África do Sul: Prisão de ex-Presidente gera onda de violência

13 de July 2021 - 16:20

Subiu para 32 mortos o balanço dos graves tumultos que se seguiram à prisão de Jacob Zuma por desobediência à justiça.

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Imagem dos destroços numa rua de Joanesburgo. Foto Kim Ludbrook/EPA

O ex-Presidente sul-africano Jacob Zuma entregou-se na semana passada para cumprir uma pena de 15 meses de prisão decretada pelo Tribunal Constitucional do país. Em causa está a recusa de Zuma em obedecer às intimações para testemunhar junto da comissão que investiga casos de corrupção ocorridos durante os nove anos da sua presidência.

Mas com a entrada de Zuma da prisão, saíram para a rua os seus apoiantes e têm posto o país a ferro e fogo nos últimos seis dias. As manifestações de protesto rapidamente passaram a cortes de estradas, saques a lojas e centros comerciais, enfrentamentos armados com a polícia e fogo posto. As províncias de Gauteng, onde se situa Joanesburgo, e do Kwazulu-Natal têm sido o epicentro da violência.

Esta segunda-feira, o atual presidente Cyril Ramaphosa apelou à calma e classificou os protestos como “atos de criminalidade oportunista, com grupos de pessoas a instigarem o caos apenas para servir de cobertura aos roubos e saques”. E anunciou a prisão de quase 500 pessoas nas duas províncias, avisando que tanto o processo de vacinação como o abastecimento de comida e medicamentos podem sofrer interrupções nas próximas semanas devido aos assaltos a farmácias e superfícies comerciais. O exército foi chamado a ajudar a polícia na repressão dos motins.

Em 2018, Cyril Ramaphosa afastou Jacob Zuma na liderança do ANC e na Presidência do país, quando este já se encontrava pressionado pelos sucessivos casos de corrupção que o envolviam diretamente. Esta é a primeira vez desde o fim do apartheid que um ex-Presidente sul-africano entra na prisão. O simbolismo é ainda maior por Zuma ter estado preso pelo regime racista, cumprindo dez anos de prisão em Robben Island com Nelson Mandela por tentativa de derrube do governo na década de 1960.

Zuma tem sempre defendido que as acusações de corrupção são fruto de um ataque com motivações políticas, apesar de estas o terem acompanhado tanto nos seus mandatos presidenciais, de 2009 a 2018, como até antes, em 2005, quando o então presidente Thabo Mbeki o demitiu do cargo de presidente adjunto por esse motivo. Dois anos depois a justiça ilibou-o das acusações e foi Zuma a afastar Mbeki da liderança do partido e do país. Aos 79 anos, conserva um núcleo de apoiantes significativo e que não se restringe à sua província do do Kwazulu-Natal.