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“Fico preocupada quando Rui Rio tenta normalizar a extrema-direita”

Das propostas da direita sobre prisão perpétua ao aumento dos salários e à sustentabilidade da segurança social, passando pelo futuro do SNS, ficaram bem à vista as diferenças entre Catarina Martins e Rui Rio no debate televisivo de quarta-feira.
Debate Catarina Martins - Rui Rio
Debate Catarina Martins - Rui Rio

No debate entre Catarina Martins e Rui Rio, transmitido na quarta-feira pela SIC, o primeiro tema colocado foi o da questão da prisão perpétua, a propósito da aproximação do líder do PSD no debate com André Ventura. Rui Rio explicou que não defende prisão perpétua, mas destacou que, segundo ele, afinal o Chega não quer a prisão perpétua mas um modelo mitigado.

Catarina Martins criticou Rui Rio e afirmou: “confesso que fico preocupada quando ouço o doutor Rui Rio, mais que explicar porque a prisão perpétua é inaceitável está tentar normalizar as coisas que diz a extrema-direita”.

“A prisão perpétua não é permitida em Portugal, pela Constituição no seu artigo 30º número um, em Portugal não se admite a selvajaria, não há prisão perpétua, não há castigos físicos, não há castração, porque nós sabemos que Justiça não é vingança”, explicou Catarina Martins.

E acrescentou que Portugal também não tem um problema de as penas serem leves, frisando que crimes graves têm penas pesadas e lembrando que a prisão perpétua foi abolida há 130 anos.

É com mais salário que o país pode crescer”

Outro tema do debate foi o dos salários. Rui Rio considerou que a subida do salário mínimo tem sido excessiva e aproximou o salário mínimo do salário médio.

Catarina Martins, pelo contrário, lembrou que “o quadriénio em que o país cresceu mais foi entre 2015 e 2019, altura em que, também mais reduziu a sua dívida”.

E salientou: “O que fica provado é que, ao contrário do que defende a direita, não é destruindo o país que ele ficará melhor. É com mais salário que o país pode crescer”.

A coordenadora bloquista lembrou as críticas da direita, que considerava que era errado subir o salário mínimo e recordou as críticas de Rui Rio, que afirmava até que a subida do salário mínimo ia aumentar o desemprego e aumentar as falências.

“Nada disso aconteceu. Ao contrário, mais salário foi mais economia, mais emprego”, sublinhou Catarina Martins. E acrescentou: “Não acreditamos que Portugal deva ser uma gigantesca Odemira de baixos salários. Lutamos para que haja melhores salários, melhores serviços públicos, porque sabemos que é assim que a economia funciona melhor. E provámos isso ao longo deste tempo”.

Sobre o modelo económico, Catarina Martins lembrou que “o PS e o PSD privatizaram os setores estratégicos portugueses e com isso retiraram capacidade à economia para crescer, criaram problemas às famílias e às empresas e criam problemas à transição climática, que temos de fazer”.

“Hoje, alguém pode achar que foi uma boa ideia privatizar a EDP e a REN? São empresas energéticas fundamentais e hoje são empresas do partido comunista chinês. Uma privatização em que não ganhámos nada, mas perdemos mecanismos para puxar pela nossa economia”, criticou Catarina Martins e acrescentou: “Eu sei quem ganhou, lembro-me de António Mexia e Eduardo Catroga que foram ministros do PSD e depois foram representar aqueles que são hoje donos da EDP.

Sobre a ideia de Rui Rio de que o Salário Mínimo aumentou demasiado e nivelou os salários por baixo, originando salários baixos e emigração, Catarina disse que ela "é a mesma da Comissão Europeia, quando em 2016 quis impedir a subida do salário mínimo nacional e está errada, profundamente errada”, criticou Catarina Martins.

“O salário médio não cresce - e nós queremos tanto que cresça - é pelas leis que o seu partido também colocou na legislação do trabalho”, apontou ainda Catarina Martins, indicando os casos dos despedimentos, tornados mais fáceis e baratos, lembrando também que “as horas extraordinárias ficaram mais baratas”.

Para a coordenadora do Bloco, as medidas da troika na legislação laboral e o esmagamento dos salários da função pública são os dois principais fatores do congelamento dos salários médios em Portugal. "Quando ouço o PSD a falar de salários só tenho uma certeza, não têm nenhuma proposta para que os salários em Portugal possam ser dignos”, concluiu.

Fico com a ideia que o PSD quer aproveitar a crise pandémica para que a Saúde possa ser um negócio”

Sobre o SNS, Rui Rio começou por afirmar que Portugal gasta mais do que a média europeia na saúde, que falta organização e planeamento e que é preciso ”chamar o setor privado e o setor social”, acrescentando que “atirar mais dinheiro para cima do SNS não é a questão”.

Catarina Martins assinalou que tinha uma dificuldade neste debate, pois “o Bloco apresentou o programa, o PSD ainda não”, afirmou e explicou: “Já ouvi umas coisas sobre os salários sem uma proposta concreta e agora ouço umas coisas sobre o SNS, que não se percebe bem”.

“Entendamo-nos: vai ser preciso mais dinheiro na saúde e é natural que assim seja. Temos uma população envelhecida os medicamentos inovadores são caros, as vacinas são caras, mas é o melhor investimento que o Estado pode fazer é na Saúde”, afirmou Catarina Martins.

E criticou: “Fico com a ideia que o PSD quer aproveitar a crise pandémica para que a Saúde possa ser um negócio. E o que eu quero é garantir que a Saúde é um direito de toda a gente. Porque quando diz que quer entregar hospitais a privados eu pergunto, quer entregar o São João ao grupo Mello? Quer entregar o São José aos chineses da Fósun? Isto tem algum sentido?”

“Depois de sabermos que foi o SNS que nos salvou, este tem de ser o momento não de dar o negócio aos privados, mas de reforçar o SNS”, frisou Catarina Martins, apontando que perante o facto de haver um milhão de utentes sem médico de família, “a solução não é mandá-los para um consultório privado”.

“A solução é contratar os 600 médicos de família que faltam, com condições de carreira salariais, para que eles possam resolver a situação dos utentes da melhor maneira possível, em centros de saúde sem filas e equipados com meios complementares de diagnóstico. Eu não desisto do SNS”, frisou Catarina Martins.

Por fim ainda foi abordada a Segurança Social, com Catarina Martins a afirmar que o Bloco provou que se pode fazer melhor, lembrando o chamado "imposto Mortágua", que entre 2018 e 2020 permitiu ao fundo de estabilização da Segurança Social receber mais 477 milhões de euros graças à taxação do grande património imobiliário. “O Bloco quer proteger as pensões”, sublinhou.

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