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Acordos do centrão para empobrecer o país "não são novidade"

Catarina Martins visitou o mercado de produtores em Viseu no âmbito do Roteiro da Justiça Climática. Sobre a aproximação entre PS e PSD, afirmou que "não há nada mais parecido com a direita do que a maioria absoluta do PS".
Catarina Martins em Viseu. Foto Esquerda.net

Numa nova etapa do Roteiro pela Justiça Climática que o Bloco de Esquerda tem promovido nos últimos meses, Catarina Martins esteve no Mercado Municipal de Produtores em Viseu e ouviu queixas dos produtores sobre o impacto da inflação na sua atividade.  

"Os produtores de Viseu sabem como a vida está tão cara, dos fertilizantes ao gasóleo, e com tão poucos apoios. Mas são produtores destes, que fazem estes circuitos curtos e põem o que é produzido aqui no mercado aqui, que são também uma visão de futuro quando pensamos em clima. É preciso apoiar esta gente", defendeu Catarina, retomando o apelo feito por António Guterres na Assembleia Geral da ONU para taxar as empresas poluidoras.

"É preciso uma política que não seja de favor às petrolíferas e que pelo contrário possa cobrar o que andam a ganhar a mais para apoiar os setores que mais precisam de apoio, ao mesmo tempo que mudamos o modo de produção para responder às alterações climáticas", defendeu a coordenadora bloquista.

"Enquanto os produtores que aqui estão me dizem o que sofrem para pagar o combustível, a Galp aumentou em 153% os seus lucros", apontou Catarina, concluindo que "a inflação não é um problema para todos, há uns poucos que estão a ganhar muito". Por isso, "fazer a taxação dos lucros excessivos para apoiar quem está a sofrer tanto é uma urgência", mas "o Governo português é um dos que mais nega a evidência de ser necessário colocar as petrolíferas no sítio", lamentou.

Aeroporto: adiar decisões "são estratagemas para fazer a vontade à Vinci"

Questionada sobre o encontro entre o PS e o PSD acerca da construção de um novo aeroporto que resultou na formação de uma nova comissão para estudar as localizações, Catarina Martins afirma que "este adiar de tomar decisões ou de querer tomar a decisão que é do ponto de vista ambiental inaceitável, sempre foram estratagemas para fazer a vontade à Vinci". Os donos da concessão dos aeroportos portugueses estão "sempre à procura da solução mais barata", mesmo que, como no caso do Montijo, seja ambientalmente inviável "porque as alterações climáticas vão determinar que aquela área vai ficar inundada".

Excedente orçamental com população a empobrecer? "Este é um projeto que ataca Portugal"

Mas esta aproximação entre PS e PSD também mostra como "não há nada mais parecido com a direita do que maioria absoluta do PS", prossegui Catarina. E por isso não estranhou que "num momento em que há um projeto que passa por ultrapassar uma crise através do empobrecimento de quem trabalha, vemos PS e PSD à mesma mesa".

"Já o vimos antes, É sempre a mesma estratégia face a uma crise. O PS procurará crescentemente no PSD o conforto para este caminho, porque o PSD sempre o defendeu. Os acordos de centrão entre PS e PSD em momentos de crise e quando a estratégia do Governo é empobrecer a populaçao não tem novidade", resumiu a coordenadora do Bloco, destacando que ainda na véspera o país ficou a saber que teve um excedente orçamental no primeiro semestre do ano "enquanto quem vive do seu trabalho está aflito a contar os tostões para comprar os bens básicos de que precisa para pôr à mesa, enquanto as escolas não têm condições, enquanto falta tudo na Saúde".

Para o Bloco de Esquerda, "Portugal não se pode resignar" a este cenário de acordo entre PS e PSD para "uma resposta à crise feita do empobrecimento dos serviços públicos e de quem vive do seu trabalho". "Nós não podemos aceitar que haja gente a fazer tantos lucros com a crise, que as contas públicas estejam até a engrossar com a inflação e ao mesmo tempo que os salários fiquem estagnados, que as pensões não tenham o aumento que deviam ter, que falte tudo nos hospitais e nas escolas. Este é um projeto que ataca Portugal e é preciso lutar por outra forma de responder à crise", afirmou.

"De que serve uma autonomia face ao Ministério da Saúde se não houver autonomia para investir no SNS?"

A nomeação de Fernando Araújo para a direção executiva do SNS era outro assunto que os jornalistas traziam para obter uma reação da coordenadora do Bloco. Catarina lembrou que a Saúde "tem estado todos os anos subfinanciada e tem havido um veto constante ao investimento no SNS", uma decisão que não partiu do Ministério da Saúde mas sim do primeiro-ministro com os ministros das Finanças. Por isso, "dizer que vem aí uma direção executiva sem mudar isto não adianta absolutamente nada. De que serve uma autonomia face ao Ministério da Saúde se não houver autonomia para investir no SNS e acabar com o subfinanciamento?", questionou.

"Falei há pouco aqui com uma senhora que está há nove meses à espera de uma consulta no Hospital de Viseu. Há quantos dias se anda a debater uma direção executiva no SNS? Se calhar é melhor fazermos o que importa: fixar os profissionais no SNS, fazermos os investimentos que importam", concluiu.

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