You are here

Advogada turca morre em greve de fome por julgamento justo

Ebru Timtik faleceu após 238 dias em protesto. É a quarta pessoa a morrer no país este ano em greves de fome para exigir justiça.
Ebru Timtik.
Ebru Timtik.

Ebru Timtik, uma advogada turca de 42 anos, morreu esta quinta-feira no Hospital de Sadi Konuk, Ancara, segundo divulgou a Associação de Advogados Progressistas. Tinha começado uma greve de fome há 238 dias, exigindo um julgamento justo.

Junto com mais 17 colegas, a jurista fora acusada de “pertença a uma organização terrorista” por supostamente ter ligações com a Frente/Partido Revolucionário da Libertação do Povo, o DHKP/C, considerado um grupo terrorista pelo governo turco. Em março do ano passado tinha sido condenada a 13 anos e seis meses de prisão. E tinha ainda um recurso pendente.

Por duas vezes nos últimos dois meses tinha requerido a libertação com base num relatório médico do Instituto de Medicina Forense que concluía que o seu estado de saúde não lhe permitiria continuar na prisão. Em vez disso foi colocada em hospitalização forçada em 30 de julho.

Timtik e Aytac Unsal, um colega seu que está em estado crítico, iniciaram esta greve de fome para protestar contra as condições injustas em que foram julgados. Por exemplo, os juízes que inicialmente decidiram pela libertação dos advogados foram substituídos e foram permitidas testemunhas “anónimas” contra os acusados.

O advogado da testemunha central que os incriminou, e que para além deste testemunha em mais de cem casos, mais tarde enviou uma declaração em nome do seu cliente para os tribunais a esclarecer que o que este disse não podia ser levado a sério devido à sua condição mental. A pessoa identificada como İ.Ö. está diagnosticada com “psicose atípica” desde 2011, sofre de alucinações e não há quaisquer outras provas materiais que confirmem o que tinha dito. Considera-se um “informador” desde a idade de dez anos.

Timtik defendeu vários casos relacionados com direitos humanos e abusos de autoridade. Foi advogada, por exemplo, da família do Berkin Elvan, um adolescente morto numa manifestação contra o governo.

A IHD, Associação de Direitos Humanos da Turquia, por intermédio da sua vice-presidente, Eren Keskin, lembrou que “eles foram libertados na primeira audiência” mas que “a “vontade política” imediatamente interveio e emitiu novo mandado. O epítome da injustiça foi alcançado. Não se esqueçam que a seguir pode acontecer convosco. Não fiquem calados, levantem a vossa voz!”, incitou.

A secção da Ordem dos Advogados de Istambul homenageou-a colocando a sua imagem em toda a largura da sua sede. E nas ruas uma multidão gritou: “Ebru Timtik é imortal”.

Não é a primeira greve de fome de detidos a ter um desfecho trágico este ano naquele país. Dois membros do grupo musical Grup Yorum e Mustafa Koçak, um jovem condenado também apenas com base em testemunhos e que alegava ter sido sujeito a tortura, morreram a exigir julgamentos justos.

Termos relacionados Internacional
(...)