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Amnistia pede ação urgente devido a chacina no Brasil

Organização de direitos humanos lança petição exigindo uma “investigação urgente, minuciosa e imparcial” ao crime que vitimou 14 pessoas numa festa na cidade de Fortaleza. Em 2015, houve mais homicídios no Brasil que na guerra da Síria.
A “chacina do Ceará” já é a maior ocorrida no Estado, e supera a emblemática matança de junho de 1993 na praça da Candelária, no Rio de Janeiro – Foto do local da chacina
A “chacina do Ceará” já é a maior ocorrida no Estado, e supera a emblemática matança de junho de 1993 na praça da Candelária, no Rio de Janeiro – Foto do local da chacina

A Amnistia Internacional lançou um pedido de ação urgente motivado pelo assassinato de 14 pessoas numa festa realizada no bairro de Cajazeiras, na cidade de Fortaleza, Ceará, Brasil. A organização pede o apoio a uma petição, dirigida às autoridades brasileiras, para que seja garantida uma “investigação urgente, minuciosa e imparcial sobre as circunstâncias dos homicídios” e que “leve aqueles suspeitos de responsabilidade criminal a um julgamento justo perante a Justiça”. A petição apela ainda para que sejam tomadas medidas “para garantir uma assistência efetiva às famílias das vítimas” e que se garanta a “proteção imediata às testemunhas do tiroteio com o objetivo de impedir qualquer tipo de intimidação ou ameaças”.

Maior que a da Candelária

A “chacina do Ceará” já é a maior ocorrida no Estado, e supera a emblemática matança de junho de 1993 na praça da Candelária, no Rio de Janeiro, quando oito jovens moradores de rua foram assassinados. No Ceará, homens armados irromperam no “Forró do Gago” e atingiram mortalmente oito mulheres e seis homens, aparentemente de forma aleatória, na sua maioria jovens: três das mulheres tinham 15, 17 e 19 anos. Outras nove pessoas ficaram feridas e tiveram de ser hospitalizadas.

Dois dias depois, um conflito entre presos da penitenciária de Itapajé, a 125 km de Fortaleza, deixou 10 mortos. Os dois massacres estão a ser interpretados como mais um capítulo da luta que travam duas fações de traficantes de drogas pelo controlo do estado do Ceará. O filho de uma das vítimas disse ao portal G1 que já tinha havido avisos de que iam invadir a casa noturna. “Até que chegou um momento em que eles vieram e fizeram o que disseram". Segundo o portal, o “Forró do Gago” é frequentado por integrantes do Comando Vermelho (CV) e os assassinos seriam da fação Guardiões do Estado (GDE). Na penitenciária de Itapajé, teria ocorrido a vingança por parte do CV, e os presos assassinados seriam do GDE.

Segundo Luiz Fábio Paiva, professor da Universidade Federal do Ceará e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência, a hegemonia do tráfico no estado é disputada por uma aliança entre o Comando Vermelho e a Família do Norte, de um lado, e pelos Guardiões do Estado, que receberiam o apoio do Primeiro Comando da Capital (PCC), hegemónico em S. Paulo. O investigador considera que o poder público é “completamente ineficaz no enfrentamento dessa situação”.

Mais homicídios que na Síria

Essa guerra sangrenta coloca o Ceará entre os estados que apresentam os piores índices de violência do Brasil. Segundo o Atlas da Violência 2017, divulgado em junho do ano passado, o estado tem a terceira mais alta taxa de homicídios: 46,75 por 100 mil habitantes, apenas superado por Sergipe (58,09) e Alagoas (52,33). São Paulo tem a taxa mais baixa: 12,22.

Entre as capitais, em Fortaleza há a segunda maior taxa de homicídios, com 66,72 por 100 mil habitantes, perdendo somente para São Luís do Maranhão, com 70,58.

O Atlas da Violência revela que em 2015 houve no Brasil 59.080 homicídios, um número superior ao da Síria no mesmo ano, quando morreram 55.219 pessoas no conflito que arrasa o país, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos.

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