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Todos somos a Grécia!

A Grécia está no olho do furacão da crise europeia, com o desfile de sacrifícios e horrores que o povo grego está a sofrer, mas também com um exemplo mundial de resistência e de luta de classes. E também de mudanças políticas. Nunca num país europeu houve reviravoltas políticas tão rápidas, correspondentes à experiência que o povo grego está a ser forçado a fazer.
Nas eleições de 17 de junho, muitas sondagens davam como certa a vitória do Syriza, um partido que em 2007 surpreendera o establishment político, então dominado pelo Pasok, ao arrancar 5,04% das eleições.
A brutal chantagem da troika sobre o povo grego, ameaçando com uma tragédia se os “radicais” vencessem, conseguiu por esta vez evitar a primeira vitória, na Europa, de um partido à esquerda da social-democracia, mas o Syriza saltaria para os 26,9%, menos de 3 por cento atrás da vitoriosa Nova Democracia. O Pasok ficou remetido ao 3º lugar, com 12,28%.
“Nós teríamos vencido as eleições se não fossem dois fatores: primeiro, a intervenção externa, que foi determinante: em segundo lugar, as enormes dificuldades que tiveram muitos dos nossos eleitores para regressar aos seus povoados e votar. Não tinham dinheiro para pagar a viagem. De qualquer forma, o essencial é que o terrorismo dos meios de comunicação conseguiu assustar as pessoas, por isso a direita ganhou”, explicaria o líder histórico da esquerda Manolis Glezos numa entrevista, meses depois.
Governo tripartido esqueceu de imediato as promessas
O governo tripartido liderado pela Nova Democracia, junto com o Pasok e a Esquerda Democrática, bem depressa mostrou ao que vinha. De um dia para o outro esqueceu-se de todas as promessas de que renegociaria as condições da dívida, e aceitou todas as imposições da troika.
“A Esquerda Democrática está agora a ser julgada”, diria depois o líder do Syriza, Alexis Tsipras. “Até ao dia das eleições, a sua posição era a de denunciar o memorando, mas no dia seguinte juntou-se por sua vontade ao sistema político estabelecido e está a mostrar tendências para se tornar mais pró-memorando do que o próprio memorando. O Pasok está a tentar salvar-se, preso na armadilha das mesmas políticas inconcebíveis em que prendeu o povo e o país. Não há nenhum futuro político para os partidos do memorando porque as políticas que assumiram executar são destrutivas e levam a um beco. Há já uns deslocamentos muito rápidos a acontecer na cena política. A sociedade está a procurar um caminho alternativo de saída e a manifestar-se em torno duma aliança nova, progressista, com a esquerda no seu núcleo”, afirmou.
Desde que a Grécia foi envolvida pela crise da dívida e começaram os Memorandos, os trabalhadores fizeram 21 greves gerais.
Maria Bolari, deputada do Syriza, disse no final do ano que o seu partido pode vir a governar nos próximos meses. “A situação na Grécia é tão frágil e instável que nos estamos a preparar para qualquer coisa”, disse. “Não achamos que vá ser fácil, não achamos que o governo vá convocar eleições por própria vontade. Portanto, o Syriza, por um lado, exige eleições para o governo; e, por outro, pede aos movimentos populares que intensifiquem as lutas e imponham as eleições desde a base”.
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