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Cavaquistas em guerra aberta contra o Governo

Depois de Alexandre Relvas, mandatário de Cavaco, ter acusado o Governo de "experimentalismo social", a ex-líder do PSD Manuela Ferreira Leite diz que a receita de Passos Coelho "vai deixar o país destroçado" e que é necessário "negociar verdadeiramente com a troika". Ferreira Leite apela aos deputados para que chumbem estas medidas no Orçamento e até admite participar na manifestação do próximo sábado.
"Não sei qual é o interesse desta medida surreal da taxa social única se se sabe que vai aumentar o desemprego. Não há uma pessoa a defendê-la", afirmou a ex-presidente do PSD.

Em entrevista na TVI24, Manuela Ferreira Leite arrasou a política de Passos Coelho e Vítor Gaspar e sublinhou que "pelo caminho que vamos não só não se atingem os objetivos, como chegamos ao fim com o país destroçado". A ex-ministra das Finanças confessou ter sentido "um grande desconforto" enquanto ouvia a conferência de imprensa onde Vítor Gaspar anunciava novas medidas para penalizar trabalhadores e reformados, aliviando as contribuições das empresas para a Segurança Social.

Em menos de uma semana, esta é a segunda voz autorizada no círculo cavaquista a vir condenar a orientação do Governo de Passos Coelho, Paulo Portas e Vítor Gaspar. Na segunda-feira foi o empresário Alexandre Relvas - o mandatário que Cavaco Silva gostava de apresentar como "o meu Mourinho" na campanha presidencial - a vir dizer à Rádio Renascença que “é inaceitável sujeitar o país ao experimentalismo social a mando da ‘troika’, o que se traduz num profundo desrespeito pelos portugueses. É também preocupante o impacto destas decisões em termos sociais” .  

Esta quarta-feira, foi Ferreira Leite a decidir vir a público arrasar as medidas apresentadas por Coelho e Gaspar. "Não sei qual é o interesse desta medida surreal da taxa social única se se sabe que vai aumentar o desemprego. Não há uma pessoa a defendê-la", afirmou a ex-presidente do PSD, somando-se assim às críticas de sindicatos e associações de empresários e comerciantes quanto à medida anunciada pelo Governo PSD/CDS.

"Parece que se está a querer ficar igual à Grécia de propósito e não sei bem porquê", interrogou-se Ferreira Leite, adiantando que "ninguém sabe em que consistem as negociações com a troika" e que a "alternativa" passa por "negociar verdadeiramente com quem está a impor as regras".

Ferreira Leite diz que "os modelos do ministro das finanças estão a ser perniciosos porque não têm adesão à realidade" e admite vir a participar na manifestação de 15 de setembro. "Desde que sejam manifestações pacíficas e não simplesmente de protesto, estas manifestações podem ser benéficas para fazer os decisores públicos repensarem determinadas medidas", afirmou a ex-líder do PSD. Quanto à sua presença na manifestação "Que se Lixe a Troika! Queremos as Nossas Vidas" no sábado, Manuela Ferreira Leite diz que "ainda é cedo para dizer".

Na entrevista, Ferreira Leite defendeu os reformados do novo imposto que o Governo se prepara para aplicar, dizendo tratar-se de uma medida "absolutamente ilegal". "Trata-se de alguém que não tem forma de se defender nem de escapar a nada disto. Trata-se de alguém que poupou o seu dinheiro e que confiou numa instituição para ter a sua velhice assegurada. Isto é pior que cair num conto do vigário, é um logro! Está-se a destruir aquilo que tem sido um elo de coesão social", acrescentou.

A antiga deputada concluiu que a bancada do PSD não pode aceitar estas medidas e depois ficar à espera que Cavaco Silva as vá vetar, porque o Presidente da República "não serve para lhes limpar as consciências". Em alternativa, defende que cada um "faça aquilo que deve fazer para tentar inverter a orientação política que está a ser seguida". E foi mais longe, garantindo que "há disciplina partidária e há sempre formas de, quanto mais não seja, se abandonar o mandato".

"Os deputados foram eleitos pelas pessoas. E eu estou para ver como é que eles reagem perante o Orçamento", avisou Ferreira Leite, num claro desafio à direção da bancada laranja. Mas o parceiro de Governo não ficou isento de críticas por parte da antiga colega de Governo de Paulo Portas durante o mandato de Durão Barroso. "Andamos todos desconfiados sobre o que se passa com o CDS: dá-me a sensação que o CDS não deve saber de muitas destas coisas porque senão tem que dar respostas ao seu eleitorado. Se o líder do CDS estava consciente destas medidas, podia ter reagido sem ter que consultar o seu partido", afirmou Ferreira Leite.
 

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