria impedido a fuga fiscal da EDP?

“Tinha parado o negócio, não tinha dado acordo à transmissão das barragens sem uma garantia de pagamento dos impostos devidos. As barragens são uma concessão pública. Não podem ser vendidas como quem vende um carro ou outra coisa qualquer. E o Governo tinha sido avisado de que a EDP estava a montar um esquema fiscal para não pagar os impostos e portanto podia, ao ter autorizado a concessão, ter colocado especificamente que não era possível que a venda fosse feita numa estrutura de negócios que impedisse a cobrança de impostos”, critica.

“Na verdade, a EDP até foi bastante transparente, o Governo é que quis aceitar isto. A EDP criou uma empresa com um único funcionário para quem passa seis barragens. Alguém acredita que uma empresa com um único funcionário, acabada de fundar, vai gerir seis barragens? É preciso ter muita vontade de dar um prémio fiscal à EDP para autorizar um negócio assim. Foi um negócio de mais de dois mil milhões de euros e a EDP deve 110 milhões de imposto do selo que, aliás, serve para um fundo para o povo da terra de Miranda”, conclui.

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