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A Alemanha é mais igual do que nós

A Alemanha não prescinde da soberania das suas instituições democráticas em nome das diretivas das instituições europeias. Tudo bem, mas também não mandem diretivas aos outros. Artigo de José Gusmão no Ladrões de Bicicletas.
Mural em Lisboa. Foto de Metro Centric/Flickr.
Mural em Lisboa. Foto de Metro Centric/Flickr.

Um tribunal nacional dá instruções sobre política económica a uma autoridade monetária internacional "independente" (BCE), com a ameaça explícita de desobediência. É assim, meus amigos: a Alemanha faz regras. Cumpri-las é para os países do sul...
Está tudo errado: um tribunal a pronunciar-se sobre política monetária, um banco central que depende de tudo menos das instituições democráticas e uma zona monetária paralisada por bizarrias várias como a proibição do financiamento direto de Estados e financiamento monetário.

E assim ficamos: os cidadãos dos Estados democráticos da Europa olham para as manobras de magistrados e tecnocratas para saber se o "seu" Banco Central pode fazer alguma coisa para minorar a crise. Vai haver um acordo, claro. Não será é nem suficiente, "nem proporcional".

Entretanto, a monstruosidade económica dá lugar à lata monstruosa. Vítor Constâncio considera "ridícula" a distinção entre política monetária e política económica. Tem razão. E tem graça. Nunca o ouvi contestar a independência do BCE, consagração máxima da ridícula distinção.

A Alemanha não prescinde da soberania das suas instituições democráticas em nome das diretivas das instituições europeias. Tudo bem, mas também não mandam diretivas aos outros. Sem resposta europeia, não há cá regras europeias. Cumpramos a nossa Constituição, para variar.

Artigo publicado no Ladrões de Bicicletas.

Sobre o/a autor(a)

Eurodeputado e economista.
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