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25 de Abril: cinco meses antes

O esquerda.net republica as "Recordações da Casa Vermelha" de João Martins Pereira – um conjunto de recortes e memórias dos meses que precederam a Revolução, publicado na revista Combate nos 20 anos do 25 de Abril.
As "Recordações da Casa Vermelha" recolhidas por João Martins Pereira em 1994.

Recordações da Casa Vermelha

Mês -5 | Novembro 1973

 

GRANDES TEMAS

A última remodelação

Despachadas as eleições, mexida substancial no Governo. Com olhos de hoje, notem-se duas subidas a Ministro: para a Saúde, Clemente Rogeiro, censor de carreira do salazarismo, cujo rebento foi promovido a estrela mediática dos anos 90 pelos seus confrades jornalistas; para as Corporações, Silva Pinto, premiado 20 anos depois com a candidatura PS à Câmara de Oeiras: “Convosco reafirmo a minha confiança na organização corporativa” diz este último, no Porto, a dirigentes corporativos patronais e sindicais, com quem “queremos um diálogo sério e honesto” (pensaria já na Concertação Social?).

Entre os Secretários de Estado, um dos membros de maior longevidade da governação marcelista: Nogueira de Brito.

A última Assembleia

A abrir os trabalhos, Elmano Alves (Pres. da Com. Executiva da ANP, ex-União Nacional): “O país, ao votar, não escolheu apenas entre homens. Referendou, sobretudo, uma política nacional, assente no respeito pela Constituição e pelos seus princípios fundamentais. E plebiscitou, por assim dizer, o Governo que lucidamente definiu essa política e afincadamente a promete executar”. Qualquer Duarte Lima não diria melhor.

Petróleo

Decretado pelos países árabes o embargo petrolífero aos países ocidentais (Portugal incluído), aumenta em flecha o preço do crude.

Bichas sem fim em Portugal na véspera do aumento da gasolina, e na do 1º fim-de-semana com as bombas encerradas.

Os especialistas pronunciam-se sobre o futuro. Nobre da Costa (SACOR) exclui o recurso ao carvão: o petrolífero de Angola virá a resolver-nos o problema do abastecimento.

Parte do último Jumbo com emigrantes para a Alemanha, que “fechou as portas” devido à crise do petróleo (até aqui iam dois por semana).

Movimento dos Capitães

Reunião a 24, no Estoril. Um tenente coronel (Banazol) diz que a questão dos decretos “não vale um pataco” e que não há solução para o país sem “Revolução”, isto é, um golpe militar. Forte emoção nos capitães. Mas a questão ficou de pé, para próxima votação.

 

“OBRAS” EM CURSO

Vão em bom ritmo as do troço de auto-estrada Vila Franca-Carregado. Na abertura solene do estaleiro, no mês passado, Jorge de Brito, presidente da Brisa (e hoje do Benfica), refere-se ao “começo do trabalho ininterrupto e entusiasta, onde, com a naturalidade da vida, os programas se cumprem, a obra cresce e a missão se realiza”. Dentro do betão fica um pergaminho assinado por Brito e pelo Ministro, em invólucro de cobre.

Em bom ritmo arrancou também o julgamento das “3 Marias”, autoras das “Novas Cartas Portuguesas” por atentado aos bons costumes.

Só neste mês, uma dezena de greves em todo o país. Algot e Signetics voltarão a estar em foco no próximo ano.

APOSTAS

Mota Amaral é o secretário da Comissão eventual da Assembleia que vai apreciar a proposta de lei relativa à organização e execução do IV Plano de Fomento para o período… 1974-1979.

Alçada Baptista está nos tops de venda em Lisboa, com o seu livro “Conversas com Marcello Caetano” (em que veste a pele de Christine Garnier, que anos atrás fez o mesmo com Salazar). Já no exílio, o entrevistado recomendará o livro a quem queira conhecer as suas “ideias, intenções e acções”.

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