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Angola: Sindicato de Jornalistas denuncia prisões nas manifestações de “cabeludos”

Várias escolas têm proibido alunos com cabelo crespo de frequentar aulas. Os manifestantes pretendiam reivindicar a sua identidade mas a polícia impediu o protesto.
Foto de um protesto anterior do MEA. Foto: Facebook.
Foto de um protesto anterior do MEA. Foto: Facebook.

Um grupo de estudantes tinha marcado uma manifestação para este sábado de manhã, em Luanda, na zona do Cemitério da Santana, pelo direito de usar o cabelo crespo nas escolas. A polícia impediu a manifestação, sob o pretexto de que não tinha sido autorizada na véspera por ausência de números de identificação no pedido oficial, deteve 14 participantes e um jornalista, tendo-os libertado nesse mesmo dia.

Borralho Ndomba, jornalista da Deutsche Welle, cobria o evento em direto e entrevistava alguns dos estudantes no local quando foi obrigado a parar o seu trabalho, viu serem-lhe apreendidos a sua carteira e telefone. Quando questionou a situação, foi levado para a esquadra.

Em comunicado, o Sindicato dos Jornalistas Angolanos repudiou “veementemente” a ação policial e diz que não é caso único. O organismo sindical fala em sucessivas detenções, em “abuso de autoridade” e desafia as autoridades a esclarecer se “à luz da Constituição da República e da Lei de Imprensa” será necessária “autorização para cobrir quaisquer manifestações”.

Esta ação de protesto juntava estudantes, encarregados de educação e professores e tinha sido marcada pelo Movimento dos Estudantes Angolanos depois de, nas últimas semanas, vários estudantes terem sido proibidos de frequentar escolas por terem o cabelo crespo.

O DW dá conta das opiniões de alguns dos manifestantes sobre o tema. Um professor presente na marcha declarou que esta proibição é racista porque o “nosso cabelo é nossa identidade cultural” e trazia nas mãos um cartaz precisamente com esta mensagem: “meu cabelo, minha identidade. Cabelo 'black' importa”.

Um jovem presente, Dig Paihama, disse, por seu turno, que as autoridades “têm medo” dos “cabeludos” mas assegura que “de acordo com a Constituição, nós não violamos nada” e que também “nada nos impede de manifestar”. Para ele, os governantes “esqueceram que somos africanos e temos uma identidade", disse o jovem angolano que incentiva os filhos usarem o cabelo crespo.

E o presidente do MEA, Francisco Teixeira, denunciou várias agressões aos estudantes que apenas estavam no local, não tendo resistido: “estamos tristes e insatisfeitos com a postura da polícia. Eram apenas crianças que queriam manifestar, não percebo porquê tamanha brutalidade”.

Ao Correio de Kianda, o dirigente associativa insiste no direito à “africanidade”, a manter esta “forma de expressar identidade e beleza enquanto africanos” e diz que alguns diretores escolares estão a criar regulamentos internos que violam a lei de bases da educação e a Constituição e o Governo não age sobre isto. Denunciou ainda que houve alunos “obrigados a cortar o cabelo à máquina zero” e que há algumas crianças de 11, 12 anos, que estão “há um mês” sem ir às aulas por usarem cabelo crespo.

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