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AstraZeneca volta a cortar fornecimento de vacinas à UE

A farmacêutica anunciou que prevê entregar apenas um terço da quantidade acordada e um corte de 25% em relação ao que se tinha comprometido. José Gusmão diz que a estratégia europeia de vacinação converteu-se "num crime contra a humanidade”.
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Foto Tim Reckmann/Flickr

Os planos de vacinação na União Europeia sofreram mais um rude golpe esta sexta-feira, com o anúncio da AstraZeneca de que não irá cumprir a entrega das doses encomendadas para o primeiro trimestre do ano. Segundo a agência Reuters, um documento da farmacêutica partilhado com Bruxelas indica que apenas 30.1 milhões de doses serão entregues até ao fim de março e outros 20 milhões em abril.

As novas previsões da AstraZeneca ficam bem abaixo dos 40 milhões de doses prometidas para março pelo chefe da empresa, Pascal Soriot, aos eurodeputados numa audição a 25 de fevereiro. Mas o mesmo documento mostra que na véspera da audição, a farmacêutica já só contava entregar 34 milhões de doses à UE no primeiro trimestre.

A farmacêutica justifica o atraso com a dificuldade em transportar as vacinas na sua cadeia de produção global. Parte das doses prometidas supostamente viriam dos Estados Unidos, mas Washington já avisou Bruxelas que tão cedo não autorizará a exportação de vacinas.

Estratégia europeia “converteu-se num crime contra a humanidade”

Para o eurodeputado bloquista José Gusmão, os constantes atrasos na produção da vacina AstraZeneca para a União Europeia “mostram a insanidade de se ter financiado o desenvolvimento e garantido a compra de vacinas que são hoje propriedade privada”. Neste momento, acrescentou Gusmão ao Esquerda.net, “o governo português tem de aproveitar a circunstância de estar na presidência da União Europeia para colocar em cima da mesa uma completa alteração da estratégia Europeia para a vacinação”.

José Gusmão critica ainda que “enquanto uma parte considerável da capacidade de produção de vacinas está por utilizar, a UE e os EUA continuam a bloquear o pedido da Índia para suspender os direitos de propriedade industrial”. Tendo em conta que a Índia é o segundo produtor mundial de vacinas, esta “obstinação Europeia não é apenas falta de solidariedade, é um egoísmo irracional em que todos perdem, menos algumas farmacêuticas”, sublinha. Para o eurodeputado do Bloco, com a atual estratégia da Comissão liderada por Ursula Von der Leyen, a União Europeia “não produz nem deixa produzir”, pelo que se trata de “muito mais do que incompetência: converteu-se num crime contra a humanidade”.

Biden quer fazer do 4 de Julho o início da "independência do vírus"

Numa comunicação ao país esta quinta-feira, o presidente Joe Biden afirmou o objetivo de começar a “assinalar a nossa independência do vírus” no Dia da Independência, a 4 de julho. Para o conseguir, pretende que todos os 255 milhões de adultos norte-americanos estejam em condições de ser vacinados no início de maio. “Isso não significa que toda a gente terá a vacina imediatamente, mas que a partir de 1 de maio toda a gente se pode pôr na fila”, esclareceu Biden, citado pela Associated Press, prometendo também mobilizar mais quatro mil militares para o apoio à vacinação e entregar mais doses a 950 centros comunitários e 20 mil farmácias, além de criar um site a nível nacional para evitar que as pessoas “continuem dia e noite à procura de uma marcação”.

Apesar das queixas por não haver vacinas suficientes, tudo indica que Biden irá cumprir antes do prazo o seu objetivo de ter 100 milhões de pessoas vacinadas nos 100 primeiros dias do mandato. Esta semana, o presidente anunciou a encomenda de mais 100 milhões de doses da vacina de dose única da Johnson & Johnson, além do que já tinha sido encomendado à Pfizer e à Moderna, o que somaria doses mais do que suficientes para vacinar toda a população.

Entretanto, as autoridades de nove países europeus decidiram suspender a administração da vacina da AstraZeneca enquanto o regulador europeu do medicamento investiga se um lote específico pode estar relacionado com alguns casos de coagulação do sangue e embolias pulmonares. O lote em causa, de um milhão de doses, foi distribuído a 17 países europeus, refere a CNN.

África ultrapassa os quatro milhões de casos

Em contraste com os EUA, o processo de vacinação em África continua a registar um grande atraso. Apenas 22 países já começaram a receber as vacinas distribuídas pela plataforma Covax, somando ao todo menos de 15 milhões de doses, das quais apenas meio milhão foram administradas, segundo a OMS citada pela agência Lusa.

O mesmo atraso acontece em relação aos testes, com apenas 37 milhões de testes feitos numa população de 1.300 milhões de pessoas. A África do Sul continua a ser o epicentro da pandemia em África, com 38% dos 4 milhões de casos registados no continente. Desde o início da pandemia terão morrido 107 mil africanos por causa do novo coronavírus, o que representa 4% do total mundial de óbitos atribuídos à doença.

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