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Brasil: escritor é alvo de dezenas de processos coordenados pela IURD

A publicação de um tuíte satírico levou a que dezenas de membros da organização religiosa processassem Paulo Cuenca. A intimidação levou a Deutsche Welle a cancelar a rubrica do escritor.
João Paulo Cuenca. Foto via Casa de América, Flickr.

De acordo com a Folha de São Paulo, serão já 80 processos idênticos apresentados por padres da Igreja Universal do Reino de Deus em tribunais de 19 estados do Brasil contra o escritor Paulo Cuenca, pedindo indemnização por danos morais em valores que vão dos 10 mil aos 20 mil reais cada um (1.500 a 3.000 euros).

Na origem da ação de intimidação estará um tuíte satírico lançado pelo escritor em junho, parafraseando um texto de Jean Meslier, do século XVIII, onde Cuenca escreveu “brasileiro só será livre quando o último Bolsonaro for enforcado nas tripas do último pastor da Igreja Universal”.

No original de Jean Meslier pode ler-se: “o homem só será livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre”.

Cuenca afirma que os processos “são muito parecidos, são todos pastores da igreja, isso é uma ação coordenada, isso é litigância de má-fé. Essas pessoas estão usando o sistema jurídico do país para me constranger. Essa ação coordenada é um abuso do uso da justiça”.

A organização religiosa nega que exista qualquer coordenação na apresentação dos processos individuais por parte dos padres da organização. No entanto, contactada pela Folha, a organização remeteu declarações para o “departamento da instituição que responde pela assessoria de imprensa da igreja, e há orientações aos pastores de que remetam ao setor os pedidos de veículos de mídia”.

A estratégia não é nova. A própria Folha foi processada simultaneamente por 111 fiéis (a maioria, padres) da organização religiosa em 2007, após o jornal publicar uma reportagem da jornalista Elvira Lobato com o título “Universal chega aos 30 anos com império empresarial”. Nenhum dos processos foi considerado pelos tribunais.

Neste momento, dos processos lançados contra o escritor, a Procuradoria no Distrito Federal arquivou o requerimento de abertura de investigação com o escritor, argumentando tratar-se “do exercício da liberdade de expressão, que não pode ser tolhido por pessoas ignorantes que não têm capacidade de compreender uma hipérbole. A mensagem foi realizada no sentido figurado”, escreveu o procurador do caso, Frederico Paiva.

Por seu lado, a agência noticiosa alemã Deutsche Welle cedeu à intimidação, terminando a coluna quinzenal de Cuenca sob o argumento de que o tuíte do escritor contraria os princípios daquele órgão de comunicação social: “A Deutsche Welle repudia, naturalmente, qualquer tipo de discurso de ódio e incitação à violência. O direito universal à liberdade de imprensa e de expressão continua sendo defendido, evidentemente, mas ele não se aplica no caso de tais declarações”.

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