“Estamos num momento no nosso país em que é preciso fazer opções e estas exigem decisões concretas. Não basta dizer que não se quer mais austeridade, é preciso dizer como é que se pode acabar com a austeridade e quais são as opções que os Estados têm de fazer”, afirmou a coordenadora nacional do Bloco de Esquerda sobre a petição para levar a reestruturação da dívida ao plenário da Assembleia da República.
“A reestruturação da dívida, que é algo que o Bloco de Esquerda tem defendido desde sempre”, é hoje “amplamente consensual na sociedade portuguesa”, referiu Catarina Martins durante a sessão pública "15 anos do Bloco - Desobedecer à Europa da Austeridade". "O Governo está completamente isolado nesta sua ideia peregrina de pensar que é possível não reestruturar a dívida e querer impor austeridade ao país por mais 10, 20 ou 30 anos”, sublinhou.
Segundo a dirigente bloquista, “o país não aguenta mais”. “É o momento de mudar. E mudar exige um país que esteja de pé, com força, que renegoceie a sua dívida junto das instituições nacionais e internacionais”, frisou.
Questionada sobre eventuais resultados práticos da petição, a coordenadora nacional do Bloco defendeu que “a democracia não se fecha num dia”.
“É pelas vozes que se juntam a pedir a mudança que se pode mudar a sociedade. Uma petição não muda a sociedade mas é uma força grande quando as vozes se juntam”, fundamentou.
Catarina Martins salientou ainda a importância das eleições europeias para que “cada um possa exprimir qual o seu desejo de futuro”. Segundo a deputada do Bloco, o voto vai servir para determinar se os portugueses querem “mais 20 ou 30 anos de austeridade” e “ficar de joelhos perante os credores internacionais” ou se acham que o país deve ter “a coragem e determinação” para “renegociar a dívida”, para a reestruturar e “ter um futuro digno”.
"A palavra do Governo sobre os pensionistas vale zero"
“Se há neste momento um facto inegável em Portugal é que a palavra do Governo sobre os pensionistas vale zero”, adiantou Catarina Martins sobre as informações contraditórias do Governo no que respeita aos cortes nas pensões.
“Não dizem o que querem fazer mas sabemos o que tentam esconder: querem tornar permanentes os cortes que sempre disseram que seriam transitórios”, avançou a dirigente bloquista, referindo que, em relação aos pensionistas, fazem um duplo corte: “um corte nas pensões mas também um corte na expectativa e no direito ao mínimo de segurança que cada um pode ter”, já que, a partir de hoje, “os pensionistas nunca saberão qual pode ser a sua pensão”.
Segundo a coordenadora do Bloco, esta precarização dos mais velhos é “o humilhar de um país, é limitar as possibilidades de futuro”.
“É contra isto que é preciso, a 25 de maio, [data das eleições europeias] juntar forças”, rematou.
“Este manifesto tem criado problemas a muita gente”
A eurodeputada e cabeça de lista do Bloco de Esquerda às eleições europeias também se referiu, durante a sua intervenção na sessão pública "15 anos do Bloco - Desobedecer à Europa da Austeridade", ao manifesto pela reestruturação da dívida.
“Este manifesto tem criado problemas a muita gente”, frisou Marisa Matias em resposta às declarações do cabeça de lista da Coligação Aliança Portugal ao Parlamento Europeu (PE), Paulo Rangel, que afirmou que o Manifesto 74 não "teve a adesão dos portugueses", que "já saiu da agenda" e que "ninguém fala dele".
“Se não tem relevância, nem aderência à realidade, por que razão Paulo Rangel perde um segundo que seja com o manifesto? Só se for para o próprio demonstrar, como acabou por fazer, a sua falta de aderência à realidade”, referiu a dirigente bloquista.
Marisa Matias acusou o Governo PSD/CDS-PP de “gerar o maior aumento da dívida da história da democracia portuguesa” e salientou que o Tratado Orçamental “é o garante que todas as políticas de austeridade serão justificadas em nome do suposto cumprimento de metas que todos sabem ser impraticáveis e impossíveis”.
Segundo a eurodeputada, o dia de eleições é também um dia de protesto. “No dia 25, cada voto vale o mesmo. O voto de quem perdeu o emprego vale o mesmo que o de Passos Coelho ou Paulo Portas. O voto de Cavaco Silva vale metade do dos dois conselheiros que demitiu por terem assinado o manifesto pela reestruturação da dívida”, avançou.
Alda Sousa faz balanço do mandato dos deputados europeus do Bloco
Durante a sua intervenção, Alda Sousa fez o balanço do mandato dos deputados europeus do Bloco, lembrando que não foi apenas na Europa que nos batemos. “Do Líbano ao Saara Ocidental, batemo-nos por uma europa mais solidária e atenta aos problemas que a rodeiam”, afirmou.
A dirigente do Bloco fez ainda referência à diretiva negociada e redigida pela Marisa Matias, sobre os medicamentos falsificados, a segunda diretiva comunitária assinada por um eurodeputado português em quase 30 anos, que “vai mudar a vida de centenas de milhões de europeus, garantindo maior confiança aos cidadãos nos medicamentos que necessitam”.
“Nunca o futuro de Portugal se disputou tanto na Europa, nunca a Europa disse tanto a Portugal”, rematou.
Durão Barroso e a vassalagem a Angela Merkel
O dirigente bloquista João Teixeira Lopes, a propósito da entrevista de Durão Barroso ao jornal Expresso, referiu “o ar envaidecido que o presidente da Comissão Europeia demonstra quando fala da hora que passou ao telefone com a senhora Merkel”. “Parece, que nos dias que correm, o ponto alto dos líderes da Europa é serem dignos do chá e bolinhos de Angela Merkel”, lamentou João Teixeira Lopes.
“Os chás e bolinhos entre Durão Barroso e Angela Merkel são a antítese do que deve ser a democracia. Precisamos é de debate transparente e de um referendo ao tratado orçamental”, defendeu.