Alterações climáticas vão fazer estuários e rias inundar mais terrenos em Portugal

08 de August 2022 - 15:44

Um estudo de investigadores da Universidade de Aveiro mostra que fenómenos como marés vivas, tempestades e o aumento do nível médio do mar irão afetar as zonas das rias de Aveiro e Formosa e os estuários do Tejo, Sado e Mondego. Mais de 35 mil pessoas poderão ser afetadas.

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Ria de Aveiro. Foto de FF Mira/Flickr.
Ria de Aveiro. Foto de FF Mira/Flickr.

Um estudo de investigadores do Centro de Estudos Marinhos e do Ambiente (CESAM) do Departamento de Física da Universidade de Aveiro, publicado na revista "Scientific Reports", mostra como marés vivas, tempestades e aumento do nível médio do mar irão afetar as zonas das rias de Aveiro e Formosa e os estuários do Tejo, Sado e Mondego. O avanço das águas fará perder centenas de quilómetros quadrados de terrenos nestas zonas num prazo de cerca de 25 anos e mais de 35 mil pessoas poderão ser afetadas.

Como consequência das alterações climáticas, os estuários irão assim alargar-se e a zona do Tejo será a mais afetada. Entre 2046 e 2065, os atuais 320 km2 de parte alagada poderão transformar-se em 390 no cenário de tempestades com períodos de retorno de dois anos e aos 435 Km2 no caso de fenómenos meteorológicos extremos com intervalos esperados de cem anos. No estuário do Mondego este alargamento poderá variar entre um crescimento de 34,9%, de 8,6 Km2 para 37,4 Km2 no cenário de tempestades com períodos de retorno de dois anos e um crescimento de 586% no caso de fenómenos extremos que podem acontecer a cada cem anos. O Sado pode aumentar 132 Km2 no primeiro destes cenários.

De acordo com a equipa do CESAM: “as inundações costeiras esperadas a cada cem anos em 2046-2065 podem ocorrer a cada dois anos próximo do final do século”. O coordenador do estudo, João Miguel Dias, explicou ao Jornal de Notícias que os resultados dão aumentos mais modestos dos impactos da subida do nível do mar porque outros trabalhos “aplicam a previsão da subida do nível médio do mar em 79 centímetros, concluindo que a subida é linear quando devemos ter em conta que isso não acontece assim e que há obras e medidas de proteção, como diques, comportas, margens e caminhos alteados que servem de barreiras” e que trabalham cenários como se a água subisse e não descesse, ao passo que a investigação da Universidade de Aveiro usou modelos numéricos hidrodinâmicos de elevada resolução para cada um dos estuários que têm em conta a geometria da entrada do estuário, o atrito, as barreiras e dados cartográficos e topográficos das zonas estudadas, além de trabalhos sobre a dissipação da energia da onda de inundação.