Está aqui
Francisco Louçã comunica fim de mandato de deputado
Declaração de Francisco Louçã:
"Entreguei agora à presidente da Assembleia da República a comunicação do fim do meu mandato como deputado e não me venho despedir, venho falar-vos do futuro.
Saio do parlamento por uma razão e por mais nenhuma: entendo, para mim próprio, que o princípio republicano marca limites à representação que tenho desempenhado e exige a simplicidade de reconhecer que essa responsabilidade deve ser exercida com contenção. Ao fim de treze anos, reclamo a liberdade de influenciar o meu tempo: é agora o momento de uma renovação que fará um Bloco mais forte.
Não preciso de vos garantir que continuarei a minha vida política com os mesmos valores e com a mesma dedicação ao Bloco de Esquerda e à luta sem tréguas pela justiça social. É para aí que levarei sempre o meu Rocinante.
Mas também vos digo, para que não me perguntem nunca mais nestes tempos cinzentos, que saio exatamente como entrei, com a minha profissão, sem qualquer subsídio e sem qualquer reforma.
Quero aliás deixar cristalinamente claro, especialmente hoje, que não faço qualquer cedência ao populismo antiparlamentar: os partidos e personalidades que esperam obter ganhos com essa demagogia terão sempre a minha frontal condenação. Digo-vos por isso a minha verdade: também no parlamento encontrei alguns homens e mulheres extraordinários e respeito muito os adversários que sejam fiéis ao seu programa. E, por isso mesmo, reafirmo-vos convictamente, contra todo o populismo, que é um crime antidemocrático deixar diminuir ou deixar corroer o pluralismo político.
Ao longo destes treze anos, fui eleito cinco vezes e enfrentei cinco primeiros-ministros. Disse-lhes o que lhes tinha para dizer, em nome de muita gente. Fiz 1012 intervenções em plenário e os meus amigos lembrar-se-ão de algumas. Espero que os meus adversários também se lembrem.
Nunca deixei de votar de acordo com a minha consciência. Cumpri todos os meus compromissos com os eleitores. Apresentei, com o grupo parlamentar do Bloco de Esquerda, 606 projetos de lei. Alguns foram aprovados e mudaram a vida de muita gente e a cultura do país inteiro. Nestes anos começou a despenalização dos toxicodependentes, foram protegidas as mulheres que decidiram abortar, foi atacada a violência doméstica, avançou-se no difícil caminho da responsabilidade fiscal e da luta contra a corrupção, ergueu-se uma força contra a pirataria financeira, os jovens precários começaram a ter voz, os serviços públicos ganharam mais expressão na democracia, aproximamo-nos da paridade entre homens e mulheres nas eleições, reconheceu-se legalmente o casamento gay, houve empenho solidário contra o terror das guerras. Com estas mudanças, Portugal passou a respirar melhor.
Vivi com intensidade cada momento desta luta parlamentar, que é essencial para uma esquerda coerente. Agradeço a todas as deputadas e deputados do Bloco de Esquerda a força incessante que trazem a este confronto e tudo o que me ensinaram, e mais ainda o que vão continuar a fazer contra a política cínica do empobrecimento.
Não estarei no parlamento na discussão deste Orçamento, que é um exercício brutal de chantagem contra os contribuintes. Não se pode suportar a arrogância de um governo que quer cortar salários e pensões para entregar nove mil milhões de euros a uma dívida sempre galopante. Ninguém pode suportar a incompetência e a mentira. Por isso, combatemos o Orçamento com soluções radicalmente sensatas: o Bloco já apresentou um programa orçamental com propostas inovadoras, estudadas e exigentes, porque tem cada dia mais responsabilidade e quer ter mais responsabilidade.
Esse é o combate que levarei a todos os lugares da vida social onde puder chegar, e com a mesma energia. A política não se faz só numa sala, faz-se em toda vida, e o magnífico acordar da sociedade, que estamos a conhecer, mobiliza a República para a escolha que é o dever da democracia. Neste momento, só no país inteiro e com a força do trabalho é que poderemos vencer o Orçamento. Só na democracia toda se pode derrotar a bancarrota e demitir o governo. Estarei na cidade com os cidadãos a combater o orçamento do massacre fiscal.
E, se me perguntam o que farei a partir de hoje, quero responder-vos com toda a clareza: dedicarei o que sei e o que posso à luta por um governo de esquerda contra a troika e, para isso, ao esforço de criar pontes e caminhos novos, de juntar competências, de ajudar a levantar a força deste povo. Precisamos desse governo para romper com o Memorando e para defender Portugal, o Portugal do trabalhador e do contribuinte, de quem luta pelo seu povo e não aceita a humilhação da guerra infinita contra os salários e as pensões. Contribuirei intensamente para isso, porque para lá chegar é preciso convicção e uma paciência impaciente que nunca desiste. Nunca desisto nem me canso disso que é o essencial.
Por último, faço um apelo a todos os meus amigos: adiram ao Bloco de Esquerda. Agora, que é preciso força. Agora, que é preciso atitude. Agora, que é preciso imaginação. Agora, que é preciso querer vencer. Aí estaremos, todos, como sempre, com a mesma força da vida."
Comentários
Um abraço e um muito obrigado
Um abraço e um muito obrigado por partilhares as imensas lutas deste lado da barricada.
Praticamente desde que me
Praticamente desde que me lembro de mim, lembro-me da luta deste grande homem. Tenho 36 anos e pelo menos há 30 que me lembro de ver cartazes e panfletos do PSR. Fui uma das pessoas que assinou a fundação do Bloco.
