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Candidatas do Bloco e Unidas Podemos prometem "não deixar as mulheres para trás”

No comício do Bloco em Coimbra, Marisa Matias e Maria Eugenia Palop, cabeça de lista da Unidas Podemos, saudaram a luta das mulheres contra a violência machista e defenderam que as declarações a favor da igualdade "devem ser traduzidas em força de lei.
Comício em Coimbra
Comício em Coimbra. Foto de Paula Nunes.

No comício desta quinta-feira, em Coimbra (ver fotogaleria), Marisa Matias recebeu María Eugenia Palop, cabeça de lista das Unidas Podemos, e destacou as “várias propostas que procuramos defender” em conjunto, sendo uma delas algo “tão simples como não deixar as mulheres para trás”.

Referindo-se ao relatório sobre igualdade de género e políticas fiscais na UE, de que foi relatora no Parlamento Europeu, e que conseguiu aprovar “de forma muito difícil, com uma maioria muito curta e com total oposição da direita”, Marisa Matias disse que apesar dos importantes avanços e conquistas, as pessoas “não têm a coragem, não têm a frontalidade de dizer que as declarações têm de ser traduzidas em força de lei, porque enquanto forem declarações não são mais do que isso. Se forem força de lei podem promover a igualdade e a dignidade”.

Contou que, na União Europeia, a desigualdade salarial é de 16% “mas se juntarmos as questões dos impostos é de 20%”. Que “as mulheres chegam à idade de reforma e na realidade têm direito a metade do que têm os homens” porque “se soma discriminação e desigualdade, uma atrás da outra”. Falou ainda dos cuidados prestados na União Europeia, em que 75% são informais, e desses, 80% são prestados por mulheres. “É mais uma discriminação a acumular”, notou, sublinhando que como não tiveram apoio não terão direito a uma pensão com dignidade, como lhes é devido.

Foi nesse sentido que destacou a necessidade do “reconhecimento e valorização do trabalho doméstico e dos cuidados informais” e “o direito a regulamentar em todos os países da União Europeia o estatuto de cuidadores e cuidadoras informais”.

No plano internacional, destacou a “ greve feminista que mobilizou milhares de pessoas” em março passado, e que é o “espelho de uma resistência que se articula internacionalmente para que possamos ter em comum uma carta de direitos fundamentais”.

 

Maria Eugenia Palop: “Representamos a Europa feminista e a Europa ecologista porque enfrentamos o machismo e o antifeminismo da extrema-direita"

A cabeça de lista do Unidas Podemos às eleições europeias em Espanha referiu-se à greve feminista ao trabalho e aos cuidados que teve grande adesão no passado dia 8 de Março e também à greve estudantil climática da próxima sexta-feira. “Representamos a Europa feminista e a Europa ecologista porque enfrentamos o machismo e o antifeminismo da extrema-direita. E enfrentamos também um feminismo elitista e individualista. O nosso feminismo é o das 99%”, afirmou Maria Eugenia Palop.

“Estamos decididas a lutar contra a violência de género e a violência machista e os femicídios em Espanha, Portugal e em toda a União Europeia”, prosseguiu a candidata da Unidas Podemos, lembrando que os últimos dados sobre o fenómeno na União Europeia, publicados em 2014, indicavam que “13 milhões de mulheres sofreram violência física e uma em cada 20 mulheres foi violada após os 15 anos de idade”.

Maria Eugenia Palop alertou ainda para urgência de dar respostas à crise climática, defendendo a produção de energia limpa e a sua distribuição pública e lembrando o desastre das privatizações do setor energético nos dois países ibéricos.

“Lutamos contra o poder crescente das multinacionais, contra as portas giratórias, contra a exploração laboral”, prosseguiu a candidata da Unidas Podemos, comprometendo-se a lutar ao lado do Bloco para levar estas lutas ao Parlamento Europeu e propostas para “fazer um novo contrato social baseado na democracia e nos direitos sociais, na sustentabilidade e no feminismo”.

