Mulheres de Abril

A fúria do chefe da Brigada Silva Carvalho era indescritível, pois além de me insultar e deixar a cara inchada, cuspiu-me três vezes para a cara. Foi este o meu último dia de prisão. Por Maria Custódia Chibante (mulher do Couço).

Tinha acabado de fazer 17 anos quando participei na primeira manifestação política. Foi no dia 8 de Maio de 1945, o dia do armistício. Já existia entre nós a noção do que foi a guerra, do que foi o nazifascismo, da aliança do Salazar com o Mussolini e o Hitler. Para mim isso era muito claro. Que não existia, de maneira nenhuma, isenção da parte do Salazar. Por Margarida Tengarrinha.

Recupero a liberdade com a liberdade do nosso país graças ao Movimento das Forças Armadas na Revolução de Abril. E sempre me faltarão as palavras para dizer esta emoção de saborear um sonho há muito sonhado, de encetar o resto da minha vida num país liberto da cinza dos dias oprimidos. Por Helena Neves.

Estava sempre numa ansiedade, desejando ir [de uma vez…] para tortura de sono. Queria ver-me livre daquilo. Tinha medo e sabia que esse era o meu destino, mais cedo ou mais tarde. Por Helena Pato.

No Reduto Sul, onde estavam os pides e não os guardas prisionais, fizeram-me uma coisa que seria incompreensível, se não fosse o objectivo de humilhar, particularmente por eu ser mulher. Despiram-me completamente. Por Aurora Rodrigues.

Havia muitas ligações entre o movimento estudantil e outros movimentos que queriam o fim do fascismo e a independência das colónias. Daí que houvesse tantas prisões de estudantes, vigorosamente denunciadas pela imprensa estudantil. Por Manuela Góis (Manu).

Na crise académica de 1969, as mulheres participaram massivamente, tanto nas assembleias de estudantes como nas manifestações, saindo da “concha” a que estavam circunscritas. Por Maria Etelvina Sá.

Despedi-me da minha mãe, do meu pai e da irmã com o coração apertado. Não sabia por quanto tempo seria a separação. E não podia adivinhar que nesse mesmo ano, em Agosto, seriam presos pela PIDE. E assim entrei eu na organização das “acções especiais”. Por Maria Machado.

A liberdade que nunca se imaginara poder ser tão grande, as esperanças quase sem limites dos tempos que se seguiram. Sim, tudo isso, mas foi longo o caminho de muitos para lá chegarem – e o meu também foi. Por Joana Lopes.

O meu primeiro confronto político foi com o padre que dava aulas de moral no Liceu de Setúbal e que, tinha eu dez anos, me disse “a menina é comunista”. Por Isabel do Carmo. 

Estava na clandestinidade quando se deu o 25 de Abril. Nunca esquecerei a emoção sentida ao tomar conhecimento do derrube da ditadura! O país tinha despertado vestido de Primavera! Por Graça Marques Pinto (Magaça).