Se tivessemos mais pessoas/políticos como este Homem, teriamos certamente um país melhor.
Da minha parte um MUITO OBRIGADO e espero continuar a vê-lo lutar por nós e a motivar muitos para fazer o mesmo!
Obrigado Francisco !
Obrigado Francisco !
Chico, acho que todos te
Chico, acho que todos te devemos o teu empenho, a tua lisura, a tua inteligência e o caminho político que escolheste. Ainda que há uns anos tenha deixado de te acompanhar físicamente nas campanhas do nosso ido PSR, não deixei de te ouvir, de concordar contigo, de me rever nas tuas ideias, de as partilhar e de, tantas outras vezes, discordar e de achar que o caminho deveria ser outro. Mas todos estes sentimentos só sente quem não deixa de estar atento e de fazer política de muitas outras maneiras que não na militância partidária. Espero que nos cruzemos mais vezes. A esquerda tem hoje mais do que nunca que estar com as mãos dadas. Obrigado pelo que nos ensisnaste. Obrigado pelo exemplo que agora dás.
Quero agradecer-lhe, pela
Quero agradecer-lhe, pela forma como deu voz aos que menos têm forma de se fazer ouvir, e ter apoiado o Movimento do qual eu fiz e faço parte (Movimento Contra a Alta Tenção em Zonas Habitadas).
Muito Obrigado.
Rogério Paulo (Batalha).
Um grande abraço a Francisco
Um grande abraço a Francisco Louçã. Um político exemplar. Emitiu com frontalidade e correção o que tem de ser dito. Obrigado pelo trabalho desenvolvido no PSR e no Bloco de Esquerda.
Chicão, Sabia que você, como
Chicão,
Sabia que você, como muitos de nós outros, não precisa nem de mandato, nem de cargo para militar pelas causas da esquerda. Foi o idealismo que o moveu por esses anos todos. Sempre soube disse.
Muito obrigado por tudo.
Não vamos mais ouvir nenhum Primeiro-Ministro nervoso dando murros à mesa e repetindo "sr. Deputado Francisco Louça, faça-me o favor...", como tantas vezes aconteceu com José Sócrates e Pedro Santana Lopes, para citar exemplos, nesses momentos que davam vida aos debates quinzenais. Não vamos mais, infelizmente.
Porém, se calhar poderemos ouvi-lo em São Paulo, Luanda, Nova Iorque e tantas outras paragens para lembrar às pessoas que a culpa nem sempre será das vítimas, que é o trabalho que constrói e que a vida se estende para além do mercado. Um arauto contra o FMI e a banca. Enfim, talvez seja a hora de você começar a girar o mundo, a ir a outros países falar a mais pessoas que precisam ouvir isto tudo que você melhor do que ninguém sabe dizer.
o meu forte, amigo e
o meu forte, amigo e agradecido abraço!
Num tempo em que, cada vez
Num tempo em que, cada vez mais, precisamos, de vozes que se levantem contra este estado de coisas para que nos conduziram (e conduzem), é com imensa pena que vejo perder-se uma voz que, ao longo destes anos, se tem revelado bastante incómoda, muitas vezes feroz, acertiva, dilacerante para os "bem-instalados"..., e sempre ao lado dos mais fracos. Pela postura deste homem, pela sua rectidão, completamente despido de vaidade, deixo aqui o meu apreço e a minha grande admiração(não sendo militante do BE, como não sou!)e seria bom, para muitos parlamentares que tomassem o comportamento de Louçã como um exemplo a seguir. Para Louçã, o meu "até sempre" na luta por uma sociedade mais justa e muita saúde para que possa levar a sua bandeira ainda durante muitos anos.
Não sou militante do BE. Mas
Não sou militante do BE. Mas esse facto confere por isso mais força à minha manifestação do grande apreço que sempre tive pelo parlamentar Francisco Louçã. Tanto ou mais que algumas das suas "bandeiras", foi a sua inteligência e saber que criaram os maiores engulhos aos adversários, confrontados com a tenacidade posta nos debates. Sem desprimor para quem o substitua, vai ser difícil voltar a ter na Assembleia da República um parlamentar de tão alto gabarito. Descansa-nos o facto de sabermos que continuará a sua luta por um Portugal digno.
Felicito Francisco Louçã pela sua declaração no fim do mandato: volta à Universidade e sai sem subsídios e sem reforma! Um exemplo para todo o Parlamento, se ele mesmo desejasse também ser digno.
Uma só palavra : Obrigado.
Uma só palavra : Obrigado.
Não comento a saída do
Não comento a saída do Francisco Louça, que tem o meu respeito, porque não conheço os seus contornos exatos. Mas tenho uma palavra a dizer sobre parte da sua declaração. Então pedir honestidade aos políticos é populismo? Conheceu pessoas extraordinária no Parlamento? A minha pergunta é: e porque é que isso devia ser excecional? Não deviam ser assim a maioria? Não traz subsídios nem reformas? E isso não devia ser a norma num Parlamento que aprova submeter milhares de cidadãos na miséria? Porque carga de água temos de insistir neste culto da personalidade dos que estão no poder, quando somos nós que lhes pagamos o ordenado? Acho uma piada (nenhuma) ao facto de aquilo que noutras profissões se denomina de Ética Deontológica, na política, chamar-se de Populismo. Muito conveniente aos políticos não é?
Adicionar novo comentário