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Dossier preço do petróleo

Afinal, até que ponto pesa a especulação no preço final do barril de petróleo? Mais de 60%, como dizem uns? Apenas um quarto, como dizem outros? Não há especulação, como dizem ainda outros? Atingimos ou não o "pico do petróleo", isto é, esgotámos mais de 50% das reservas mundiais? O que acontece, afinal, com a oferta e a procura de petróleo? Até que ponto o crescimento do consumo da China é o responsável pela actual situação? Este dossier do Esquerda.net apresenta perspectivas e respostas diversas a estas e outras questões.

Para o economista e jornalista F. William Engdahl, nenhuma crise de oferta justifica o nível de preços praticado actualmente. No artigo O preço do petróleo zomba da realidade dos combustíveis , ele sustenta que pelo menos 60% do preço vem da especulação dos mercados de futuros, orquestrada pelos fundos especulativos, e considera que a teoria do "pico do petróleo" é um embuste que ajuda a especulação. Já o Prémio Nobel Joseph Stiglitz considera que a guerra do Iraque é claramente um factor importante , lembrando que antes da guerra, já considerando a crescente procura de energia da Índia e da China, os mercados de futuros projectavam que o preço do petróleo se manteria em torno de 23 dólares por barril. Para Paul Craig Roberts, no artigo Por que o preço do petróleo está alto?, os dois maiores factores que contribuem para os preços altos são a fraqueza do dólar e a liquidez que o Federal Reserve está a injectar na economia norte-americana.Na perspectiva da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), "o mercado petrolífero está louco" , porque a alta dos preços do petróleo deve-se a tensões geopolíticas, à desvalorização do dólar e à especulação, e não à falta de oferta. Uma perspectiva diferente tem o economista norte-americano Paul Krugman, colunista do New York Times, para quem a alta do preço do petróleo explica-se porque houve um crescimento do produto mundial bruto que não foi acompanhado pela produção petrolífera, que estagnou. Curiosamente, uma posição frontalmente discordante desta é a do multimilionário George Soros, que defende que apesar da queda do dólar e do aumento da procura na China influenciarem os preços da matéria-prima, são os especuladores que mais fortemente afectam a subida de preços, que começam a "ter a forma de uma bolha".

O jornalista francês Jean-Michel Bezat, do Le Monde, mostra que o poder mudou de campo no mundo do petróleo e que os países consumidores e as grandes multinacionais do sector já não mandam como antes. A evolução do preço decide-se nos bastidores do Kremlin e nos meandros do poder iraniano, no meio dos pântanos nigerianos e nas margens do Orenoco venezuelano, nos corredores vienenses da Opep e nas agitadas salas da bolsa de Nova Iorque. E, sobretudo, nos palácios sauditas.

Finalmente, Adrien de Tricornot, também do Le Monde, mostra como os mercados de petróleo e de matérias-primas se transformaram profundamente nestes últimos anos , com a explosão dos produtos financeiros, derivados sobre petróleo, cacau, níquel, etc. E como o afluxo de capitais, na compra, nos mercados de derivados, provocou a subida dos preços "a prazo" que servem, entre outros critérios, de guia para o mercado físico. Um mercado que, aliás, nada tem de transparente.

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Neste dossier:

Dossier preço do petróleo

Afinal, até que ponto pesa a especulação no preço final do barril de petróleo? Mais de 60%, como dizem uns? Apenas um quarto, como dizem outros? Não há especulação, como dizem ainda outros? Atingimos ou não o "pico do petróleo", isto é, esgotámos mais de 50% das reservas mundiais? O que acontece, afinal, com a oferta e a procura de petróleo? Até que ponto o crescimento do consumo da China é o responsável pela actual situação? Este dossier do Esquerda.net apresenta perspectivas e respostas diversas a estas e outras questões.

Por que o preço do petróleo está alto?

Como explicar o preço do petróleo? Porque é tão alto? Está a esgotar-se? Os fornecimentos estão a ser interrompidos, ou o preço alto é reflexo da ganância das companhias petrolíferas ou da OPEP? Chávez e os sauditas estão a conspirar contra nós?

Por Paul Craig Roberts, Information Clearinghouse

Mercados opacos cada vez mais financiarizados

Os contratos de futuros1 sobre o ouro negro representarão 30 a 35 vezes o volume do comércio real de petróleo.
Nicolas Sarkozy, na entrevista de 24 de Abril à televisão, pôs em causa a "incrível" especulação que provoca a subida brutal dos preços das matérias primas.
Artigo de Adrien de Tricornot, publicado no jornal Le Monde

O poder mudou de campo

No início dos anos 1970, quando o barril de "ouro negro" valia menos de 2 dólares, ninguém iria imaginar que um presidente americano se encontraria um dia na situação de ser obrigado a implorar ao rei da Arábia Saudita por um aumento da produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), com o objectivo de forçar uma redução dos preços. O Ocidente, no entanto, chegou a esse ponto.
Artigo de Jean-Michel Bezat, publicado no jornal Le Monde em 20 de Maio de 2008

Números do petróleo

Para o economista norte-americano, colunista do New York Times, a alta do preço do petróleo explica-se porque houve um crescimento do produto mundial bruto, que não foi acompanhado pela produção petrolífera, que estagnou. Publicamos em seguida a tradução de duas colunas publicadas no diário norte-americano.

Por Paul Krugman, do New York Times

OPEP: o mercado petrolífero está louco

O ministro argelino de Energia e actual presidente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), Chakib Khelil, disse que "o mercado petrolífero está louco". Para este responsável, a OPEP nada pode fazer para baixar os preços do petróleo, já que a alta se deve a tensões geopolíticas, à desvalorização do dólar e à especulação, e não à falta de oferta.

Stiglitz: A guerra do Iraque é um factor importante no aumento de preços

Para o prémio Nobel da economia, embora existam outros factores envolvidos no aumento de preço do petróleo, a guerra do Iraque é claramente um factor importante. Stiglitz lembra que antes da guerra, já considerando a crescente procura de energia da Índia e da China, os mercados de futuros projectavam que o preço do petróleo se manteria em torno de 23 dólares por barril. Foi a guerra - e a volatilidade que tem causado - juntamente com a queda do dólar devida às baixas taxas de juro e ao enorme défice comercial, a responsável por grande parte da diferença que se verifica.

Entrevista de Nathan Gardels, The Huffington Post

O preço do petróleo zomba da realidade dos combustíveis

Para este economista e jornalista americano, especialista na questão energética, nenhuma crise de oferta justifica o nível de preços praticados actualmente. Neste artigo, ele sustenta que pelo menos 60% do preço do petróleo vem da especulação dos mercados de futuros, orquestrada pelos fundos especulativos, pelos bancos e grupos financeiros. Engdahl considera ainda que a teoria do "pico do petróleo" - o argumento de que a produção do petróleo atingiu o ponto em que mais da metade das reservas foi utilizada - é um embuste que ajuda a especulação.
Por F. William Engdahl, AsiaTimesOnline

Multimilionário diz que a especulação é a principal causa da alta do petróleo

O multimilionário George Soros - ele mesmo o maior investidor de fundos privados do mundo - afirma que a principal causa para o aumento dos preços do petróleo é precisamente a especulação. Em entrevista ao "Daily Telegraph", Soros defende que apesar da queda do dólar e do aumento da procura na China influenciarem os preços da matéria-prima, são os especuladores que mais fortemente afectam a subida de preços, que começam a "ter a forma de uma bolha".