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Associações e figuras públicas repudiam "mensagem racista" de Ventura

O comunicado condena a "estratégia demagógica e populista de incitamento ao rancor contra as pessoas das comunidades ciganas" por parte do deputado do Chega.
Foto de Ana Mendes

Vinte e quatro associações e mais de uma centena de pessoas, entre as quais várias figuras públicas, subscrevem um comunicado de repúdio às “declarações de André Ventura e a sua estratégia demagógica e populista de incitamento ao rancor contra as pessoas das comunidades ciganas.”

A iniciativa surge depois das declarações de André Ventura ao jornal i, onde afirmou que “é preciso um plano de confinamento específico para a comunidade cigana”, utilizando como argumentos a existência de pessoas ciganas contaminadas pela covid-19 na região do Alentejo e uma manifestação que se realizou no fim-de-semana em Leirosa, Figueira-da -Foz, contra desacatos e vandalismo provocados, alegadamente, por um grupo de pessoas ciganas. O deputado quer entrar em diálogo com os partidos da direita para entregar uma proposta conjunta para um plano de confinamento específico para esta população.

A carta é assinada por figuras ciganas como a cineasta Leonor Teles, o político Carlos Miguel, o futebolista Ricardo Quaresma, e vários activistas ciganos, mas também por mais de uma centena de não ciganos, de várias áreas políticas e profissionais como Catarina Marcelino, Francisco Louçã, Marisa Matias, Luís Filipe Menezes, Isabel do Carmo, José Manuel Pureza, Ana Gomes, Teresa Leal Coelho, Helena Roseta, Pedro Bacelar de Vasconcelos, Sara Barros Leitão, Pedro Neves, entre outros. A nota de repúdio conta com a subscrição colectiva de vinte e quatro associações, entre as quais algumas representantes das comunidades ciganas, como a Letras Nómadas, Sílaba Dinâmica, Ribaltambição, ou a Associação Social Recreativa Cultural Cigana de Coimbra.

COMUNICADO O Jornal I na sua edição de 4 de maio de 2020, faz manchete com uma afirmação do Deputado André Ventura de...

Publicado por Bruno Gomes G em Quarta-feira, 6 de maio de 2020

Em 8 pontos a carta esclarece e desmonta as afirmações de André Ventura. Começando por esclarecer que todas as pessoas “ciganas e não ciganas, estão sujeitas à contaminação” pela covid-19, prossegue sublinhando que todas essas mesmas pessoas estão já “sujeitas às regras de confinamento”.

Mais à frente, a carta esclarece os argumentos utilizados pelo deputado como base para a sua proposta, o caso de cidadãos de etnia cigana contaminados pela covid-19 no Alentejo, que têm colaborado com as autoridades de saúde pública, quer nas regras de confinamento, quer na autorização para a realização de testes”, e a situação de Leirosa (Figueira da Foz), que são “atos de vandalismo que podem constituir crime, devendo as autoridades policiais e judiciais atuar em conformidade, independentemente da origem étnico-racial dos praticantes”.

Os subscritores acusam Ventura de violar “grosseiramente a Constituição da República Portuguesa” ao propor “discriminar uma comunidade pelas suas características étnico-raciais” e relembram o dever de todos os partidos de defender o Estado de Direito e que “obviamente não podem permitir discriminação de determinados grupos de cidadãos com base na sua origem”.

A carta termina acusando o partido CHEGA e o seu deputado de transmitirem uma "mensagem racista" ao insistirem num “ataque constante” a um grupo específico de portugueses, “com base nas suas características étnico-raciais, considerando-os a todos pessoas que não cumprem a lei e que são, um 'problema' para a sociedade portuguesa". Os subscritores rejeitam totalmente este tipo de atitudes.

Em declarações ao jornal PÚBLICO, Bruno Gonçalves, vice-presidente da Letras Nómadas, explica que não quiseram agir sozinhos e aliaram-se a outras associações de defesa dos direitos humanos como a SOS Racismo, a UMAR, a APAV, ou a Amnistia Internacional. “Temos que colocar um travão nisto. Hoje são os ciganos, amanhã são os negros, os membros do movimento LGBT, os imigrantes, os refugiados, os antifascistas”, diz o ativista.

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