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Brasil: Todos os dias há manifestações contra Temer

Michel Temer voltou ao país que agora preside depois de uma estadia de cinco dias na China. Encontrou um Brasil onde todos os dias há mobilizações a exigir a sua saída da Presidência. Na noite desta terça-feira, ocorreram manifestações em quatro cidades importantes: Florianópolis, Curitiba e Porto Alegre. Nesta quarta, feriado nacional do dia da Independência do Brasil, realizou-se, como é habitual, o Grito dos Excluídos, uma comemoração alternativa da data, com manifestações em 39 cidades onde o que mais se gritou foi “Fora Temer”.
Até na tribuna do desfile oficial em Brasília, onde só entram convidados, o antigo vice de Dilma Rousseff ouviu o mesmo grito. De tal forma a palavra “Fora” está associada ao seu nome, que circulou por todo o país a piada de que um diplomata chinês desavisado o teria chamado de “Mr. President Fora Temer”.
Manifestação de São Paulo abriu nova fase
As manifestações de terça já refletiram o impacto que teve em todo o país a grande manifestação de cem mil de São Paulo (esclareça-se que só trabalhamos com números dos próprios organizadores, porque nem a Polícia nem o Instituto Data Folha, que antes, quando se tratava das manifestações contra Dilma, sempre divulgavam a sua estimativa de manifestantes, agora o fazem).
A grande participação e a combatividade da manifestação, bem como a presença massiva da juventude, mostraram que há algo de mais profundo a acontecer do que simples manifestações de rotina.
Por um lado, a sondagem que a Folha de S. Paulo tentou ocultar mostrava que 62% da população não quer Temer na Presidência e sim eleições; por outro lado, o país presenciou desde 2015 um processo de mobilização dos estudantes do ensino secundário, sem precedentes, em defesa do ensino público, com centenas de ocupações de escolas. Essa mesma juventude voltaria às ruas agora contra o presidente que ninguém elegeu? Aparentemente, isso está a acontecer. Algumas das manifestações em São Paulo, nos primeiros dias do mandato Temer, foram em grande parte espontâneas e a presença de jovens tem sido marcante.
Violência policial
Há ainda dois outros fatores que podem estar a ampliar o impacto dos protestos: o desprezo dos governantes e a repressão policial. Temer e Serra aperceberam-se das gaffes que tinham cometido (“Não são mais de 40 pessoas quebrando carros”, disse Temer; “as manifestações são mini-mini-mini”, disse Serra) e o ministro das Finanças, Henrique Meirelles, procurou corrigir, reconhecendo que os protestos envolveram um "número bastante substancial de pessoas", mas contrapondo que "já tivemos manifestações muito maiores".
O outro fator é o impacto da violência policial absolutamente injustificável. Todos os repórteres presentes no domingo testemunharam que a manifestação foi pacífica, e que a Polícia de Choque atacou sem ter sido provocada quando a manifestação já estava a dispersar, sem respeitar nem os jornalistas nem a população sufocada pelo gás atirado para dentro da estação de Metro.
A indignação diante da violência inusitada agigantou as mobilizações de junho de 2013.
Talvez por medo de que ocorra um novo junho de 2013, o jornal Folha de S. Paulo, um dos principais porta-vozes da classe dominante, que no dia 2 clamara, em editorial, à repressão aos manifestantes, identificando-os como “black blocs”, mudou completamente de tom no dia 6. Sob o título “Basta de confronto”, o editorial afirmava que “a Polícia Militar paulista necessita preparar-se melhor para lidar com esses confrontos – a começar pela obrigação óbvia de não iniciá-los”.
Manifestações de terça e quarta
Em Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina, ocorreu a maior manifestação desde as convocadas pela direita a favor do impeachment, e uma das maiores da esquerda desde há anos, onde o lema mais repetido foi “Fora Temer”. O jornal Notícias do Dia cita uma arquiteta que calculou a presença de 20 a 30 mil pessoas.
Em Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, o que mais se gritou foi “Fora Temer” e "vem para a rua vem que é contra o golpe". Os organizadores calcularam a presença em 15 mil pessoas. Uma primeira manifestação no dia 1 reunira 6 mil pessoas.
Em Curitiba, capital do Estado do Parná, o protesto envolveu 5 mil pessoas e foi o quarto realizado desde o impeachment (31 de agosto).
Nesta quarta, o Grito dos excluídos realizou manifestações em 39 cidades de 19 estados e o Distrito federal. O Grito dos Excluídos foi uma iniciativa da Pastoral Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e organiza-se desde 1995, com a participação de movimentos sociais como o MST. Este ano teve como lema “Este sistema é insuportável. Exclui, degrada, mata!”, inspirado nas palavras do Papa Francisco. Mas nas manifestações o que mais se gritou foi “Fora Temer”. À hora em que escrevemos este artigo, ainda não havia informações precisas da presença, mas a maior mobilização terá ocorrido em Salvador, onde os organizadores afirmam que participaram cem mil pessoas.
Nesta quinta, há nova manifestação na capital paulista.
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A ascenção do clamor popular
Quando as manifestações atingirem os milhões das massas do proletariado, o agente de wall street que ocupa a pasta da Economia se espantará diante do seu desafio lançado em tom de galhofa do tipo "quero ver eles colocarem um milhão nas ruas". Bom, estúpido e fora da realidade da vida real, como todo burguês, ele, hoje, já deu seu primeiro tiro no pé: enviou ao congresso o projeto de alteração da jornada de trabalho para 48h semanais, à mando dos grandes capitalistas lacaios do Império que aparelham as nossas instituições, até a polícia federal e setores do judiciário. Outros tiros no pé virão: a PEC do limite de gastos com educação e saúde, a reforma da previdência, etc, até que o monstro frankstemer caia, e seja um trambolho para os projetos de dominação da burguesia. Usarão, dessa vez, seus cãos de guarda, o alto comando das forças armadas, quando verem que a farsa judiciária já não convence mais.
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