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“Apresento-me como resposta a esta crise”

Na entrevista desta quinta-feira no primeiro canal generalista, a candidata presidencial falou sobre a crise social e económica, as respostas necessárias nos serviços públicos e direitos sociais, a formação de um governo dependente da extrema-direita na Região Autónoma dos Açores, defendeu a TAP como ferramenta de resposta à crise e mostrou confiança no plano nacional de vacinação. Criticando o silêncio “ruidoso” de Marcelo Rebelo de Sousa após a morte de Ihor Hommenyuk às mãos do Estado, defendeu que uma mensagem de condolências não coloca em causa uma investigação policial.
Em 2015, relembra, “estávamos a sair da crise e havia um instrumento político que estava a permitir fazer um combate contra a austeridade com as forças de esquerda a procurarem entendimentos”, referindo-se aos acordos políticos entre Bloco, PCP e Partido Socialista para a legislatura passada.
Na atual crise social e económica, “devemos ser fiéis aos princípios que defendemos”. “”Posso contribuir com esta candidatura para mostrar que há uma resposta para salvar o Serviço Nacional de Saúde”, e uma resposta “na luta contra a precariedade”.
“Nestas eleições joga-se por alternativas ao que estamos a viver. Apresento-me como resposta a esta crise que estamos a viver nos serviços públicos, e espero que esta proposta presidencial tenha a maior representação possível”, afirma a candidata.
Marisa não daria posse a um governo dependente da extrema-direita
Questionada sobre a crítica que lançou ao Presidente da República por este ter aceite, sem procurar alternativas, a proposta de governo dependente da extrema-direita na Região Autónoma dos Açores, Marisa esclarece que a avaliação do Presidente da República às propostas que lhe são apresentadas também é política.
“A única tentativa que houve [de formação de governo], e à qual foi dada crédito por parte do Presidente da República, foi uma tentativa de governo com um partido que não corresponde à Constituição”. Não aceitando a proposta, “não seria a primeira vez que haveria um governo minoritário”, relembra.
Mas não era esta a única solução constitucionalmente possível? Marisa relembrou que Marcelo Rebelo de Sousa, enquanto constitucionalista, disse que “eram perfeitamente constitucionais orçamentos da troika que o Tribunal Constitucional veio depois considerar inconstitucionais”.
Por isso, explica, “a avaliação do Presidente da República, mais do que constitucional, é política”. “Eu não teria o comportamento do Presidente da República nem o PSD pode achar que a única forma de chegar ao governo é com ficar dependente da extrema-direita”, explica.
TAP deve ser “um instrumento para a nossa recuperação económica”
Depois de tudo o que foi investido na TAP, “não ganharemos nada em ficar com uma empresa reduzida, menorizada, onde investimos dinheiro público para depois a transformar numa adenda da Lufthansa”.
“Temos de pensar bem sobre a natureza de uma companhia como a TAP” e, por isso, acredita que a transportadora é fundamental para a soberania do país, e que esta deve ser “um instrumento para a nossa recuperação económica”. E isso quer dizer uma transportadora adaptada “às alterações climáticas”, um instrumento de “coesão territorial” e de “contacto entre as comunidades de portugueses no mundo”.
Sobre a imposição de redução de postos de trabalho no plano de reestruturação do governo, considera “não estar provada” a sua necessidade. E não acredita que “a resposta à crise económica seja o maior despedimento coletivo de 3 mil trabalhadores”, trabalhadores qualificados “e absolutamente necessários para a recuperação económica do país”.
No caso de Ihor, o silêncio de Marcelo é “ruidoso”
“Numa questão tão sensível, toda a gente tentar interferir não ajuda à resolução do caso. E neste assunto, as mesmas pessoas que estão a falar tão alto são as mesmas que estiveram caladas na altura”, disse Marisa Matias.
“O Presidente da República não disse uma palavra”, relembrou. E se, em março, não havia relatório com conclusões do inquérito, “já sabíamos que havia um imigrante que tinha tentado entrar em Portugal e que tinha morrido às mãos do Estado”, não havendo por isso necessidade de mais informação para “expressar condolências à família” logo em março. “Expressar condolências não interfere com uma investigação policial. Esse silêncio é ruidoso”.
Covid-19: devemos dar um voto de confiança ao plano de vacinação
Marisa deixou uma mensagem de confiança no plano de vacinação para a covid-19. “Não acredito que se colocasse vacinas à disposição das pessoas se houvesse risco de que elas não eram seguras”, e não deixará de criticar o plano caso não esteja à altura das necessidades.
E questionada sobre a possibilidade de requisição de serviços ao setor privado da saúde, Marisa relembra que a requisição “está prevista em todos os diplomas” do estado de emergência, “bem como na nova Lei de Bases da Saúde”, aprovada em 2019 no seguimento da proposta do Bloco de Esquerda.
“Não podemos aceitar de nenhuma forma que, na situação mais crítica que estamos a viver na saúde pública, que os privados achem que é uma oportunidade de negócio”. “Se os privados prestarem os serviços a preço de custo, ninguém lhes estará a retirar rendimento justo pelo trabalho que estão a fazer”, afirma.
“Quando precisamos de um esforço nacional, temos 19 milhões de horas extraordinárias por pagar e depois tratamos os privados de forma diferente? O Estado deve pagar aos privados sob o preço de custo, e os privados devem estar envolvidos neste esforço nacional, mas não para fazer negócio”, explica.
Relativamente às restrições definidas pelo estado de emergência, “se nos dizem que reduzir os contactos e circulação nos podem ajudar a salvar vidas, acho que devemos fazê-lo. Com um número de mortes muito elevado, é razoável”, afirma Marisa.
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