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Ambientalistas descobrem estrada de garimpo ilegal de 150 km no Amazonas

A mineração ilegal de ouro cresceu nas terras dos indígenas Yanomami, colocando a sua saúde e vida em risco e também o ambiente. A Greenpeace denuncia o impacto “devastador” do garimpo que contamina com mercúrio as águas, mata animais e destrói a floresta.
Garimpo ilegal em terras indígenas. Foto da Greenpeace.
Garimpo ilegal em terras indígenas. Foto da Greenpeace.

A Greenpeace Brasil descobriu uma estrada de 150 quilómetros feita por garimpeiros ilegais no Amazonas em terra indígena dos Yanomami. No início da semana semana passada, a organização, junto com jornalistas do Guardian e do programa Fantástico da rede Globo, sobrevoaram a região e documentaram cabalmente a sua existência que foi noticiada este fim de semana.

Na sua conta do Twitter, os ambientalistas relatam que “no início de novembro” foram descobertas escavadoras hidráulicas na cabeceira do rio Catrimani o que colocava a questão de como a maquinaria pesada teria chegado a esta zona. Recorrendo a imagens de satélite, teve-se um primeiro vislumbre da estrada feita ao longo daquele curso de água.

A organização explica que, com as escavadoras, a destruição ambiental causada pelo garimpo ilegal em busca de ouro pode aumentar “em mais de dez vezes”. Para além disso, a estrada “é um perigo para o povo Moxihatëtëma, que vive em isolamento voluntário”. Esta passa a 15 quilómetros de uma das suas aldeias.

Já em setembro do ano passado, a Agência Pública tinha revelado a existência de atividades de garimpo perto desta comunidade com duas estruturas ambas com pistas aéreas e uma a apenas 12 quilómetros dos indígenas. E em novembro desse ano foi notícia o assassinato de dois índios por garimpeiros.

Durante este voo de reconhecimento, foram avistadas quatro escavadoras e as clareiras enormes que deixaram na floresta amazónica. Os equipamentos agora descobertos começaram entretanto a ser destruídos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e pela Polícia Federal mas os ambientalistas pedem “uma operação permanente na área que expulse os garimpeiros e devolva o território aos Yanomami”.

Na região que deveria estar a ser protegida, aproximadamente do tamanho de Portugal, vivem 27.000 Yanomami e Ye’kwana, muitos dos quais, incluindo os Moxihatëtëma, escolheram não ter contacto com o exterior. Este contacto deixa-os vulneráveis a doenças como a gripe e o sarampo que dizimaram parte significativa da população indígena.

Contaminação por mercúrio

A Greenpeace considera o garimpo “um problema grave que ameaça povos indígenas de vários estados brasileiros”. Socorre-se dos dados da MapBiomas, uma iniciativa colaborativa formada por Organizações Não Governamentais, universidades e empresas de tecnologia, que contabilizou um crescimento da área garimpada em territórios indígenas do Brasil de 632% entre 2010 e 2021. Durante o tempo de Bolsonaro o problema intensificou-se, estimando-se atualmente a existência de cerca de 25.000 garimpeiros em terras Yanomami e de uma frota de 150 barcos ilegais. Um “governo de sangue”, considera Júnior Hekurari Yanomami, um líder Yanomami, que culpa o ainda presidente brasileiro por encorajar os invasores e por diminuir o poder de atuação das agências ambientais e de proteção dos povos indígenas.

Os impactos desta atividade extrativa na floresta são considerados “devastadores”, nomeadamente devido à contaminação de rios, desvio dos cursos fluviais e morte de animais. Os seus efeitos na saúde humana são bem graves por causa da contaminação por mercúrio que “pode causar fadiga e dores de cabeça” e, “em casos extremos, paralisia e morte”. “Nos recém-nascidos, gera problemas neurológicos” asseguram os ambientalistas.

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