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Carta de Alexis Tsipras a Durão Barroso

Texto integral da mensagem de Alexis Tsipras ao presidente da Comissão Europeia, enviada após ter devolvido o mandato para a formação de governo, na qual chama a atenção para o facto de a solução para os actuais problemas globais estar ao nível europeu.
Foto Parlamento Europeu/Flickr

10 de Maio de 2012

Caro Sr. Presidente,

Envio esta carta depois de devolver o mandato exploratório que o presidente da República Helénica me deu para tentar formar um governo que conseguisse a maioria no Parlamento, de acordo com a nossa Constituição. Esta carta segue a de 21 de Fevereiro.

O voto do povo grego no domingo, dia 6, retira legitimidade política ao Memorando da Troika (MoU/MEFP), que foi co-assinado pelo anterior governo de Lucas Papademos e os dois partidos políticos que constituíram uma maioria parlamentar para esse governo. Esses dois partidos registaram perdas, aproximadamente 3,5 milhões de votos e 33,5 por cento da votação total.

De notar que, antes disso, o Memorando da Troka já perdera a legitimidade em termos de efectividade económica. Não apenas porque o Memorando falhou nos seus próprios objectivos. Falhou igualmente em resolver os desequilíbrios estruturais da economia grega e agudizou as desigualdades sociais. Durante os últimos anos, Syriza tem alertado para essas falhas endógenas. As nossas propostas para reformas concretas foram ignoradas por todos os governos com os quais a União Europeia colaborou intimamente.

De notar ainda que por causa do Memorando da Troika a Grécia é o único país europeu em tempo de paz que até 2012 viveu cinco anos consecutivos de recessão. Além disso, falhou em assegurar com credibilidade a sustentabilidade da crescente percentagem de dívida pública grega em relação ao PIB. A austeridade não pode ser a cura para a recessão. É imperativa e socialmente justa, no imediato, uma inversão dos caminhos da nossa economia.

Necessitamos urgentemente de assegurar a estabilidade económica e social no nosso país. Com este objectivo temos que tomar todas as medidas necessárias para reverter a austeridade e a recessão. Porque, além de carecer de legitimidade democrática a aplicação deste programa de "desvalorização interna" está a dirigir a nossa economia para um caminho catastrófico, o qual anulará, ao mesmo tempo, todos os pré-requisitos para a recuperação. A desvalorização interna provocou uma crise humanitária.

Além disso, necessitamos de reexaminar globalmente a estratégia actual na perspectiva de saber se representa uma ameaça para a coesão e a estabilidade social da Grécia e de toda a Zona Euro.

O futuro comum dos povos da Europa está a ser ameaçado por estas escolhas catastróficas e, por isso, a solução está a um nível Europeu.

Com os melhores cumprimentos,

Alexis Tsipras

(...)

Neste dossier:

O que é a Syriza?

A derrota dos partidos da troika nas eleições de 6 de maio é fruto da resistência social que nos últimos anos tem marcado a vida política na Grécia. Nas urnas, o eleitorado recompensou as propostas socialistas da coligação Syriza e deram-lhe a responsabilidade de liderar a oposição à austeridade e à ruína do país.
Dossier organizado por Luís Branco.

Alex Tsipras: está a ser travada uma verdadeira “guerra entre o povo e o capitalismo”

Numa entrevista ao Guardian, Alex Tsipras defendeu que “a derrota é uma batalha não travada”, sendo que o povo grego está a “lutar para vencer". A derrota do capitalismo não será, para Tsipras, “apenas uma vitória para a Grécia, mas para toda a Europa".

Da antiglobalização ao governo de esquerda

A Coligação da Esquerda Radical surgiu em 2004 e resulta de um processo de diálogo iniciado em 2001 entre muitas correntes da esquerda grega, de inspiração socialista, eurocomunista, ecologista, maoísta e trotskista. Hoje a Syriza é composta por doze organizações e muitas personalidades independentes, entre elas algumas figuras que se afastaram do PASOK nos últimos anos.

"A saída do euro seria um desastre também para os credores estrangeiros"

Em entrevista ao esquerda.net, o responsável pela política europeia do maior partido da coligação Syriza explica a origem e a política do movimento que mudou o mapa político grego e é apontado como favorito às próximas eleições. Yiannis Bournous diz que "está em marcha uma campanha para aterrorizar os eleitores" e pede o apoio dos cidadãos europeus de esquerda ao programa alternativo que a Syriza apresenta.

"Como não nos podem expulsar do euro, tentam que nós nos vamos embora"

A deputada mais votada da Syriza nas últimas eleições foi a antiga atleta olímpica que rompeu com a bancada do PASOK quando votou contra o primeiro plano  da troika na Grécia. Nesta entrevista, Sofia Sakorafa defende uma auditoria à dívida e uma investigação política ao destino desse dinheiro. Por Gemma Saura, do La Vanguardia.

A saída da crise está à esquerda

Publicamos neste dossier o resumo dos compromissos programáticos apresentados pela Syriza ao eleitorado nas eleições do passado dia 6 de maio.

Quem é Alexis Tsipras?

Aos 37 anos, o engenheiro civil nascido poucos dias depois da queda da junta militar grega, em julho de 1974, diz estar preparado para  corresponder ao apoio popular e vir a liderar o primeiro governo de esquerda decidido a romper com a receita neoliberal que afundou o seu país.

Carta de Alexis Tsipras a Durão Barroso

Texto integral da mensagem de Alexis Tsipras ao presidente da Comissão Europeia, enviada após ter devolvido o mandato para a formação de governo, na qual chama a atenção para o facto de a solução para os actuais problemas globais estar ao nível europeu.

"As politicas de 'austeridade' exigem suprimir os laços sociais"

Nasos Iliopoulos é uma figura emblemática da Syriza. Secretário de juventude do Synaspismos, o maior partido entre os que compõem a coligação, tem menos de trinta anos, veste-se de forma casual, é eloquente e amistoso. Sentiu na pele os efeitos da repressão. Há um ano, foi brutalmente espancado pela polícia e hospitalizado com ferimentos múltiplos. Foi entrevistado em fevereiro por Alex Nunns, do Red Pepper.

Mensagem de solidariedade do Bloco de Esquerda

Na sequência do resultado eleitoral de 6 de maio, o Bloco de Esquerda enviou uma mensagem de solidariedade e de apoio à iniciativa da Syriza de tentar formar um governo de esquerda para romper com a troika e assim respeitar o mandato popular que deu larga maioria às forças opostas ao memorando que empurrou a Grécia para a catástrofe social e económica.