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Aumentam pedidos de criação de sindicatos nos EUA

A hostilidade das grandes empresas não está a ser suficiente para travar a onda de pedidos de criação de sindicatos que entraram recentemente, pela primeira vez, em empresas como a Apple, a Amazon e a Starbucks.
Pasquale Cioffi, dirigente do sindicato independente da Amazon, ALU, foi despedido pela Amazon recentemente.
Pasquale Cioffi, dirigente do sindicato independente da Amazon, ALU, foi despedido pela Amazon recentemente.

O National Labor Relations Board, o organismo federal norte-americano que supervisiona as práticas laborais e as relações entre sindicatos e empresas, registou em julho deste ano um aumento dos processos de pedido de criação de sindicatos de 58% num ano. Nos primeiros três quartos do passado ano fiscal tinham sido 1.197, no mesmo período deste ano alcançaram os 1.892.

A entidade pede agora mais financiamento para cumprir as suas funções que incluem a certificação destes pedidos que passam pela organização de votações em cada um dos locais de trabalho em causa.

É um aumento que confirma a existência de uma onda de sindicalização no país, apesar da oposição de muitas das grandes empresas que têm gasto fortunas na tentativa de impedir a criação de sindicatos. Starbucks, Apple e Amazon estão entre as empresas acusadas de práticas anti-sindicais agressivas e entre aquelas que viram os sindicatos entrar nos seus redutos pela primeira vez ao longo do último ano.

Em dezembro passado, pela primeira vez, os trabalhadores de uma loja Starbucks sindicalizaram-se, em Buffalo, e desde aí os pedidos chegaram em catadupa e as votações resultaram em que em cerca de 200 locais de trabalho já tenham sido criados ramos de sindicatos.

O Guardian dá conta de um dos últimos exemplos da “oposição agressiva” da Starbucks a este movimento de base: no início de junho, Austin Locke, um barista de Queens, Nova Iorque, queixou-se aos recursos humanos de um incidente com um gestor e depois da sua loja ter votado a favor da sindicalização acabou por ser despedido, acusado de não ter feito todos os procedimentos de segurança por causa da pandemia e do incidente de que se queixara não ser verdadeiro. Diz que o despedimento foi injusto e uma retaliação por se ter envolvido no esforço de sindicalização. A Starbucks nega mas este é apenas um das dezenas de queixas que a NLRB terá de analisar vindas de trabalhadores desta empresa.

Braços de ferro idênticos têm acontecido na Amazon, o segundo maior empregador dos EUA. Em abril, o sindicalismo entrou pela primeira vez num armazém norte-americano do comércio online, o de Staten Island, em Nova Iorque. Desde então, decorrem processos noutros armazéns da Carolina do Norte, Kentucky e de Nova Iorque.

Também aqui uma campanha anti-sindical decorre. Segundo o Engadget, o passo mais recente desta são mensagens digitais no local de trabalho a dizer “não assinem um cartão da ALU”, a Amazon Labor Union. Esta página especializada nas novas tecnologias mostra como isto está a ser feito pelo menos no armazém ALB1, na zona de Nova Iorque, em que passam sete diferentes mensagens “em constante loop enquanto as pessoas picam a entrada e a saída dos turnos” confirmou um trabalhador que disponibilizou as imagens.

Não é a primeira vez que a empresa recorre a mensagens deste género. Também os trabalhadores do armazém de Staten Island tinham sido bombardeados com este tipo de propaganda antes da sua votação, segundo a Vice. Receberam-na via folhetos, cartas, anúncios no Instagram e publicações no Facebooks, uma página criada para o efeito, vídeos, chamadas e mensagens de telemóvel e na aplicação da empresa. Até nas casas de banho estavam presentes. Para além disso, tiveram de comparecer a reuniões obrigatórias onde se passavam mensagens anti-sindicais como a de que os seus atuais salários ficariam em risco caso o seu local de trabalho votasse a favor da sindicalização ou a de que os sindicalistas eram bandidos. A gestão da campanha milionária ficou a cargo de consultores anti-sindicais profissionais.

E não se de propaganda se têm feito as práticas anti-sindicais da Amazon com relatos de despedimentos, retaliações várias e lançamento de boatos contra quem se envolve nas campanhas pela sindicalização.

Na Apple, a primeira loja foi sindicalizada em junho deste ano, em Maryland. E as denúncias de práticas anti-sindicais também existem. Para além disso, em março, em Nova Iorque, a primeira loja da cadeia dedicada a artigos desportivos e de campismo, REI, sindicalizou-se, apesar dos gestores insistirem que isso poderia fazer salários descerem e regalias desaparecerem. E outras empresas como as cadeias de mercearias Trader Joe, de comida Chipotle e de vestuário desportivo Lululemon têm processos a decorrer que poderão resultar na entrada do sindicalismo nestas empresas.

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