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Transformar a Academia: o poder em disputa

1. Quatro anos maiores do que a legislatura.
O impacto das expressivas mobilizações académicas por parte dos seus esquecidos em defesa de um contrato de trabalho tornou a legislatura um campo de batalha. No Parlamento como nas Universidades e Politécnicos, a contradição dos setores políticos e académicos que usam e abusam do termo “autonomia” para tudo justificar – a precariedade, as propinas no seu máximo histórico, o não cumprimento da lei – tornou-se cada vez mais evidente. Foram quatro anos maiores do que a legislatura porque se abriu, no seio da Academia, um combate cultural sobre a sua missão e uma luta pelo seu governo.
2. As medidas ‘à peça’… e no baralho? Nunca o Ás.
“A Ciência está em perigo e, por isso, torna-se perigosa.” Escreveu Bordieu, ao virar do século, aquando de um conjunto de aulas na sua Faculdade em Paris, subordinadas ao tema “Para uma Sociologia da Ciência”. Caracteriza o sistema científico deste novo século essencialmente produtivista e capturado pelos grandes interesses económicos, nomeadamente nas áreas do saber mais lucrativas como a saúde, as engenharias. Hoje, essa visão de “ciência aplicada” como alpha e ómega do investimento em investigação tem trazido dissabores e políticas públicas que não permitem uma visão a médio prazo. Premeiam os dirigentes e as companhias que comercializam esses resultados do que os investigadores e a sociedade.
3. O programa de futuro no Ensino Superior e na Ciência é resgatá-los para o interesse público, de novo.
Atrás de um bom ranking, há sempre um precário. E, se durante décadas, o poder instituído no seio das Universidades cristalizou as suas teias de interesses para garantir que a endogamia era servida à mesa como prato principal, também é verdade que o modelo de pró-mercado exacerbou ainda mais as desigualdades contratuais e salariais dos seus trabalhadores. Não é possível, por essa ordem de razão, tratar de um assunto sem tocar no outro. Ou seja, não há democratização do Conhecimento sem combate à precariedade, tal como não podemos almejar um novo paradigma de Espírito Crítico sem alterar o RJIES que cristaliza o poder em poucos, ou acabar com o fardo das propinas, que continua a travar milhares de jovens no seu acesso ao Ensino Superior. Os interesses instalados não receiam o parco financiamento, têm, sim, medo que os precários se tornem visíveis, dirigentes, donos da sua palavra e da sua ação.
O que nos move é a construção de um projeto alternativo ao aparelho 'feudal-neoliberal' da Academia. Precisamos de transformar a Academia para que sirva de instrumento para a transformação que queremos na sociedade.
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