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Angola: Sindicato de Jornalistas denuncia prisões nas manifestações de “cabeludos”
Um grupo de estudantes tinha marcado uma manifestação para este sábado de manhã, em Luanda, na zona do Cemitério da Santana, pelo direito de usar o cabelo crespo nas escolas. A polícia impediu a manifestação, sob o pretexto de que não tinha sido autorizada na véspera por ausência de números de identificação no pedido oficial, deteve 14 participantes e um jornalista, tendo-os libertado nesse mesmo dia.
Borralho Ndomba, jornalista da Deutsche Welle, cobria o evento em direto e entrevistava alguns dos estudantes no local quando foi obrigado a parar o seu trabalho, viu serem-lhe apreendidos a sua carteira e telefone. Quando questionou a situação, foi levado para a esquadra.
Em comunicado, o Sindicato dos Jornalistas Angolanos repudiou “veementemente” a ação policial e diz que não é caso único. O organismo sindical fala em sucessivas detenções, em “abuso de autoridade” e desafia as autoridades a esclarecer se “à luz da Constituição da República e da Lei de Imprensa” será necessária “autorização para cobrir quaisquer manifestações”.
Esta ação de protesto juntava estudantes, encarregados de educação e professores e tinha sido marcada pelo Movimento dos Estudantes Angolanos depois de, nas últimas semanas, vários estudantes terem sido proibidos de frequentar escolas por terem o cabelo crespo.
O DW dá conta das opiniões de alguns dos manifestantes sobre o tema. Um professor presente na marcha declarou que esta proibição é racista porque o “nosso cabelo é nossa identidade cultural” e trazia nas mãos um cartaz precisamente com esta mensagem: “meu cabelo, minha identidade. Cabelo 'black' importa”.
Um jovem presente, Dig Paihama, disse, por seu turno, que as autoridades “têm medo” dos “cabeludos” mas assegura que “de acordo com a Constituição, nós não violamos nada” e que também “nada nos impede de manifestar”. Para ele, os governantes “esqueceram que somos africanos e temos uma identidade", disse o jovem angolano que incentiva os filhos usarem o cabelo crespo.
E o presidente do MEA, Francisco Teixeira, denunciou várias agressões aos estudantes que apenas estavam no local, não tendo resistido: “estamos tristes e insatisfeitos com a postura da polícia. Eram apenas crianças que queriam manifestar, não percebo porquê tamanha brutalidade”.
Ao Correio de Kianda, o dirigente associativa insiste no direito à “africanidade”, a manter esta “forma de expressar identidade e beleza enquanto africanos” e diz que alguns diretores escolares estão a criar regulamentos internos que violam a lei de bases da educação e a Constituição e o Governo não age sobre isto. Denunciou ainda que houve alunos “obrigados a cortar o cabelo à máquina zero” e que há algumas crianças de 11, 12 anos, que estão “há um mês” sem ir às aulas por usarem cabelo crespo.
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