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Governo estuda fecho de mais doze urgências

Um dia depois de Paulo Macedo ter garantido aos jornalistas o fim dos cortes na Saúde, a imprensa revela um estudo do Governo que propõe encerrar uma dúzia de Serviços de Urgência Básica em todo o país. Autarcas e utentes contestam as recomendações deste estudo.
Foto Paulete Matos.

Segundo a agência Lusa, o documento foi entregue ao ministro da Saúde em fevereiro, mas só agora foi divulgado, um dia depois do mesmo ministro ter garantido aos jornalistas que vai defender no Governo que "não deve haver mais cortes na Saúde".

Os cortes que o ministro está a preparar nas urgências irão afetar doze cidades, segundo a lista publicada esta quarta-feira no Correio da Manhã: Fafe, Santo Tirso, Macedo de Cavaleiros, Valongo, Oliveira de Azeméis, Peniche, Tomar, Montijo, Serpa, Montemor-o-Novo, Lagos e Loulé. Todos estes concelhos irão perder os Serviços de Urgência Básica se a proposta tiver luz verde do Ministério. A proposta recomenda ainda a abertura desse serviço em Coruche e na Sertã.

Outras alterações propostas são a passagem a Urgência Médico-Cirúrgica no Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, e nos hospitais de Gaia, Almada e Évora, que perdem a Urgência Polivalente, mais completa. A proposta penaliza os utentes de Mirandela e Torres Vedras, que vêem o serviço passar a Urgencia Básica. Mas há casos em que é proposto o fim da atividade cirúrgica no Serviço de Urgência Básica. É o que está previsto para Barcelos, Amarante, Lamego, Águeda e Elvas. Na Figueira da Foz e Póvoa de Varzim, o serviço é despromovido a Urgência Básica com atendimento pediátrico, o mesmo que passa a existir em Torres Novas.

A reação dos autarcas dos concelhos prejudicados pelas recomendações do estudo não se fizeram esperar. O presidente da Câmara de Fafe, José Manuel Martins Ribeiro, disse ao Público que hoje "os utentes já esperam 8 horas a 10 horas para serem atendidos, se [o serviço de urgência de] Fafe fechasse, o tempo de espera seria infindável”. Na mesma linha, o autarca de Oliveira de Azeméis, Hermínio Loureiro, disse à Lusa que o encerramento da urgência no concelho “significaria um aumento significativo da urgência de Santa Maria da Feira, que já é caótica, o que só prejudicaria os utentes”. Já a vice-presidente da autarquia de Montemor-o-Novo, Hortênsia Menino, reconheceu em declarações ao Público que “na prática não existe um SUB” no concelho e por isso "não se pode encerrar um serviço que não existe". A presidente da Câmara do Montijo, Maria Amélia Antunes, diz que o estudo contraria o que foi acordado no protocolo assinado em 2007, aquando da criação do Centro Hospitalar Barreiro/Montijo, que fixou a manutenção de uma urgência básica no Hospital do Montijo. "Não existe nenhuma razão para que assim não seja”, diz a autarca. Igualmente surpreendido com a conclusão do estudo ficou o presidente da Câmara de Valongo, afirmando que “Essa possibilidade nunca esteve em cima da mesa", nem mesmo quando reuniu com os presidentes da ARS Norte e do Hospital de São João, do Porto, acerca do estudo que recomenda o fecho de urgências.

“Se esta proposta vier a ser aceite pelo Governo, irão aumentar substancialmente as dificuldades, vão-se isolar populações em certas zonas do país, porque, em algumas, há também muitas dificuldades de transportes e as pessoas, nalguns casos, têm idades muito avançadas”, avisou Carlos Braga, do Movimento do Utentes de Serviços Públicos.

Para este movimento de utentes, a medida proposta pela Comissão para a Reavaliação da Rede Nacional de Emergência e Urgência “penaliza grave e drasticamente os direitos dos portugueses”, que já estão a ser afetados “devido ao facto de a sua situação económica e social ser muito débil e também pelo aumento das taxas moderadoras e [a redução] da comparticipação nos medicamentos”. O MUSP promete  "incentivar as populações dessas zonas para que manifestam o seu desagrado e oposição em relação a estas medidas".

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