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Calor extremo vai ameaçar regiões onde vive quase um terço da humanidade

Sem ação efetiva de combate às alterações climáticas, 3.5 mil milhões de pessoas viverão sob temperaturas insuportáveis em 2070, avança um estudo publicado na revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
Foto de Ásia Development Bank/Flickr

De acordo com o estudo publicado pela PNAS, a publicação oficial da Academia Nacional de Ciências norte-americana, mil milhões de pessoas terão que se deslocar ou sofrer um calor insuportável por cada 1ºC adicional da temperatura média global. No pior cenário equacionado pelos investigadores, com uma aceleração dos níveis de emissões, regiões onde atualmente vive cerca de um terço da população mundial poderão dentro de 50 anos ser tão quentes quanto as áreas mais quentes do Sahara hoje em dia.

Os cientistas decidiram estudar o impacto das alterações climáticas nos habitats humanos, recorrendo à mesma metodologia utilizada para estudar o impacto noutros habitats, tais como nas florestas tropicais ou nas savanas. Contudo, não esperavam a dimensão dos resultados obtidos.

A maioria da população humana habita regiões com temperaturas médias entre os 6ºC e os 28ºC. Estas temperaturas são ideais quer em termos de saúde humana, quer em termos de produção de alimentos. Todavia, com o aquecimento global, serão cada vez mais os locais praticamente inabitáveis e consequentemente maior o número de pessoas deslocadas.

Um aumento de 3ºC da temperatura global, que segundo as previsões poderá ocorrer até ao final deste século, implicará um acréscimo de 7,5ºC das temperaturas. Nessa altura, cerca de 30% da população mundial viverá sob calor extremo. Se não forem reduzidas as emissões de gases com efeito de estufa, dentro de 50 anos 1.2 mil milhões de pessoas na Índia, ou 485 milhões de pessoas na Nigéria ou 146 milhões no Paquistão, 103 milhões na Indonésia, e muitos mais milhões de pessoas noutros países serão afetadas. Como consequência haverá um aumento dos fluxos migratórios e a produção de alimentos será um desafio.

Marten Scheffer, ecologista, professor na Universidade de Wageningen, na Holanda, e um dos autores do estudo, afirmou ao The Guardian que acreditava “ser justo dizer que é impossível viver em temperaturas médias acima dos 29ºC. As pessoas teriam que mudar-se ou adaptar-se. Mas há limites para a adaptação. Se tiverem dinheiro e energia suficientes para conseguir usar o ar condicionado e mandar vir comida de avião talvez continue tudo bem. Mas esse não é o caso da maioria das pessoas.” E acrescentou: “sabemos que os habitats da maior parte das criaturas são limitados pela temperatura, por exemplo, só encontramos pinguins junto de águas frias e corais em águas quentes. Mas não esperávamos que os humanos fossem tão sensíveis. Julgamo-nos muito adaptáveis porque usamos roupas, aquecimento, ar condicionado, mas na verdade, a larga maioria dos seres humanos, vive, e sempre viveu, dentro de um nicho climático que agora está a alterar-se como nunca antes aconteceu.” Sobre as conclusões finais confessou que: “Ficámos estarrecidos pela magnitude. Haverá mais alterações nos próximos 50 anos do que nos últimos 6.000 anos”.

Os autores querem que as suas conclusões sirvam de incentivo a que sejam efetivamente tomadas medidas para redução das emissões de CO2, porque cada grau de aquecimento global que possa ser evitado poderá salvar mil milhões de pessoas E apelam a que haja uma maior cooperação em termos de políticas de migração, uma vez que as migrações climáticas serão uma realidade cada vez mais constante se nada for feito.

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