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Algemado à cama do hospital, jovem Saharaui morre sem assistência médica

Preso durante uma manifestação, Brahim Saika foi espancado e torturado pela polícia marroquina. Apesar de doente entrou em greve de fome. Foi transportado para o hospital em estado de coma, onde morreu sem que qualquer tipo de tratamento ou atenção médica. Por Né Eme.
Brahim Saika tinha 31 anos, era licenciado em Sociologia e dirigente da Coordenadora de Desempregados Saharauis
Brahim Saika tinha 31 anos, era licenciado em Sociologia e dirigente da Coordenadora de Desempregados Saharauis

Detido durante uma manifestação pacífica em Guelmin, Marrocos, Brahim Saika foi levado para a esquadra local. Brutalmente espancado e torturado (mesmo durante o trajeto até à esquadra ainda dentro do veículo da polícia marroquina), o jovem ficou detido sem qualquer tipo de acusação. O seu periclitante estado de saúde, foi-se agravando ao longo da greve de fome que iniciou no dia 1 de Abril até entrar em coma 15 dias depois. Transportado para o hospital local de Guelmin, e posteriormente para o Hospital de Agadir e pese o seu estado de saúde, Brahim esteve sempre algemado à cama, onde acabou por morrer sem que qualquer tipo de tratamento ou atenção médica.

Mais uma flagrante violação dos direitos humanos dos Saharauis por Marrocos. Um Marrocos que se mostra cada vez mais implacável.

Desde dezembro do ano passado, que os Saharauis têm vindo a realizar varias manifestações pacíficas exigindo direitos de estudo e trabalho iguais aos marroquinos colonos no Sahara Ocidental ocupado.

Assim, no passado dia 1 de abril, Brahim Saika de 31 anos, licenciado em Sociologia, dirigente da Coordenadora de Desempregados Saharauis, saiu à rua em Guelmin – cidade Marroquina, para participar em mais uma manifestação pacífica, com a finalidade de alertar para as precárias condições dos desempregados Saharauis e das discriminações a que se encontram sujeitos.

A polícia marroquina deteve o jovem sindicalista, e levou-o preso. Começou a ser torturado ainda dentro da carrinha policial no caminho para a esquadra. Já na esquadra e durante várias horas, as torturas continuaram. Gerou-se uma onda de protestos contra a tortura policial, tendo o jovem ficado detido com outros presos políticos.

Brahim decidiu entrar em greve de fome. Passados 6 dias e pelo agravamento do seu estado de saúde, foi transportado para um hospital local e daí para o Hospital de Agadir, onde permaneceu em estado muito grave, algemado à cama. O jovem entrou em coma vindo a falecer no dia 15 de Abril (algemado à cama).

Apesar dos pedidos da família, os médicos negam-se a realizar uma autópsia por forma a apurar os motivos da morte de Saika Brahim.

O Ministério Saharaui das zonas ocupadas e da Diáspora condenou o ocorrido lamentando esta grande perda humana, sublinhando que Brahim Saika foi um dos heróis e líderes da Coordenador Saharaui de Desempregados e um exemplo de coragem e ousadia na luta para a liberdade e a dignidade de todos.

O Ministério enviou um apelo urgente a todos os patriotas e os membros do povo Saharaui e do povo marroquino e federações sindicais de todo o mundo para condenar este assassinato. Apela também à solidariedade com a família do mártir, que esta tenha direito de conhecer à verdade sobre o assassinato de seu filho, por meio de um certificado da autópsia e da morte. Apela ainda a que os criminosos e assassinos sejam levados a um justo julgamento público, transparente e na presença de observadores internacionais.

Da mesma forma, o Ministério pediu aos companheiros de Brahim Saika para que continuem a sua luta pelos ideais e objetivos pelos quais Brahim deu a sua vida em defesa da liberdade e dignidade com todos os presos políticos, desempregados, marginalizados e Saharauis nas prisões marroquinas.

A CGTP de Portugal condenou a morte do sindicalista Brahim Saika, no passado dia 21 de abril.

Por seu lado, a Izquierda Unida Canaria “pede ao governo que exija responsabilidades a Marrocos pela morte do ativista Brahim Saika, condenando o assassinato do sindicalista e preso político Saharaui, depois de ter sido brutalmente torturado pela polícia marroquina, e pede ao Governo Espanhol que exija aos seus homólogos em Rabat a realização de uma autópsia que determine as causas da sua morte e uma investigação para que sejam julgados os responsáveis por esta nova atrocidade”. Consideram ainda “inaceitável a conivência entre as autoridades espanholas e as forças de ocupação marroquinas materializando-se na inação e no silêncio face às repetidas violações dos direitos humanos. A IUC (Izquierda Unida Canaria) reitera que esta situação dever ser revertida de imediato”. Recorda que o direito internacional obriga Espanha a cumprir os seus compromissos internacionais com a descolonização do Sahara Ocidental e que deve velar pelo respeito dos direitos humanos na ex-colónia espanhola.

No passado sábado 16 de abril em Madrid, a Coordenadora Estadual de Associações de Solidariedade com o Sahara (CEAS-Sahara) realizou uma concentração em frente à sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação com o objetivo de mostrar solidariedade com os "presos políticos" Saharauis e exigir ao governo outra política para com o povo Saharaui. Respeitou-se um minuto de silêncio em respeito a Brahim Saika.

Também no passado dia 14 todos os grupos parlamentares do Congresso, à exceção do PP, assinaram uma declaração de apoio ao povo Saharaui, na qual solicitam ao Governo, um papel mais ativo como membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas em busca de uma justa, urgente e definitiva solução para o conflito.

A declaração, com três pontos, pede apoio ao povo Saharaui e expressa a vontade de promover os esforços necessários para encontrar uma solução para o conflito no Sara Ocidental, reiterando o reconhecimento do seu direito à autodeterminação, no âmbito dos princípios e disposições da Carta das Nações Unidas.

Artigo de Né Eme para esquerda.net

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