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Desigualdade de género no Ensino Superior
A desigualdade de género está ainda profundamente enraizada nas nossas Instituições de Ensino Superior e na nossa Academia. Na direção das Instituições, no topo na carreira de docente ou nos currículos, o sistema de transmissão e produção de conhecimento é ainda altamente masculinizado e norteado pelo “olhar masculino”.
Apesar de as mulheres, no geral, serem mais graduadas que os homens – existem mais mulheres licenciadas, mestres ou doutoradas do que homens - , são ainda quem ganha menos e quem tem menos acesso a posições de liderança dentro e fora das Instituições de Ensino Superior. No mundo do trabalho, somos as mais expostas à precariedade e ganhamos cerca de menos 22% que os homens e, por exemplo, somos apenas 6% dos conselhos de administração das nossas empresas. Dentro das universidades, a situação não difere muito. Entre os trinta e um presidentes ou reitores das universidade e politécnicos portugueses, apenas 5 são mulheres (ISCTE, UCP, UAberta, UÉvora e IPCA). Os corpos docentes são aparentemente paritários: em 2018, 55% dos docentes eram do sexo masculino e 45% do feminino. No entanto, estes números são enganadores e é necessário olhá-los de outra perspetiva. Apesar de existirem muitas mulheres docentes, a esmagadora maioria é professora auxiliar ou adjunta. Apenas uma em cada quatro professores catedráticos é do sexo feminino. O topo da carreira académica, tal como a gestão das Instituições de Ensino Superior, continua a ser predominantemente masculina. Nesta questão, continua a pesar substancialmente a questão da maternidade: as mulheres são ainda forçadas a escolher entre serem mães e terem uma carreira académica de excelência, mesmo em famílias que não são monoparentais. Por isso, as investigadoras e professoras estão sobrecarregadas com uma dupla jornada: a profissional e a de serem mães.
No Ensino Superior, o capital simbólico dos cursos ditos “femininos” continua a ser inferior ao dos cursos “masculinos”. Enfermeira ou Educadora de Infância são profissões às quais nos referimos no feminino pois são áreas que são historicamente associadas às mulheres. Simultaneamente, são áreas desvalorizadas face à medicina (o médico) ou à docência no Ensino Superior (o professor). Por outro lado, cursos como a Engenharia ou a Arquitetura são ainda cursos ditos “de homem”, nos quais as matemáticas e as ciências exatas, tendo grande importância, são ainda consideradas como demasiado complexas para as mulheres e onde reina um ambiente de masculinidade tóxica e de desvalorização do trabalho e da capacidade das estudantes. As estudantes da FAUP fizeram recentemente uma campanha na qual expuseram os insultos misóginos dos quais eram frequentemente vítimas por parte de professores e colegas homens – desde o assédio sexual à afirmação de uma natureza feminina inferior. O problema não termina aqui: existe uma secundarização da produção teórica das mulheres em currículos académicos esmagadoramente masculinos. As investigadoras e cientistas não se pronunciaram somente sobre assuntos relacionados com as mulheres, em todas as áreas do conhecimento, há autoras importantes que são invisibilizadas. É necessária uma modernização teórica que traga para as nossas aulas e bibliografias não só as teorias e as autoras feministas mas igualmente as lutas das mulheres ao longo da História.
A luta feminista urge ser travada no campo da Academia, da Ciência e das nossas Instituições de Ensino Superior. Nos últimos anos, cientistas, professoras e investigadoras têm vindo a afirmar teorias e escolas de pensamento feministas e a lutar pelo devido reconhecimento do seu trabalho científico. Uma Universidade verdadeiramente democrática e livre de opressões tem necessariamente de ser feminista.
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