Está criado, desde há muito, e em várias regiões do mundo, um ciclo de violência que alimenta um conjunto de guerras e a consequente corrida ao armamento. E nem precisamos de lançar um olhar muito largo para detectarmos os sinais desse ciclo de violência: temos aqui bem perto, o Mediterrâneo transformado em cemitério, como expressão bem real dessa violência. E se olharmos para todas as regiões à volta da Europa, vamos verificar que existe um “arco de crises”. Há instabilidade política forte ou situações de guerra desde a Ucrânia, passando pela Geórgia, Arménia, todo o Médio Oriente e Norte de África.
Se pensarmos na guerra comercial desencadeada pelos Estados Unidos da América, que envolve a União Europeia, China, Canadá e México, podemos ter uma noção dos riscos que corremos. E se olharmos para a situação no Sahel, continuamos a somar desencantos.
Sabemos que há uma indústria que se alimenta da guerra e não é apenas a das armas e equipamentos militares. Deslocar exércitos significa fornecer (com tudo – desde água a óculos de sol) muitos milhares de homens e mulheres a milhares de quilómetros de casa e por longos períodos.
Conhecemos as exigências feitas por Donald Trump na recente cimeira da NATO; sabemos que a França, por exemplo, vende armas em força para o Médio Oriente e o governo de Paris assume que o mercado interno não permite viabilizar todas as empresas de defesa francesas; o Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (SIPRI – sigla em inglês) traz-nos regularmente os dados que mostram uma crescente corrida ao armamento.
Não alinho no simplismo de algumas teses pacifistas. O mundo terá de fazer um longo caminho até que se possa falar seriamente em desarmamento e é esse o debate que, realisticamente, devemos fazer: como quebrar o ciclo de violência – se algum dia isso for possível – para, então sim, podermos deslocar o actual investimento em armas para um investimento forte no Desenvolvimento Humano.