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A campanha milionária dos extremistas religiosos europeus contra direitos LGBTI+ e aborto

Para estes grupos têm chegado milhões de oligarcas russos ligados ao Kremlin e de movimentos norte-americanos mas também o dinheiro das grandes fortunas e empresas europeias. A decisão do Supremo dos EUA sobre o aborto foi para eles “uma grande vitória”.
Material do HazteOir, uma das organizações extremistas que faz campanha anti-aborto e contra os direitos LGBTI+. Foto: Flickr.
Material do HazteOir, uma das organizações extremistas que faz campanha anti-aborto e contra os direitos LGBTI+. Foto: Flickr.

Milhões de euros provenientes dos EUA, da Rússia e do interior da União Europeia financiam os grupos de extrema-direita que lutam contra os direitos reprodutivos das mulheres e os direitos LGBTI+ na Europa. O relatório “A Ponta do Icebergue: Financiadores religiosos extremistas contra os direitos sexuais e reprodutivos” do Fórum Parlamentar Europeu, publicado em julho do ano passado, é o último documento exaustivo a tentar analisar este financiamento e as suas conclusões são retomadas agora pelo El Diario, que fala com o seu principal investigador.

De acordo com aquele estudo, entre 2009 e 2018, “pelo menos” 707,2 milhões de dólares passaram pelas mãos de grupos cristãos de extrema-direita com esta agenda política. O valor tem crescido: em 2009 estimava-se em 22,2 milhões, ao passo que em 2018, já era de 96 milhões. E se a fatia maior é de organizações da própria UE (437 milhões de dólares), também chegou dinheiro dos EUA (81,3 milhões) e da Rússia (188 milhões).

Ao jornal espanhol, Neil Datta, diretor executivo do FPE e autor do estudo, explica que os grupos ultra-católicos norte-americanos investem somas avultadas na Europa porque temem que as suas políticas “progressistas” possam “influenciar” os EUA. Agora, com a mais recente decisão do Supremo norte-americano de revogação da decisão sobre a despenalização do aborto, são os grupos europeus que pretendem utilizar o exemplo do outro lado do Atlântico, considerando o que se passou como “uma grande vitória”.

Grande parte do fluxo do dinheiro norte-americano é proveniente de três organizações: a Billy Graham Evangelistic Association (uma organização evangélica que fez chegar 23,8 milhões de dólares), a ADF International (com 23,3 milhões) e o Centro Americano para a Lei e a Justiça (15,7 milhões). Estas duas, diz o estudo, tentam “construir uma infraestrutura legal em defesa dos direitos cristãos na Europa”, tendo levado, desde 2013, “mais de 35 casos” aos tribunais europeus.

Sobre o dinheiro russo, Datta assinala que desde a guerra na Ucrânia “parece que qualquer relação com a Rússia se tornou tóxica”. Assim, algumas organizações “têm estado ocupadas a limpar todos os rastos na internet de qualquer vínculo anterior com a Rússia”.

No caso russo, o dinheiro chegou sobretudo a partir de dois oligarcas Vladimir Yakunin e Konstatin Malofeev, passando por fundações criadas diretamente pelo Kremlin que “assumiu o papel da defesa dos valores cristãos como uma autêntica alternativa europeia ao que consideram a degeneração gay da Europa Ocidental”.

Já no que toca ao dinheiro europeu, ele é proveniente de “grandes fortunas e empresas”, explica o investigador. A velha aristocracia, por exemplo, ocupa um papel destacado no “movimento antigénero”, preocupada em “defender a família” porque esta é “garantia da herança familiar”. Também há dinheiro público que acaba nos bolsos dos extremistas religiosos de direita quer através das ajudas que a Igreja Católica recebe quer através de apoios diretos dos governos de países como a Hungria e a Polónia.

Os grandes destinatários são grupos como a Fundação Jérôme Lejeune, de França, que entre 2009 e 2018 recebeu 120 milhões de dólares, parte deles fundos públicos do seu país. Outro é a associação Tradição, Família, Propriedade, fundada pelo brasileiro Plinio Corrêa de Oliveira e presente em mais de 25 países. Define-se como “a maior rede do mundo de organizações anticomunistas de inspiração católica e recebeu 113,4 milhões de dólares neste período.

Este estudo não refere o caso português mas analisa o espanhol onde se destacam a Federação One of Us, dirigida pelo eurodeputado do PP e ex-ministro de Aznar, Jaime Mayor Oreja, que terá recebido à volta de 31,5 milhões de dólares e que se centra na luta “contra o aborto”.

Outro caso sério é o da HazteOir e CitizenGo, de Ignacio Arsuaga, que terão recebido 32,7 milhões de dólares. A HazteOir tornou-se assim, pode ler-se no relatório, “numa das organizações mais importantes da extrema-direita do espetro político internacional”. A este universo se junta a plataforma de petições ultra-conservadoras CitizenGo que em 2013 tinha um orçamento de 600.000 euros e gerou “mais de dez milhões de dólares” depois disso. Ambas foram importantes na ascensão do partido de extrema-direita espanhol Vox.

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