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Troika retém mil milhões do empréstimo à Grécia

Apesar da promessa de pagar os 5,2 mil milhões referentes à primeira parcela do segundo empréstimo, a troika só vai libertar 4,2 mil milhões. A chantagem ao eleitorado grego surge no dia em que a taxa de desemprego subiu para 21,7%, a um ritmo de 900 novos desempregados por dia. E a primeira sondagem pós-eleitoral dá 23.8% para a coligação Syriza, com todos os outros partidos em queda.
Wolfgang Schauble e Christine Lagarde - ministro alemão das finanças e diretora do FMI - querem "ajudar" os gregos a votar nos partidos que aprofundam a crise do país.

Os números do desemprego ilustram bem o efeito das medidas de austeridade impostas pela troika e o motivo da rejeição clara de mais de dois terços do eleitorado grego aos termos do resgate financeiro. Mais de metade (53,8%) dos jovens abaixo de 25 anos estão desempregados e o país regista já mais de um milhão de desempregados.  

A crise política está reaberta com o resultado eleitoral, muito graças ao sistema que dá 50 deputados de bónus ao partido mais votado, neste caso a Nova Democracia. Embora os partidos da troika estejam em minoria no parlamento, graças aos 50 deputados oferecidos pela lei eleitoral eles conseguem ainda sonhar com a formação dum governo que prossiga a política do memorando. Para isso contam também com a chantagem permanente do governo alemão, que desde domingo se tem multiplicado em declarações com a ameaça da Grécia sair do euro caso não cumpra com as medidas imposta por Berlim e Bruxelas.

"A Grécia pode contar com a solidariedade da Europa, mas se a Grécia não se ajuda a si mesma não há nada a fazer", declarou o ministro das finanças alemão Wolfgang Schaeuble. Nesse sentido, o Fundo Europeu de Estabilização Financeira anunciou a retenção de mil milhões de euros dos 5,2 mil milhões que deveriam ser pagos esta semana. O dinheiro não chega a entrar nas contas controladas pelo Governo e serve apenas para pagar aos credores - que são sobretudo os grandes bancos europeus - o serviço da dívida grega.

Entretanto, o líder do PASOK recebeu o mandato do presidente grego para tentar a formação de um Governo, depois da tentativa falhada de Alexis Tsipras, o líder da coligação Syriza que obteve quase 17% nas eleições de domingo e é agora creditado nas sondagens com 25%, diz o Wall Street Journal citando estudos de opinião encomendados pelo PASOK e a Nova Democracia.

A primeira sondagem divulgada ao público, citada esta quinta-feira pela Reuters, aponta a Syriza como a formação preferida dos gregos em novas eleições, com 23,7% das intenções de voto em dados brutos (+7% que o resultado obtido no domingo). A Nova Democracia regista 17,4% (-1,5%), o PASOK 10,8% (-2,4%), os Gregos Independentes 8,7% (-1,9%), o KKE 6% (-2,5%), os neonazis da Aurora Dourada 4,9% (-2,1%) e a Esquerda Democrática 4% (-2,1%). Com projeção de resultados, a vantagem do Syriza aumenta para 27,7% (126 deputados), a Nova Democracia com 20,3% (57), o PASOK com 12,6% (36), Gregos Independentes com 10,2% (29), KKE com 7% (20), Aurora Dourada com 5,7% (16) e Esquerda Democrática com 4,9% (14).

Segundo o site Athens News,  Tsipras acredita que a intenção dos dois partidos da troika é a de encontrar à esquerda um partido que faça o papel do LAOS, a formação de extrema-direita que deu cobertura ao anterior governo e que viu no domingo os seus eleitores escaparem para o partido neonazi, retirando-lhes a presença no parlamento eleito. O líder da Syriza disse ainda não estar disposto a trair as esperanças do povo grego em troca de alguns ministérios e que lutará até ao fim por um governo que respeite a vontade expressa nas urnas de pôr um fim à austeridade.

O líder do PASOK admite que esse cenário ainda pode vir a concretizar-se, se conseguir convencer a Esquerda Democrática a dar cobertura parlamentar a um governo da Nova Democracia e do PASOK, impedindo assim novas eleições e o risco de formação de um governo de esquerda para romper com a troika e auditar a dívida grega.

Quanto ao KKE, o Partido Comunista grego que rejeitou qualquer negociação de governo, apelou esta tarde a novas eleições, classificando as conversações dos últimos dias como "hipócritas". A secretária-geral Aleka Papariga lançou novas acusações à Syriza, dizendo que "sob um disfarce esquerdista, tenta convencer o povo que trabalhadores e capitalistas podem coexistir e prosperar".

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