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Extinção da freguesia de Cabeça, a primeira aldeia Led de Portugal

Foi a freguesia do concelho de Seia que mais se desenvolveu, ou não seríamos uma das primeiras aldeias a ter internet em todas as casas com uma rede wifi, partilhada pela Junta. O que motiva a minha oposição a esta Reforma da Administração Local não são só os aspetos administrativos e financeiros mas, essencialmente, aspetos afetivos, familiares e sociais. Texto de Nuno Miguel Dias Silva

Sou de uma pequena aldeia, Cabeça, na Serra da Estrela, esculpida no meio de uma montanha, temos uma orografia, que nos dificulta todas as nossas deslocações a freguesias vizinhas, as duas mais perto distam a distâncias superiores a 10km, em estradas estreitas de difícil acesso, demorando mais de 20 minutos a alcançar qualquer uma.

A nossa sede de Município está a 22 km de distância, demorando mais de 35 minutos a chegar lá.

O único fator estado que existe na minha freguesia é a Junta de Freguesia, é aqui que me dirijo quando tenho algum problema.

Não temos qualquer tipo de transportes públicos, talvez devido à estrada de ligação a Vide, para onde o Projeto de Lei 320/XII/2.ª1 nos que empurrar.

Desde 1806, ano da sua criação, foi a freguesia do concelho de Seia que mais se desenvolveu, quer a nível material como também tecnológico, ou não seríamos uma das primeiras aldeias a ter internet em todas as casas com uma rede wifi, partilhada pela Junta.

Somos a Primeira Aldeia Led de Portugal, depois das obras de requalificação da zona histórica, dotando-nos de melhores infoestruturas, quer a nível elétrico, das águas e dos esgotos, bem como das ruas estreitas, onde foi colocado um empedramento em xisto, que lhe confere uma imagem única, todos os que nos visitam ficam encantados.

Foi a primeira freguesia do concelho a realizar, gratuitamente, o transporte das crianças, de casa para a escola e da escola para casa, bem como de todas as pessoas maioritariamente para Seia, com uma carrinha comprada pela Junta, e mantendo este serviço até hoje;

Presta apoio às várias faixas etárias, especialmente a crianças, jovens e idosos. As associações, movimentos que proporcionam às crianças e jovens a ocupação de tempos livres, de uma forma saudável, contribuindo para o seu desenvolvimento psíquico motor, pessoal, cultural e social. As várias valências do Centro Social contribuem para uma melhor qualidade de vida dos idosos.

Considerando todos estes aspetos, a extinção desta freguesia seria muito prejudicial para toda a sua população, maioritariamente, idosa. Foram estes homens e mulheres que mais contribuíram para a sua criação e desenvolvimento, apostando num serviço de proximidade ao implementar localmente todos os serviços necessários à melhoria da sua qualidade de vida e das gerações futuras. Com fracos recursos financeiros, não havendo transportes públicos e sem meios próprios para se deslocar, será muito difícil a esta população dirigir-se à nova sede de freguesia, para tratar de qualquer assunto.

Acredito também que, com a extinção desta freguesia, seja ainda mais significativa a tendência de diminuição da população que se verificou nos Censos 2011, pois haverá redução de grande parte dos serviços, conduzindo a um maior número de migração e emigração.

Finalmente, o que motiva a minha oposição a esta Reforma da Administração Local não são só os aspetos administrativos e financeiros mas, essencialmente, aspetos afetivos, familiares e sociais. Estes fatores são determinantes para manter um serviço qualitativo de proximidade e de solidariedade com a população, de modo a minimizar o isolamento da mesma.

Texto de Nuno Miguel Dias Silva


1 Projeto de lei Reorganização Administrativa do Território das Freguesias, de extinção de freguesias, aprovado na AR apenas com os votos a favor de PSD e CDS/PP e com os votos contra de Bloco de Esquerda, PS, PCP e PEV.

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