Uma resolução sobre o estatuto de Jerusalém, recusando a declaração norte-americana de que a cidade é a capital de Israel, foi esta quinta-feira aprovada na Assembleia Geral da ONU, com 128 votos a favor, 9 contra, e 35 abstenções, apesar das ameaças claras do Presidente norte-americano, Donald Trump, de que cortaria a ajuda a quem votasse contra os EUA.
Para o presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, Mahmoud Abbas, “foi uma vitória para a Palestina”.
Porém, Trump encontrou uma solução numérica para conseguir clamar alguma vitória, sublinhando que “65 países recusaram condenar os Estados Unidos”. Não recusaram, simplesmente não estiveram lá ou recusaram pronunciar-se: além dos votos contra e abstenções, 21 países estiveram ausentes da votação. Já o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou que rejeita a resolução “ridícula” e saudou “o número crescente de países que se recusam a participar neste teatro do absurdo”.
Certo é que muitos dos “aliados ocidentais” e árabes de Washington, da Arábia Saudita ao Reino Unido, votaram a favor da proposta de resolução, contra Trump.
Os países que votaram contra foram, além de Israel, Guatemala, Honduras, Micronésia, Nauru, Togo, Palau, e as ilhas Marshall. Já entre as abstenções estiveram, entre outros, a República Checa, Polónia, Hungria, Croácia, Colômbia, República Dominicana, Austrália e Canadá.
A resolução foi apresentada pela Turquia e pelo Iémen, reafirmando as dez resoluções do Conselho de Segurança da ONU sobre Jerusalém, aprovadas desde 1967, e reiterando que o estatuto da cidade deve ser decidido em negociações entre israelitas e palestinianos. Na sua conclusão, pode ler-se que “quaisquer decisões e ações que aparentem ter alterado o caráter, estatuto ou composição demográfica da cidade santa de Jerusalém, não têm efeito legal, são inválidas, e devem ser revertidas”.
A resolução foi levada à Assembleia-Geral após o recente veto americano a uma resolução semelhante no Conselho de Segurança. Ao contrário do que aí acontece, na Assembleia Geral não há veto, porém, as resoluções também não são vinculativas.
Nikki Haley: "Os EUA vão tomar nota dos nomes" dos que aprovarem a resolução
“Na ONU, os Estados Unidos estão sempre a ser requisitados para fazer mais e dar mais. Por isso, quando tomamos uma decisão sobre onde ter a nossa embaixada, não esperamos que os países que nós temos vindo a ajudar nos ataquem. Os Estados Unidos vão anotar os nomes [dos que votarem contra os EUA]”, afirmou a embaixadora norte-americana nas Nações Unidas, Nikki Haley, momentos antes da votação, tornando clara a estratégia de chantagem dos EUA.
A informação, ou ameaça, foi também expressa numa carta enviada pela embaixadora a delegações de vários países, incluindo europeus, acrescentando que para Trump esta era uma questão pessoal.
Já Donald Trump disse que caso existissem muitos votos a favor, os EUA iriam "poupar muito”, dando a entender que cortaria a ajuda aos países que votassem a favor da resolução. “Eles ficam com centenas de milhões de dólares, até mais, e depois votam contra nós”, disse Trump aos jornalistas, na Casa Branca, esta quarta-feira. “Deixem-nos votar contra nós. Vamos poupar imenso”, rematou.