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Angola: Violenta repressão policial no 45º aniversário da independência

Foram confirmados diversos feridos e detidos na manifestação realizada em Luanda. A polícia do regime de João Lourenço continua a perseguição e a repressão brutal das pessoas pelas ruas de Luanda. Jovem ativista Nito Alves foi ferido gravemente, Luaty Beirão foi detido.
Manifestação em Luanda, que foi violentamente reprimida pela polícia do regime de João Lourenço - Foto que ativistas angolanos publicaram no facebook
Manifestação em Luanda foi violentamente reprimida pela polícia do regime de João Lourenço - Foto publicada por ativistas angolanos no Facebook

Milhares de pessoas juntaram-se para se manifestarem esta quarta-feira em Luanda, “Pela cidadania, pelo fim do elevado custo de vida e por autárquicas em 2021, sem rodeios”.

O protesto foi convocado pelo Movimento Revolucionário e pela Cidadania, tal como tinha acontecido na marcha pela cidadania de 24 de outubro passado, também duramente reprimida.

O desfile foi marcado para esta quarta-feira, 11 de novembro, dia em que se comemoram os 45 anos da Independência de Angola e foi proibido pelo Governo Provincial de Luanda.

Lando Miguel Lundoloki Domingos assassinado no dia 11 de novembro de 2020

Segundo o “Novo Jornal”, os manifestantes concentraram-se nas imediações do Cemitério de Santa Ana, em Luanda, mas foram forçados pela polícia a deslocarem-se para a zona do Palanca – zona do Shoprite.

Antes da repressão, os manifestantes gritaram “Mudança”, “Nova Independência”, “Não à Violência” e “o povo unido jamais será vencido”, como se pode ver neste vídeo, publicado na página do facebook do dirigente do Bloco Democrático de Angola, Filomeno Vieira Lopes.

A polícia, a brigada antimotim e a brigada canina usaram gás lacrimogéneo, perseguiram e reprimiram violentamente as pessoas que se manifestavam. O “Novo Jornal” refere também que a PIR (polícia de intervenção rápida) efetuou diversos disparos, para dispersar os manifestantes.

O jovem ativista Nito Alves foi gravemente ferido e Lando Miguel Lundoloki Domingos foi assassinado com um tiro na cabeça.

Terror em Luanda

Jovem ativista Nito Alves gravemente ferido em Luanda, 25 de novembro de 2020 – Foto de ativista angolano, publicada no facebook
Jovem ativista Nito Alves gravemente ferido em Luanda, 25 de novembro de 2020 – Foto de ativista angolano, publicada no facebook

Em declarações à Lusa, o ativista Bene(Dito) Dalí denuncia a atuação violenta do regime: "Uma situação de terror que estamos a viver aqui, um verdadeiro estado político, que este regime institucionalizou neste país, que não permite que as pessoas se manifestem livremente face ao descontentamento".

Questionado pela Lusa sobre as acusações da polícia angolana, sobre supostos atos de desordem cometidos pelos manifestantes, Dito Dalí afirma: "Sempre nos acusaram de desordem, de queimas de pneus, o que não é verdade, sabemos que a polícia tem estado a infiltrar agentes nas manifestações para criar desordem e distúrbio, para depois imputar responsabilidades aos manifestantes".

Luaty Beirão detido quando transmitia em direto pelo facebook

A agência Lusa noticia que Luaty Beirão recebeu ordem de detenção da polícia do regime de João Lourenço, quando fazia reportagem em direto, na sua página do facebook.

No vídeo, transmitido em direto na página de Luaty Beirão no facebook, o ativista vai conversando e criticando a atuação policial: "O país não tem dono, as ruas não têm dono, a gente quis acreditar que havia alguns espaços a serem dados, e há alguns espaços a serem dados, não pode é haver aceitação que esses espaços sejam retirados, esses recuos é que não podem ser tolerados, porque se recuas um passo, eles vão querer que recues 10, e depois quando te meterem o pé na garganta, podes-te queixar que 'I can't breathe', o resultado é George Floyd", disse.

E acrescenta: "O que já se conquistou não se retira, senhor Presidente, senhor Procurador-Geral da República, senhor comandante, Angola não é vossa, não é minha nem das pessoas que aqui estão comigo, é de todos". A transmissão é interrompida pela ordem de prisão de um polícia angolano.

Correspondente da Reuters agredido pela polícia angolana

A agência Lusa revela também que o correspondente da Reuters em Angola foi agredido pela polícia, que lhe destruiu o material de reportagem, foi detido, mas rapidamente libertado.

"Estava identificado, mostrei o meu passe, levantei as mãos, mesmo assim eles partiram para a agressão, quase partiam a câmara e detiveram-me por alguns minutos", disse Lee Bogotá, que ficou com marcas no corpo devido às agressões.

Lee Bogotá disse à Lusa que estava no meio da manifestação, tentou falar com os polícias e depois começou a ser atacado, tendo ficado sem as câmaras fotográfica e de vídeo e o microfone.

 
Segundo informação veiculada pelas autoridades policiais, não foi confirmada a morte noticiada durante o dia de 11 de novembro e os presos foram esta quinta-feira libertados. 
 
Notícia atualizada às 15h10 de 12 de novembro de 2020
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