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Brasil: Bolsonaro na segunda volta com Lula

Eleições serão disputadas em 30 de outubro. Lula ficou a menos de dois pontos percentuais de vencer no 1º turno. Mas Bolsonaro conseguiu um resultado inesperado, muito acima do previsto pelas sondagens. Por Luis Leiria.
Lula na eleição deste domingo. Foto publicada na conta Instagram de Lula.

Além dos 43,21% que obteve, Bolsonaro elegeu uma grande quantidade de senadores e alguns governadores ligados ao seu governo logo no primeiro do turno. O surpreendente resultado de Bolsonaro, que nenhum instituto de sondagens previa, moraliza as hostes bolsonaristas e projeta um segundo turno muito disputado e com tensão até o fim.

Analisando por regiões do país, Lula ganha por pouco na região Norte, vence no Nordeste arrasadoramente (uma vantagem de 11 milhões de votos), mas perde por pouco no sudeste (região  que concentra o maior eleitorado do país, com São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro), e é derrotado no centro-oeste (do agronegócio) e no Sul. Na verdade, os brasileiros têm de agradecer aos sofridos nordestinos o facto de Bolsonaro não ter ganho a reeleição neste domingo.

O desastre de Ciro Gomes

Ciro Gomes, do PDT, na quarta candidatura presidencial, viu a sua votação derreter nos últimos dias e foi relegado para o quarto lugar, com pouco mais de 3%, ficando atrás da senadora Simone Tebet, do MDB. Foi a pior votação das suas quatro candidaturas, causada pelo voto útil mas também pelo seu comportamento na reta final da campanha, passando a atacar Lula como o inimigo principal e a aproximar-se de Bolsonaro. Para piorar as coisas, o candidato do PDT ao governo do Ceará ficou apenas em 3º lugar, suplantado pelo do PT, vencedor já no primeiro turno.

Nesta noite eleitoral, Ciro compareceu diante dos seus apoiantes e das TVs só para dizer que o resultado das presidenciais era um dos mais desafiantes de sempre, e que por isso lhes pedia mais um tempo para conversar com os seus assessores e amigos, antes de apresentar as suas conclusões, numa conferência de imprensa nesta segunda-feira.

Bolsonaristas mostram que vieram para ficar

O erro das sondagens não foi tanto o resultado de Lula. O ex-presidente tinha, quando 99,95% das secções eleitorais já estavam contabilizadas, 48,42% dos votos, ficando, assim, a 1,58 ponto percentual de vencer no primeiro turno. O erro mais dramático foi o de não terem previsto a avançada final de Bolsonaro, que obteve 43,21% dos votos, quando a previsão das sondagens era 36% ou 37%. Um resultado bem acima da margem de erro de 2% que os Institutos de pesquisa admitem.
Para além do resultado presidencial, os bolsonaristas demonstraram uma capacidade de resistência impressionante nos Estados.

O caso de São Paulo é emblemático. Num estado em que o PSDB sempre dominou, o vencedor foi o ex-ministro da Infraestrutura do governo Bolsonaro Tarcísio de Freitas, com 42% dos votos, contra os 35% de Fernando Haddad, que, apesar de suplantado por Tarcísio, obteve o melhor resultado de sempre do PT no Estado. De fora do segundo turno ficou Rodrigo Garcia, do PSDB, com 18%.

Tarcísio de Freitas foi uma invenção do presidente Bolosnaro para lançar um candidato a governo em São Paulo. Carioca, ele ficou conhecido pela gaffe de nem saber onde ia votar. “Num colégio”, respondeu, durante um debate, sem conseguir dar mais pormenores. Neste mesmo Estado, o senador eleito foi o ex-ministro da Ciência do governo Bolsonaro Marcos Freitas, conhecido por ser o único brasileiro que participou numa viagem espacial.

Quanto à eleição dos deputados federais, a onda bolsonarista mostrou já não ter a dimensão de antes: Eduardo Bolsonaro não conseguiu repetir a proeza de ser o mais votado deputado federal, perdendo cerca de metade da votação que obtivera em 2018 e ficando atrás de Guilherme Boulos, do PSOL, o mais votado, com um milhão de votos.

Ex-ministro da Saúde Pazuello eleito deputado

O exemplo mais dramático, porém, é o do Rio de Janeiro, onde vence o governo do Estado, já no 1º turno, o atual governador, Cláudio Castro, do PL de Bolsonaro. Castro assumiu o cargo há dois anos, substituindo o governador Wilson Witzel, afastado do governo por impeachment, por ser o líder de uma organização criminosa que fraudou contratos firmados pelo seu governo. Apesar de ser o vice de semelhante senhor, Cláudio Castro derrotou facilmente Marcelo Freixo, do PSB, por 58% a 27%. Para o senado, o eleito foi o ex-jogador da seleção nacional de futebol Romário que, com 29% dos votos, suplantou Alessandro Molon, do PSB (21%).

Mas o resultado mais inacreditável é a eleição do general Eduardo Pazuello, o ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, que ficou célebre pela sua incompetência justamente no período mais agudo da pandemia de Covid-19, marcada pela crise em Manaus, de falta de oxigénio para pacientes internados com covid-19 e pelo atraso na compra de vacinas. Ele foi o segundo mais votado do Estado do Rio de Janeiro.

Segundo turno será tenso

Não é preciso ser-se brilhante analista para perceber que a campanha para o segundo turno, que se realizará a 30 de outubro, será uma das mais tensas da história. Bolsonaro compreende que o facto de chegar ao segundo turno foi uma conquista que vai-lhe permite disputar a vitória com Lula. Não por acaso, depois de tantos ataques e insinuações ao sistema das urnas eletrónicas, o assunto não mais foi abordado. Afinal o resultado foi conseguido pelo sistema que ele tanto denunciou.

Nas suas declarações sobre os resultados, Bolsonaro disse que no segundo turno irá mostrar a política do governo federal diante da pandemia, citando dados da economia. Disse ainda ter vencido o que chamou de “mentiras” dos institutos de pesquisa.

Já Lula da Silva. nas primeiras declarações depois de  confirmado o resultado, disse que usará o que chamou de "segunda chance” para ampliar alianças e amadurecer propostas. “Isso para nós é apenas uma prorrogação,” concluiu.

 

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Jornalista do Esquerda.net
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