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António Mexia e Luís Amado: o Bloco Central à frente da gestão da EDP

Ex-ministro de Santana Lopes, António Mexia, vai ser reconduzido no cargo de CEO pelos acionistas da EDP. Luís Amado, ex-ministro do Governo de José Sócrates e ex-presidente do BANIF,  será o novo presidente do Conselho Geral e de Supervisão da EDP, substituindo o ex-ministro de Cavaco Silva, Eduardo Catroga.
António Mexia, presidente executivo da EDP, 3 de março de 2016 - Foto de José Sena Goulão/EDP

Esta segunda-feira, os principais acionistas da EDP informaram, através de um comunicado divulgado pela CMVM, que na próxima Assembleia Geral de 5 de abril, vão propor que António Mexia seja reconduzido no cargo de CEO da empresa e que Luís Amado suceda a Eduardo Catroga como presidente do Conselho Geral e de Supervisão do grupo.

Estes dois homens, que merecem a confiança dos detentores maioritários da maior elétrica portuguesa, a China Three Gorges (detida pelo Estado chinês), a Oppidum Capital, a Senfora (detida pelo Estado de Abu Dhabi), o Fundo de Pensões do Grupo Millenium BCP e a Sonatrach (detida pelo Estado argelino), são o retrato fiel da história de uma empresa que, desde as várias etapas do processo de privatização, sempre gravitou em torno do Bloco Central de interesses.

O ex-ministro de Santana Lopes que ganha 7000 euros por dia

Em 2015, António Mexia ganhou 2,17 milhões de euros (média de 5.945 euros por dia), o que na altura representou um aumento de 89% em relação a 2014.

Em 2016, e mediante a aprovação de uma nova política de remunerações na EDP, “o montante máximo potencial a atribuir ao presidente do Conselho de Administração Executivo” passou de 1,9 para perto de 2,6 milhões de euros por ano, o equivalente a mais de sete mil euros por dia.

No mesmo dia em que viu o seu salário aumentado, António Mexia veio opor-se a que o alargamento da tarifa social, destinado às famílias mais carenciadas, seja pago pelos lucros da EDP.

Recorde-se que a empresa do setor energético deu ao grupo China Three Gorges 576 milhões de euros em dividendos em quatro anos, uma média de 144 milhões por ano e de 395 mil euros por dia.

António Mexia chega à presidência da EDP em 2005 depois de integrar o governo de Pedro Santana Lopes como ministro das Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, o mesmo que lançou o Decreto-Lei 240/2004 que, no âmbito da política de privatização da energia no quadro europeu, lançou os contratos CMEC em substituição dos anteriores Contratos de Aquisição de Energia (CAE).

O diploma conferiu às empresas o direito a receber uma compensação, destinada a garantir "a obtenção de benefícios económicos equivalentes [aos dos CAE] que não sejam adequadamente assegurados através das receitas expectáveis em regime de mercado.”

Em 2013, Comissão Europeia concluiu que, entre 2007 e 2011, os CMEC pagos à EDP ascendiam a 1500 milhões de euros. Foi com base neste processo de negociação de "benefícios económicos” e pelo alargamento da concessão das barragens, que António Mexia acabaria indiciado por corrupção pelo DCIAP a 2 de junho de 2017.

Luís Amado: o “socialista” com um imbatível currículo ao serviço de todos os interesses poderosos

Luís Amado foi ministro da Defesa em 2005 e 2006 e, em julho de 2006, substituiu Freitas do Amaral, tornando-se então ministro dos Negócios Estrangeiros, cargo que manteve até às eleições legislativas antecipadas em junho de 2011.

É membro do Partido Socialista e pertenceu ao seu secretariado nacional no tempo da liderança de José Sócrates. Antes de chegar a ministro, foi deputado do Partido Socialista e secretário de Estado em Governos liderados por António Guterres.

Destacou-se por ter defendido a guerra do Iraque. Em 2003 contestou vivamente a oposição do PS de Ferro Rodrigues à Guerra do Iraque e defendeu que o governo português de Durão Barroso tinha agido corretamente nessa matéria.

Segundo documento divulgado pela Wikileaks, Luís Amado prometeu em 2006 ao embaixador dos Estados Unidos em Lisboa pressionar Sócrates para o uso das Lajes no repatriamento dos prisioneiros de Guantánamo. Na altura, Amado referiu também ao embaixador a necessidade de “controlar” o PS.

A 17 de fevereiro de 2012, o BANIF anunciava que a Rentipar Financeira, a SGPS acionista maioritária do banco, decidiu propor à assembleia geral do grupo financeiro uma nova lista para a sua administração, com Luís Amado como Presidente do Conselho de Administração e Jorge Tomé como Presidente da Comissão Executiva do BANIF. Luís Amado manteria o cargo até à venda do banco insular ao Santander.

Agora, vai substituir o ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva, Eduardo Catroga, no cargo de Presidente do Conselho Geral e de Supervisão da EDP, cujo ordenado fixo é de 515 mil euros.

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