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Brasil: São Paulo tem protesto gigante contra Temer

Cem mil tomaram as ruas da capital paulista contra o governo que consideram usurpador e pediram eleições gerais e “nem um direito a menos”. Sete organizações da esquerda socialista desfilaram numa coluna conjunta. Por Luis Leiria, do Rio de Janeiro,
A coluna do Bloco da Esquerda Anticapitalista reuniu sete organizações e foi um dos destaques da mobilização. Foto do MAIS
A coluna do Bloco da Esquerda Anticapitalista reuniu sete organizações e foi um dos destaques da mobilização. Foto do MAIS

Michel Temer referiu-se aos protestos ocorridos no Brasil desde a sua posse como sendo “40 pessoas a quebrar carros”. José Serra, ministro dos Negócios Estrangeiros, disse que as manifestações eram “mini, mini, mini”. E o governo de S. Paulo tentou proibir a manifestação convocada para o último domingo, argumentando que se chocava com a passagem da tocha dos Jogos Paralímpicos. Todas estas provocações acabaram por ter um efeito oposto ao pretendido e a manifestação de domingo na capital do estado mais rico do país, entre a avenida Paulista e o Largo da Batata, foi uma das maiores e mais combativas mobilizações da esquerda brasileira dos últimos anos.

Os organizadores falam em cem mil pessoas que gritaram a plenos pulmões “Fora Temer” e exigiram a realização de eleições para que o povo possa decidir quem deve governar e com que programa – já que Temer não foi eleito por ninguém e quer aplicar uma contra-revolução legislativa que ninguém referendou.

A manifestação foi convocada pela Frente Povo sem Medo e a Brasil Popular e teve o apoio de quase toda a esquerda socialista, exceto o PSTU (que a considerou um ato a favor da ex-presidente Dilma e por isso não compareceu). Houve manifestações de menor dimensão no Rio de Janeiro (5.000 pessoas), Curitiba (7.000) e Salvador (3.000).

40 ladrões”

Gilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e principal organizador, ironizou, no discurso que antecedeu o arranque da manifestação na avenida Paulista, que ali estavam os 40 manifestantes a que Temer se tinha referido. Nessa altura, já se encontravam no local muitas dezenas de milhares de pessoas. “Mas ainda que fossem mesmo só 40 manifestantes, era melhor estar do lado delas do que do lado de um governo de 40 ladrões”, asseverou Boulos, que de imediato apresentou os três objetivos da manifestação. “O nosso primeiro grito na avenida Paulista é ‘Fora Temer’”.

Momento em que a manifestação arrancou da aveinida Paulista. Foto do MTST

O outro grito, prosseguiu, “é nenhum direito a menos”, advertindo que o governo golpista “quer destruir os direitos sociais do nosso país, quer rasgar a Constituição de 88” com a proposta de emenda constitucional que pretende congelar os gastos e os investimentos públicos no Brasil. Também quer, denunciou o líder do MTST, “destruir os direitos trabalhistas e a Previdência, acabando com a CLT” (o Código do Trabalho], e também é contra os direitos das mulheres, dos negros e da população LGBT. “É um governo aristocrático contra o povo brasileiro”, assegurou. “O terceiro grito é que queremos eleições diretas”, porque “não reconhecemos a este Congresso nacional a legitimidade de decidir quem vai governar o Brasil”.

Bloco da esquerda anticapitalista

Um destaque importante desta manifestação foi que sete organizações da esquerda socialista organizaram uma coluna, atrás de um faixa que tinha inscrito “Fora Temer” e “eleições gerais já!”. As sete são: RUA (a corrente de juventude da Insurgência, do PSOL), MAIS (criado recentemente de uma ruptura do PSTU), APS, MES (a corrente de Luciana Genro, do PSOL), LSR, NOS, e 1º de Maio. A importante coluna, muito animada, causou impacto e deu confiança a quem procura criar uma força alternativa ao desastre que representaram para a esquerda os governos do PT.

“Essa é uma manifestação linda, de gente com coragem que não deixou se intimidar pela repressão dos últimos dias, pela violência, pela bestialidade da Polícia Militar. E que saiu às ruas para dizer Fora Temer. A esquerda está nas ruas, com a esquerda socialista presente. É uma manifestação dos incansáveis, dos irredutíveis, do que há de mais forte, poderoso e honesto da nação brasileira”, disse o historiador Valério Arcary, um dos dirigentes do MAIS.

Provocações da Polícia

A manifestação correu da melhor forma, alegre, combativa e pacífica até o final, quando os seus organizadores a encerraram. Foi no momento da dispersão que a Polícia Militar do governador Alckmin, do PSDB, resolveu atacar os manifestantes, usando gás lacrimogénio e balas de borracha contra grupos de pessoas que iam para casa, chegando a lançar bombas de gás para o Metro. Um repórter da BBC Brasil foi um dos agredidos pela tropa de choque, apesar de se ter identificado.

A arbitrariedade demonstrada – os jovens ficaram mais de 12 horas incomunicáveis, o que é contrário à lei – fez lembrar o episódio da prisão dos ativistas de Angola. 

Mais tarde soube-se que a polícia detivera 26 jovens, alguns menores de idade, por volta das 15h, antes mesmo de começar a manifestação, por se terem reunido com a finalidade de realizar ações que, no entender da polícia, seriam caracterizadas por atos de violência". A arbitrariedade demonstrada – os jovens ficaram mais de 12 horas incomunicáveis, o que é contrário à lei – fez lembrar o episódio da prisão dos ativistas de Angola. Só mais de 24 horas depois, já no início da noite de segunda-feira, um juiz decidiu libertar todos os jovens e criticou a ação da Polícia Militar: "O Brasil como Estado Democrático de Direito não pode legitimar a atuação de praticar verdadeira ‘prisão para averiguação’ sob o pretexto de que estudantes poderiam, eventualmente, praticar atos de violência e vandalismo em manifestação ideológica". A polícia acusava os jovens de pertencerem ao “Black Block”.

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Sobre o/a autor(a)

Jornalista do Esquerda.net
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