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Ambientalistas indignados com primeiras nomeações de Biden

Joe Biden nomeou duas figuras ligadas às indústrias poluentes para a sua equipa na área do ambiente. “Não podemos trazer a raposa de volta ao galinheiro”, alerta a ativista Erin Brockovich.
Protesto em frente à sede dos Democratas
Alexandria Ocasio-Cortez esteve na concentração em frente à sede da direção dos Democratas a favor do Green New Deal. Foto Sunrise Movement/Twitter

O recém-eleito presidente dos Estados Unidos da América prometeu na campanha uma viragem completa na política ambiental do mandato de Donald Trump, a começar pelo regresso ao Acordo de Paris. Mas as primeiras nomeações para a sua equipa que lidará de perto com os temas ambientais levantaram fortes críticas por parte dos adeptos dessa viragem.

Caso se concretize a indicação de Biden, a pessoa responsável na Casa Branca por lidar com os ativistas climáticos e com as empresas será o congressista democrata Cedric Richmond. Ao longo dos dez anos dos seus mandatos na Câmara de Representantes, Richmond recebeu cerca de 341 mil dólares em donativos de empresas do setor do petróleo e gás, tornando-o o quinto eleito dos Democratas neste ranking de simpatia por parte da indústria fóssil. Richmond foi eleito para representar eleitores de localidades do estado do Louisiana e é no seu círculo eleitoral que a Agência para a Proteção do Ambiente (EPA) encontrou 7 dos 10 sítios com maior poluição atmosférica em todo o país.

O historial de votações de Cedric Richmond confirma os receios dos críticos. Ele esteve ao lado dos republicanos quando se votaram leis para aumentar a exportação de combustíveis fósseis e a construção de oleodutos. E votou contra as propostas do seu partido para impor limites ao fracking, apoiando as iniciativas dos republicanos para enfraquecer a regulação desta atividade que a anterior administração Obama tinha implementado. Como seria de esperar, Richmond não subscreveu a proposta do Green New Deal e para um dos movimentos promotores desta iniciativa, o Sunrise Movement, a sua nomeação tem o sabor de “traição” e é uma “afronta aos jovens que tornaram possível a vitória de Biden”. Esta quinta-feira, o movimento organizou uma concentração em frente à sede do Partido Democrata para exigir a Biden que retire do seu gabinete as pessoas ligadas à indústria fóssil. O protesto a favor do Green New Deal teve a presença de congressistas da ala esquerda dos Democratas, como Ocasio Cortez, Ilhan Omar, Rashida Taib ou o recém-eleito Mondaire Jones.

Dias depois de conhecida esta nomeação, surgiu outra igualmente polémica, desta vez para a equipa de transição da EPA. Trata-se de Michael McCabe, que já tinha trabalhado na equipa de Joe Biden no final dos anos 1980 e ocupou cargos dirigentes na agência pública de proteção ambiental, nomeado por Bill Clinton. O problema é que em seguida foi contratado como consultor de comunicação pelo gigante da indústria química DuPont, chegando mesmo a defendê-la em tribunal contra a EPA num caso de poluição por Ácido perfluorooctanóico (conhecido também por C8), um químico usado em utensílios de cozinha, roupa impermeável e embalagens. Essa litigância em tribunal com a Dupont, acusada de contaminar a água consumida por cem mil pessoas no estado da Virgínia Ocidental, foi o tema do filme “Dark Waters” [“Verdade Envenenada” na versão portuguesa] estreado no ano passado. A empresa sempre negou responsabilidades, mas acabou por pagar 335 milhões de dólares em indemnizações num acordo com os queixosos.

“É suposto as pessoas confiarem num antigo homem da DuPont numa equipa de transição encarregue de reavaliar a agência de investigação aos acidentes da indústria química? É assim que a nova liderança eleita quer dar início ao que era suposto ser uma administração unificadora e reparadora?”. Estas são algumas das perguntas feitas num artigo publicado no Guardian, intitulado “Caro Joe Biden: está a gozar comigo?” e assinado por Erin Brockovich, a ativista ambiental que viu o seu nome imortalizado no cinema no título do filme e no papel que valeu um Óscar de Melhor Atriz a Julia Roberts em 2000.

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