Argélia: Louisa Hanoune condenada a 15 anos

26 de September 2019 - 11:08

No mesmo processo, foram condenadas figuras gradas do regime Bouteflika, como o conselheiro e irmão do ex-presidente Saïd Bouteflika, acusados de “complot contra a autoridade do Estado”. Advogado da secretária-geral do PT vai recorrer. Por Luis Leiria.

porLuís Leiria

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Luisa Hanoune foi a primeira mulher a candidatar-se à Presidência da República na história da Argélia. Foto do PT
Luisa Hanoune foi a primeira mulher a candidatar-se à Presidência da República na história da Argélia. Foto do PT

Louisa Hanoune, secretária-geral do Partido dos Trabalhadores (PT) da Argélia, foi condenada a 15 anos de prisão por um tribunal militar de Blida, 50 quilómetros a sul de Argel. A dirigente do PT, deputada desde 1997, foi a primeira mulher candidata à Presidência da República da história da Argélia.

Em dois dias, e sem acesso do público nem da imprensa ao julgamento, onde estiveram presentes apenas os advogados de defesa, o tribunal considerou-a culpada de “atentado à autoridade militar” e “complot contra a autoridade do Estado”. Um forte dispositivo militar foi montado em torno do tribunal.

Louisa Hanoune foi condenada junto com figuras gradas do regime do ex-presidente Abdelaziz Bouteflika: o irmão, Saïd Bouteflika, “eminência parda” do regime, considerado o presidente de facto desde que Abdelaziz sofreu um AVC, e os generais Mohamed Mediene, conhecido como “Toufik”, que dirigiu durante 25 anos os serviços secretos, e Athmane Tartag, que lhe sucedeu. O general Khaled Nezzar, antigo homem forte durante os anos 90 e o seu filho Lofti foram condenados à revelia a 20 anos. Ambos fugiram do país.

Mistura infamante

A mistura de Louisa Hanoune, que nunca fez parte do regime Bouteflika, com alguns dos seus principais – e odiados – representantes é infamante para a dirigente da esquerda e mostra uma tentativa do atual homem forte do regime, o chefe do Exército general Ahmed Gaïd Salah, de dividir a oposição e enfraquecer aqueles que se opõem às eleições convocadas para dezembro sem garantias democráticas.

A acusação afirma que no dia 27 de março deste ano, Saïd Bouteflika e “Toufik” se encontraram para discutir uma transição política que mantivesse o poder do clã Bouteflika depois da iminente demissão deste, pressionado pelas manifestações de rua. Tiveram então a ideia de entregar a transição ao ex-presidente Liamine Zeroual e, se este aceitasse, a Presidência anunciaria então o afastamento de Gaïd Salah do seu posto de chefia do Exército.

Na tarde desse dia, Saïd Bouteflika convida Louisa Hanoune para a reunião. Esta, segundo os seus advogados, convocada pelo conselheiro presidencial, compareceu para apresentar as suas opiniões políticas e propostas para a resolução da crise. Louisa reiterou as posições do seu partido que propunha um processo constituinte, a dissolução do Parlamento e a demissão do governo. Os advogados negam que na reunião em que a dirigente do PT esteve presente se tivesse discutido qualquer complot, até porque nem se falou do afastamento de Gaïd Salah da chefia do Exército, porque “Toufik” não estava de acordo.

Defesa vai apresentar recurso

Numa declaração ao site TSA, o advogado afirmou que “a senhora Hanoune defendeu-se bem e negou todas as acusações. Falou tão bem que o presidente do tribunal observou que ela não me deixou nada para dizer”.

O advogado garantiu que a defesa vai apresentar recurso. “O que ela fez entra no quadro da sua atividade política e não se pode criminalizar a ação política. Ela não se desviou da sua missão e apenas expressou a sua opinião ao conselheiro do presidente Bouteflika, nem mais, nem menos.”

Luís Leiria
Sobre o/a autor(a)

Luís Leiria

Jornalista do Esquerda.net