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Portugal é o sexto país mais envelhecido do mundo

Portugal passou de país menos envelhecido da Europa, em 1970, para o sexto país mais envelhecido do mundo em 2011. Em 2012, batemos o recorde da mais baixa natalidade de sempre. Engravidar mais tarde e ter unicamente um filho é, cada vez mais, uma opção determinada pelas condições do mercado de trabalho e pela deterioração das condições de vida.
Foto Paulete Matos.

A investigadora Anália Torres e a especialista em demografia Maria João Valente Rosa traçaram, durante uma conferência realizada pelo Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) subordinada ao tema “Demografia, Natalidade e Políticas Públicas”, um cenário avassalador no que respeita ao envelhecimento do país.

Se, há quarenta anos, o país apresentava a maior taxa de natalidade da Europa, atualmente, Portugal é o detentor da taxa de natalidade mais baixa.

Segundo Maria João Valente Rosa, que partiu da análise dos dados estatísticos da Pordata, ainda que a população portuguesa tenha aumentado 1,7 milhões entre 1960 e 2010, em 2012, “batemos o recorde da mais baixa natalidade de sempre, com 89.841 nascimentos”, um número bastante inferior ao registado em 2011 (107.598).

Anália Torres referiu, por sua vez, que Portugal foi o país europeu onde se observou uma maior redução da natalidade entre 1990 e 2011. “Era o país com a maior taxa de natalidade e agora a menor”, frisou.

Por isso, “nascer em Portugal é nascer num país envelhecido”, adiantou Maria João Valente Rosa, sublinhando que em Portugal se “envelhece de forma acelerada”.

Em 1970, Portugal era o país menos envelhecido da Europa, tornando-se, em 2011, “um dos mais velhos do mundo”, ocupando o sexto lugar.

Há dois anos, a idade média da população portuguesa era de 42 anos. Em 1960 era de 28 anos. Atualmente, o número de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos é maior do que o número de pessoas com idade inferior a 15 anos.

Entre 1990 e 2011 todos os países nórdicos, em particular os escandinavos, começaram a subir no índice de fecundidade, sendo que, atualmente, o ponto mínimo de fecundidade nos países nórdicos é o ponto máximo de fecundidade nos países do sul, avançou Anália Torres.

Segundo esta investigadora, a mudança justifica-se pelas políticas sociais adotadas nos países escandinavos, onde é assumido que “mulheres e homens têm direito ao trabalho e à família e que as crianças devem ser protegidas por todos e são uma responsabilidade da sociedade”.

Já em Portugal, as mulheres portuguesas trabalham “muito mais tempo” do que as mulheres da União Europeia a 27.

“Nos países de referência em termos de fecundidade (como os escandinavos, os países baixos ou a Bélgica), as mulheres estão acima da média da União Europeia (UE) em termos de trabalho a tempo parcial”, apontou Maria João Valente Rosa, sublinhando que, em Portugal, o trabalho a tempo parcial representa 17%, metade da média da UE (33%).

As mulheres não só são sujeitas a uma carga horária laboral superior à dos homens como auferem rendimentos inferiores, ainda que sejam, inclusive, mais escolarizadas.

As mulheres são mães cada vez mais tarde e acabam por ter unicamente um filho, opção que é cada vez mais determinada pelas condições do mercado de trabalho e pela deterioração das condições de vida.

Entre 1986 e 2012, a idade materna aumentou, em média, seis anos, para os 30 anos.


Artigo publicado no esquerda.net a 8 de novembro de 2013
 

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