Catarina Martins: “Agenda feminista é todo um programa de direitos humanos e de dignidade”

Catarina Martins veio também a Coimbra falar de mulheres. Mulheres como as da Sioux ou da Triumph, que se “levantaram pelos seus direitos num país onde vezes demais a delinquência patronal fica impune”, e que “lutam pelo que é delas, pelo respeito pelo seu trabalho”.

Dirigiu-se às mulheres precárias “que se levantaram nos hospitais e nas escolas” pelo “direito a um contrato de trabalho”, dirigiu-se às mulheres “que são despedidas quando engravidam” ou que “quando estão à procura de emprego alguém lhes vai perguntar se têm filhos ou se estão a pensar tê-los, como se ser mãe fosse condição de desemprego”, dirigiu-se às “amas da segurança social ou das misericórdias”, às “mulheres migrantes e negras que apoiam toda a gente neste país que menos tem e que estão a recibo verde a trabalhar 12 e 14 horas por dia” e às “mulheres que trabalham na limpeza, que se levantam de noite para chegar a casa também à noite”.

Estas são, segundo Catarina Martins, algumas das “mulheres invisíveis” para quem “nunca se olha com olhos de ver” mas que “fazem todos os dias este país funcionar”.

A coordenadora do Bloco falou ainda das “mulheres que se levantam num país em que a violência contra as mulheres ainda é a regra”, as que “se levantam contra os Netos de Moura e as suas sentenças que humilham e reproduzem a violência machista”, mulheres que a 8 de março de 2019 foram para as ruas dizer “nem mais uma”, e recordou igualmente a luta pela despenalização do aborto na qual o Bloco participou ativamente.

Para Catarina Martins “uma agenda feminista não é coisa pouca, é todo um programa de direitos humanos e de dignidade” e convidou quem pensa “que o feminismo já não é preciso ou que os direitos já estão todos conquistados”, a olhar para esta campanha às eleições europeias, em que das 17 candidaturas existentes, apenas a do Bloco é encabeçada por uma mulher: a Marisa Matias.

"No dia 26 de maio, as mulheres que se levantam por direitos, os homens que se levantam por igualdade, todas as pessoas que dizem que já chega, que não aceitamos mais a desigualdade, nem a violência, que queremos o respeito no lugar da humilhação, que a dignidade é o que combina com toda a gente, é esta gente que se levanta, que no dia 26 vai votar e sabe que é o voto no Bloco, que é o voto na Marisa Matias que vai fazer toda a diferença", concluiu.

Amílcar Morais: Reconhecimento da LGP foi reconhecer os surdos  como uma minoria linguística e uma comunidade política na sociedade em que vive

Amílcar Morais, que integra a lista do Bloco às europeias, fez a sua intervenção em Língua Gestual Portuguesa e manifestou-se “muito feliz pelo investimento que o Bloco de Esquerda tem vindo a fazer com os interpretes que chama habitualmente nos seus encontros, reuniões e comícios”.

Referiu-se ao reconhecimento da Língua Gestual Portuguesa, na Constituição da República Portuguesa, e de sentirem “naquele momento que isso ia trazer uma grandessíssima mudança, mas não trouxe”, lamentou, agradecendo ainda assim a Marisa Matias por “por ser alguém que está no sítio ao contrário, ou seja, que olha por nós e nos defende”.

“O reconhecimento da Língua Gestual Portuguesa em 1997 não foi dar qualquer coisa aos surdos para que se calassem, foi reconhecê-los como uma minoria linguística e como uma comunidade igualmente política na sociedade em que vive”, frisou ainda assim sublinhando que “continuamos a sentir-nos excluídos e cidadãos com menos direitos que a maioria dos cidadãos”. Deu como exemplos as caixas com interpretação ainda muito pequenas na televisão ou as enormes limitações que encontram quando, nos casos de violência doméstica que obviamente também abrange os surdos, pretendem fazer queixa e ninguém os percebe [em LGP] ou quando precisam de ligar para o 112, entre inúmeras outras barreiras com que se confrontam diariamente, seja na saúde, na educação ou segurança pública.

Comício em Coimbra contou ainda com intervenção do mandatório António Capelo e de um momento musical a cargo de Jorge Palma.

Reveja aqui o comício na íntegra:

Notícia atualizada às 14:42h

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