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Amnistia denuncia exploração nas obras do Mundial 2022 no Qatar

Os trabalhadores imigrantes que contribuem para as obras de preparação do Mundial de futebol de 2022 no Qatar são vítimas de abusos sistemáticos e, em alguns casos, até trabalho forçado.
Estádio Internacional Califa - Foto Martin Belam / flickr

A Amnistia Internacional (AI) divulgou nesta quinta-feira, 31 de março de 2016, um relatório intitulado "O lado obscuro do desporto rei: Exploração laboral na sede do Mundial do Qatar 2022". (ver notícia da Amnistia Internacional Portugal).

No documento a AI faz críticas à Fifa pela sua "escandalosa indiferença diante do péssimo tratamento dado aos trabalhadores imigrantes" no país asiático.

O relatório foi produzido a partir de entrevistas realizadas com 132 imigrantes que trabalham na construção do Estádio Internacional Califa, o primeiro dos estádios que deverá ficar pronto para o Campeonato do Mundo em até seis anos. Outros 99 operários trabalham em obras de espaços verdes do complexo desportivo Aspire Zone.

Segundo o secretário-geral da Amnistia Internacional, Salil Shetty, a exploração é uma “mancha” para o futebol mundial. "O abuso sobre os trabalhadores é uma mancha na consciência do futebol mundial. Para os jogadores e adeptos, um estádio do campeonato do Mundo é um lugar de sonho, mas, para algumas das pessoas que conversaram connosco, é um pesadelo", disse.

De acordo com o relatório, os trabalhadores denunciaram que vivem em alojamentos sujos e apertados e não recebem o que tinha sido oferecido pelos contratantes antes de chegarem ao Qatar. Os operários também relataram que recebem ameaças dos empregadores para que não façam reclamações sobre as suas condições.

Além disso, os imigrantes não possuem autorização para entrar ou sair do país, nem para mudar de empresa ou empregador, e tiveram os seus passaportes e documentos de identidade retidos.

“Eles [trabalhadores] têm dívidas, vivem em condições paupérrimas em acampamentos no deserto e recebem uma miséria. A vida dos trabalhadores imigrantes contrasta com a dos jogadores que pisarão a relva desse estádio", afirma Shetty.

As entrevistas foram feitas entre fevereiro e maio de 2015 com trabalhadores oriundos principalmente de Bangladesh, Índia e Nepal.

A Amnistia Internacional também informou que, na nova visita que foi realizada ao Qatar em fevereiro deste ano, alguns dos trabalhadores ouvidos para o relatório tinham sido transferidos para alojamentos melhores e tiveram os seus passaportes devolvidos. No entanto, não foram tomadas providências a respeito das outras questões.

A AI também pede que as empresas Adidas, Coca-Cola e McDonald's, as principais patrocinadoras da Fifa, pressionem a entidade máxima do futebol mundial não só para resolver a situação dos trabalhadores imigrantes, mas também para divulgar um plano que possa evitar possíveis abusos em futuros projetos do campeonato do Mundo.

"Se a nova liderança da Fifa quer, de verdade, apagar tudo e recomeçar do zero, não pode permitir que um evento desta magnitude seja disputado nm estádio construído por trabalhadores imigrantes que foram submetidos a maus tratos", declara o secretário-geral da AI.

Organização pede tempo

Em resposta, o comité organizador do campeonato do Mundo do Qatar pediu tempo nesta quinta-feira para solucionar os problemas laborais apresentados pela Amnistia Internacional. O secretário-geral do comité organizador, Hassan al Zawadi, afirma, no entanto, que a melhoria das condições laborais dos operários da construção dos estádios "não será resolvida num dia".

"A nossa prioridade foi, em princípio, a segurança e a proteção nas construções; uma vez que se resolva uma questão, buscaremos soluções para o restante", disse.

Zawadi acrescentou que depois da segurança e da proteção, a prioridade eram os alojamentos dos operários, um dos aspetos criticados no relatório. Sobre o confisco dos passaportes, Zawadi afirma que os trabalhadores dispõem de um cofre de segurança onde podem guardá-los.

Os organizadores do Mundial de 2022 afirmam estar a trabalhar para garantir o bem-estar dos 5.100 operários que trabalham atualmente na construção dos seis estádios e dos mais de 36 mil operários que são estimados para 2018.

Artigo publicado em Opera Mundi

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