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A crise, até onde?

Os peritos estão de guarda contra a recessão mais forte desde o pós-guerra no países desenvolvidos. Falência de empresas e a degradação das economias familiares (e particularmente aqueles demasiado pobres) fragilizam as instituições financeiras.
Por Guillaume Duval, editor chefe de Alternativas Económicas
Não é fácil dizer o que será feito amanhã. O pânico financeiro foi detiddo, mas se o espectro de 1929 se alonga, a confiança não se renova. Produtos derivados, fundos especulativos, cadáveres que provavelmente ainda são numerosos nos placards do "sistema financeiro fantasma" construído graças à desregulamentação.
Desde a reunião do G20 no dia 15 de Novembro, as grandes potências anunciaram a sua intenção de colocar o futuro em ordem, mas ainda falta traduzir as palavras em actos. E, entretanto, acabar de limpar as quantidades gigantescas de más dívidas acumuladas através da opacidade dos paraísos fiscais. Sobretudo, a economia real treme por todo o lado: o mercado imobiliário afunda-se, o consumo cai, o investimento recua e o desemprego está a subir.
A vaga de desconfiança e o racionamento do crédito desencadeados pelo pânico financeiro aceleraram fortemente um abrandamento económico já iniciado. Paralelamente, as esperanças colocadas nos países emergentes esfumaram-se: muitos deles, de facto, padecem da fuga de capitais, que voltaram aos países ricos, e da baixa das exportações e do preço das matérias-primas causadas pela recessão económica no Norte.
Resultado: os analistas fazem o prognóstico para 2009 como sendo a maior recessão desde o pós-guerra no países desenvolvidos. A falência das empresas e enfraquecimento das economias familiares (particularmente, dos muito pobres) fragilizam por sua vez as instituições financeiras. Com a solução, o risco de um novo aperto do crédito e novas necessidade de recapitalização. Uma dinâmica que pode desembocar numa estagnação prolongada, como aconteceu no Japão nos aos 90.
Poderá limitar-se a amplitude e a duração de tal crise? Dependerá sobretudo das políticas monetárias e orçamentais. Como é hábito, os poderes público americanos reagiram massivamente. Mas o sobreendividamento das famílias americanas é tal que torna pouco provável que aquela reacção seja suficiente para evitar uma recessão prolongada. As autoridades chinesas apresentaram também um plano ambicioso para apoio à procura interna.
Todavia, apesar do seu crescimento impressionante, a economia chinesa não significa mais que 6% da economia mundial, enquanto que os Estado Unidos representam 25% e a zona euro 22%.
Simultaneamente, o Fundo Monetário Internacional, que tirou as suas lições do passado, vem em socorro dos países do Sul sem negociações. Por agora, é sobretudo a Europa que representa o elo mais fraco da luta contra a recessão. No plano monetário, o Banco Central Europeu demorou a tomar medidas contra o abrandamento. E apesar do plano de salvamento da banca, a Europa ainda não se entendeu para apoiar, à altura dos problemas, a economia real.
24 Novembro 2008
Tradução de Sofia Gomes
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