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Alberto Seixas Santos (1936-2016)

O realizador de cinema, um dos nomes do Cinema Novo Português, morreu este sábado aos 80 anos. Velório realiza-se no domingo a partir das 17h no Teatro Thalia. Cremação terá lugar segunda-feira às 16h no cemitério dos Olivais.
Alberto Seixas Santos na conferência de imprensa do seu filme "Mal", em 1999. O filme foi apresentado em competição no Festival de Veneza. EPA photo / ANSA / Claudio Onorati / PAL- Hh (foto recortada).

Alberto Seixas Santos, nascido a 20 de março de 1936, frequentou o Curso de Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A partir de 1958, trabalhou como crítico de cinema em inúmeras publicações. Em 1962, estudou em Paris, onde frequentou o Institut d'Hautes Études Cinématographiques e, no ano seguinte, a London Film School.

Pertencente a uma geração de cineclubistas, Alberto Seixas Santos foi dirigente e animador do ABC-Cineclube de Lisboa, de meados da década de 1950 até à de 1960.

O cineasta do movimento do Novo Cinema começou por filmar documentários - A Arte e o Ofício de Ourives e Indústria Cervejeira em Portugal (1968). Em 1970, fundou o Centro Português de Cinema.

A sua primeira longa-metragem, Brandos Costumes, foi rodada entre 1972 e 1975 e escrita em parceria com os escritores Luiza Neto Jorge e Nuno Júdice. O filme, que traça um paralelo entre o quotidiano de uma família da média burguesia e o trajeto do regime emanado do golpe militar de 28 de maio de 1926, foi selecionado, em competição, para o Festival de Cinema de Berlim.

Brandos costumes, bem como Gestos e fragmentos e Paraíso perdido, (1974/1992) formam a trilogia inicial de filmes que refletem a ressaca do salazarismo, da revolução de 1974, do colonialismo português. "A lei da terra" (1977) é outro dos títulos da sua filmografia.

Mal (1999) constitui, nas palavras do realizador, “um olhar sobre o mundo visto a partir de Portugal”, enquanto E o tempo passa (2011) foi concebido, segundo o próprio, sob o mote “De tudo se faz o mundo”.

Depois de uma primeira tentativa na curta-metragem, nunca completada, em 1961, sob os auspícios do cineasta português Perdigão Queiroga, que teria tido por título "Surprise party" e contava, no elenco, com o realizador João César Monteiro, Alberto Seixas Santos voltou apenas uma vez à curta-metragem. Em 2005, assinou "A rapariga da mão morta", produzido e assinado pela cooperativa de cinema Grupo Zero, de que foi um dos fundadores em 1974, e à qual pertenceram cineastas como João César Monteiro, Jorge Silva Melo, Ricardo Costa, Margarida Gil, Solveig Nordlund e o diretor de fotografia Acácio de Almeida.

O realizador participou ainda como ator em filmes como "Um passo, outro passo e depois...", de Manuel Mozos, "Inventário de Natal", de Miguel Gomes, "O anjo da guarda", de Margarida Gil.

Assinou também o argumento de "Hoje estreia", de Fernando Lopes, "Lobos", de José Nascimento, e foi retratado em "Refúgio e evasão", de Luís Alves de Matos.

Como várias vezes referiu, o neorrealismo formou-o, o “rigor geométrico” do cinema de Fritz Lang e “a desorganização do mundo fabricado” por Jean Renoir foram duas das suas maiores paixões. "Sou completamente dividido entre estes dois polos”, “Ford é um caso à parte”, assinalava.

No que respeita à sua obra, afirmou numa entrevista a propósito de Mal, que tinha necessidade do “confronto com uma realidade que [me] resiste”, assim como tinha necessidade de adotar uma ética de um “realista utópico”.

“Todos os filmes que realizei obedecem aos mesmos princípios de rutura interna, de colagem, de mistura de materiais heterógenos no corpo da mesma obra. E todos têm fins em aberto. Quem sou eu para decidir do destino dos homens e do mundo?”, registou numa nota de intenções para o seu filme E o tempo passa.

Alberto Seixas Santos foi docente na Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC) entre 1980 e 2003, escreveu em jornais como Imagem, Seara Nova, o Tempo e Modo, Diário de Lisboa, Diário Popular, Letras & Artes., M- Revista de Cinema.

Em meados da década de 1980, foi diretor de programas da RTP, tendo sido responsável pela programação de cinema e, em 2006, organizou uma retrospetiva da sua obra, publicando uma monografia que incide na biofilmografia e no seu rasto no cinema português (Alberto Seixas Santos, ed. Cineclube ABC, 2006).

Em 2014, a ESTC homenageou-o e, além de ter participado em “Histórias do Cinema: Seixas Santos / Straub-Huillet”, apresentou uma série de sessões intitulada “Escolhas de Alberto Seixas Santos” que, em 2013, deu a ver obras fundamentais de Ophuls, Renoir, Ford, Rossellini, Bergman, Visconti, Bresson, Rossen, Resnais.

O Presidente da República lamentou este sábado a morte do realizador, considerando-o "uma das figuras fundamentais do cinema português das últimas décadas". Também o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, assinalou a morte de "uma personalidade que marcou o cinema e o audiovisual nos últimos 50 anos", lembrando o papel de professor e de divulgador que teve Alberto Seixas Santos: "Enquanto realizador do Novo Cinema, [Seixas Santos] usou a imagem para questionar os poderes".

O velório de Alberto Seixas Santos realiza-se no domingo a partir das 17h no Teatro Thalia, na estrada das Laranjeiras. O corpo do realizador será cremado segunda-feira, às 16h, no cemitério dos Olivais.

Esquerda.net com agência Lusa.

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