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Semana de violência policial alarma Grande Lisboa

Na semana após a publicação do relatório da Amnistia Internacional que voltou a acusar a polícia portuguesa de tortura, dois vídeos que testemunham episódios de violência policial estão a chocar a opinião pública.
Esquadra de Santa Marta de Corroios, para onde António Mendes foi levado e saiu horas depois de ambulância para as urgências hospitalares.

O relatório da Amnistia fala de maus tratos e tortura por parte dos agentes policiais e assinala a "pouca responsabilização" a que são sujeitos os seus autores. E a avaliar pela reação da PSP aos dois episódios de tortura na esquadra que foram denunciados nos últimos dias, tudo indica que a situação se manterá.

Um dos casos ocorreu na margem sul do Tejo na noite de 27 de maio e a vítima foi António Mendes, de 46 anos, que aguardava com alguns amigos a saída da companheira do café onde trabalhava. Uma patrulha policial  aproximou-se e pediu-lhes os documentos, que António não trazia consigo. Foi então agredido por polícias fardados e à paisana, depois de ter levado com gás pimenta nos olhos, com os vizinhos a gritarem para pararem com o espancamento. Um deles gravou imagens com o telemóvel, vídeos que foram muito partilhados nas redes sociais e denunciaram a situação. António foi levado para a esquadra de Santa Marta de Corroios e ali terá sido brutalmente espancado até a polícia chamar uma ambulância que o levou ao hospital Garcia da Orta, onde deu entrada às 6h18 da manhã seguinte.

Na explicação que a PSP deu à SIC por email, teria sido António a ter um comportamento violento e a partir vários objetos dentro da esquadra, pelo que será processado pela polícia. Mas a mensagem policial não refere uma única vez qual a necessidade de ter chamado uma ambulância. Aliás, a PSP omite no comunicado o facto de ter chamado a ambulância.

O outro caso ocorreu na madrugada do mesmo fim de semana, quando Benedita Machado regressava a casa no comboio da linha de Cascais com amigos. Segundo o relato da jovem, foi abordada por agentes ainda no interior do comboio por estar a dormir com os pés em cima do banco. Já na estação de Oeiras, viu um dos seus amigos ser agredido pela polícia na plataforma e tentou auxiliá-lo, sendo também agredida e "arrastada para a esquadra". Ali a situação agravou-se e Benedita acusa um agente graduado de a ter agredido. "Encostou-me à parede com violência e encostou os nós dos dedos dele à minha garganta, com tal força que no dia seguinte não consegui comer", disse a jovem à SIC.

Também aqui, a PSP disse à SIC que tanto a jovem como o amigo causaram distúrbios durante a viagem e que apenas existe um auto de contra-ordenação contra eles, que só terá efeito se a autoridade dos transportes quiser avançar. Na resposta policial não há uma palavra sobre as agressões.

Outro caso da semana teve origem numa multa de trânsito em Lisboa, que resultou numa detenção com meios, no mínimo, desproporcionados. Dezenas de agentes foram mobilizados para deter um cidadão que tinha acabado de ser multado e pretendia contestar a coima. A escalada da tensão foi tanto maior porque o cidadão tinha o filho ao colo e os agentes acabaram por retirar-lho à força e em seguida deter o pai com violência, para descontentamento das dezenas de transeuntes que testemunharam aquela situação inédita. Um deles fez um vídeo com as imagens dos polícias a arrancarem-lhe o filho dos braços e a atirarem-no ao chão e dos momentos seguintes, com a criança em estado de choque ao colo de uma agente a ver o pai a ser algemado e a ser posto no interior do carro-patrulha da PSP.

O escândalo que as imagens provocaram nas redes sociais levaram a PSP escolher o Facebook para tornar pública a sua versão dos factos. A polícia diz que o cidadão injuriou o agente, que por sua vez chamou reforços para o prender, "com o maior cuidado possível" e "sem ser possível verificar qualquer imagem de violência".

Agressão da PSP. Margem Sul. SIC 01/06/2012

Benedita Machado Sic 20120531 Jornal da Noite

Eu atendi a chamada já com o carro parado em cima do passeio

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