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Austrália: multinacional Rio Tinto irá destruir mais 124 locais arqueológicos aborígenes
A autorização do governo australiano para expandir a exploração de ferro na área foi concedida à Rio Tinto em 2013. Contudo, um ano mais tarde, as escavações reveleram um extenso património arqueológico que confirmou a presença humana continuada na região desde a última era do gelo.
Entre os vestígios encontrados incluem-se vários artefactos culturais e objetos sagrados. Mechas de cabelo entrelaçados permitiram analisar o ADN de várias pessoas, revelando que os povos que habitaram o local são antecessores diretos dos povos aborígenes Puutu Kunti Kurrama e Pinikura, que ainda hoje vivem na região.
As diferentes cavernas que compõem o complexo de Juukan foram unanimemente consideradas pela comunidade científica como da mais alta importância cultural e arqueológica, com pedidos oficiais dos povos aborígenes para a Rio Tinto abandonar os planos de destruição do local.
A Rio Tinto sustentou a sua decisão numa lei de 1972 que não permite que autorizações de exploração mineira sejam reconsideradas com base em novas informações, uma lei com o nome Aboriginal Heritage Act [Lei da Herança Aborígene], feita de propósito para proteger as explorações mineiras nestas situações. O Ministro dos Assuntos Aborígenes, Ben Wyatt, prometeu uma revisão da lei mas o local já estava destruído.
Agora, o inquérito público aberto para investigar a decisão da Rio Tinto expôs nova informação, apontando para planos da multinacional para destruir mais 124 locais aborígenes numa nova zona de exploração mineira, a menos de 100 quilómetros de Juukan.
A todo, existem 327 locais aborígenes na área, tendo a Rio Tinto obtido autorização para destruir 26 dos locais também ao abrigo da lei de 1972. Esta exploração será desenvolvida em parceria da Rio Tinto com o grupo chinês Baowu, e esperam obter 200 milhões de toneladas de minério de ferro apenas desse local.
Uma das arqueólogas da Yinhawangka Aboriginal Corporation, que está a tentar proteger este local, diz ao Guardian que estão dependentes da boa vontade da Rio Tinto para obter financiamento para o trabalho de arqueologia necessário para classificar e proteger estes locais, que poderão ter vestígios com pelo menos 27 mil anos.
O governo australiano parece não ter qualquer papel no processo, nem sequer na intermediação com os povos aborígenes que ainda vivem na região.
Um porta-voz da Rio Tinto disse que a empresa teria tomados medidas para “modernizar” a sua relação com os aborígenes, “com mais excevações a serem realizadas com o povo Yinhawangka, em paralelo com consultas etnográficas para aprofundar o entendimento da importância cultural e do valor atribuído a estes locais por parte do povo Yinhawangka”.
O geologista Cedric Davis diz ao Guardian que a Rio Tinto “comporta-se como a Companhia das Índias versão 2”, realizando “uma extração implacável e exportando os lucros”. E denunciou o tratamento privilegiado que as empresas mineiras recebem na região ocidental da Austrália, com o governo a deferir os pedidos de exploração sem dar tempo para consulta pública ou intervenção dos povos aborígenes. Quanto à nova legislação sobre a herança aborígene, diz que não irá corrigir o desequilíbrio contra aquele povo.
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