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“Fico preocupada quando Rui Rio tenta normalizar a extrema-direita”
No debate entre Catarina Martins e Rui Rio, transmitido na quarta-feira pela SIC, o primeiro tema colocado foi o da questão da prisão perpétua, a propósito da aproximação do líder do PSD no debate com André Ventura. Rui Rio explicou que não defende prisão perpétua, mas destacou que, segundo ele, afinal o Chega não quer a prisão perpétua mas um modelo mitigado.
Catarina Martins criticou Rui Rio e afirmou: “confesso que fico preocupada quando ouço o doutor Rui Rio, mais que explicar porque a prisão perpétua é inaceitável está tentar normalizar as coisas que diz a extrema-direita”.
“A prisão perpétua não é permitida em Portugal, pela Constituição no seu artigo 30º número um, em Portugal não se admite a selvajaria, não há prisão perpétua, não há castigos físicos, não há castração, porque nós sabemos que Justiça não é vingança”, explicou Catarina Martins.
Rui Rio normaliza o que diz a extrema-direita. A prisão perpétua é proibida pela Constituição. Em Portugal não se admite a selvajaria. Justiça não é vingança. Não existe problema em as penas serem leves: crimes graves têm penas pesadas. Ser justo não é ser fraco, é ser forte. pic.twitter.com/RDsN43TmUT
— Bloco de Esquerda (@BlocoDeEsquerda) January 5, 2022
E acrescentou que Portugal também não tem um problema de as penas serem leves, frisando que crimes graves têm penas pesadas e lembrando que a prisão perpétua foi abolida há 130 anos.
“É com mais salário que o país pode crescer”
Outro tema do debate foi o dos salários. Rui Rio considerou que a subida do salário mínimo tem sido excessiva e aproximou o salário mínimo do salário médio.
Catarina Martins, pelo contrário, lembrou que “o quadriénio em que o país cresceu mais foi entre 2015 e 2019, altura em que, também mais reduziu a sua dívida”.
E salientou: “O que fica provado é que, ao contrário do que defende a direita, não é destruindo o país que ele ficará melhor. É com mais salário que o país pode crescer”.
Se o salário médio não cresce é pelas leis que o PSD meteu no Código do Trabalho, tornando o despedimento fácil e barato. Com as consequências à vistas: grandes empresas estão a despedir trabalhadores e a substituí-los por trabalhadores em outsourcing com salários mais baixos. pic.twitter.com/zR4F0oZdpZ
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A coordenadora bloquista lembrou as críticas da direita, que considerava que era errado subir o salário mínimo e recordou as críticas de Rui Rio, que afirmava até que a subida do salário mínimo ia aumentar o desemprego e aumentar as falências.
“Nada disso aconteceu. Ao contrário, mais salário foi mais economia, mais emprego”, sublinhou Catarina Martins. E acrescentou: “Não acreditamos que Portugal deva ser uma gigantesca Odemira de baixos salários. Lutamos para que haja melhores salários, melhores serviços públicos, porque sabemos que é assim que a economia funciona melhor. E provámos isso ao longo deste tempo”.
Sobre o modelo económico, Catarina Martins lembrou que “o PS e o PSD privatizaram os setores estratégicos portugueses e com isso retiraram capacidade à economia para crescer, criaram problemas às famílias e às empresas e criam problemas à transição climática, que temos de fazer”.
“Hoje, alguém pode achar que foi uma boa ideia privatizar a EDP e a REN? São empresas energéticas fundamentais e hoje são empresas do partido comunista chinês. Uma privatização em que não ganhámos nada, mas perdemos mecanismos para puxar pela nossa economia”, criticou Catarina Martins e acrescentou: “Eu sei quem ganhou, lembro-me de António Mexia e Eduardo Catroga que foram ministros do PSD e depois foram representar aqueles que são hoje donos da EDP.
PS e PSD privatizaram setores estratégicos e com isso retiraram capacidade à economia para crescer.
Hoje, alguém pode achar que foi uma boa ideia privatizar a EDP ou a REN? Exceptuando os ministros do PSD que foram parar ao Conselho de Administração. @catarina_mart pic.twitter.com/PLOQzHoRMX
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Sobre a ideia de Rui Rio de que o Salário Mínimo aumentou demasiado e nivelou os salários por baixo, originando salários baixos e emigração, Catarina disse que ela "é a mesma da Comissão Europeia, quando em 2016 quis impedir a subida do salário mínimo nacional e está errada, profundamente errada”, criticou Catarina Martins.
“O salário médio não cresce - e nós queremos tanto que cresça - é pelas leis que o seu partido também colocou na legislação do trabalho”, apontou ainda Catarina Martins, indicando os casos dos despedimentos, tornados mais fáceis e baratos, lembrando também que “as horas extraordinárias ficaram mais baratas”.
Para a coordenadora do Bloco, as medidas da troika na legislação laboral e o esmagamento dos salários da função pública são os dois principais fatores do congelamento dos salários médios em Portugal. "Quando ouço o PSD a falar de salários só tenho uma certeza, não têm nenhuma proposta para que os salários em Portugal possam ser dignos”, concluiu.
“Fico com a ideia que o PSD quer aproveitar a crise pandémica para que a Saúde possa ser um negócio”
Sobre o SNS, Rui Rio começou por afirmar que Portugal gasta mais do que a média europeia na saúde, que falta organização e planeamento e que é preciso ”chamar o setor privado e o setor social”, acrescentando que “atirar mais dinheiro para cima do SNS não é a questão”.
Catarina Martins assinalou que tinha uma dificuldade neste debate, pois “o Bloco apresentou o programa, o PSD ainda não”, afirmou e explicou: “Já ouvi umas coisas sobre os salários sem uma proposta concreta e agora ouço umas coisas sobre o SNS, que não se percebe bem”.
O melhor investimento que um país pode fazer no seu futuro é na saúde. A direita quer aproveitar a pandemia para transformar a saúde num negócio. O que nós queremos saúde seja um direito de toda a gente. @catarina_mart pic.twitter.com/CRexSv2sZK
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“Entendamo-nos: vai ser preciso mais dinheiro na saúde e é natural que assim seja. Temos uma população envelhecida os medicamentos inovadores são caros, as vacinas são caras, mas é o melhor investimento que o Estado pode fazer é na Saúde”, afirmou Catarina Martins.
E criticou: “Fico com a ideia que o PSD quer aproveitar a crise pandémica para que a Saúde possa ser um negócio. E o que eu quero é garantir que a Saúde é um direito de toda a gente. Porque quando diz que quer entregar hospitais a privados eu pergunto, quer entregar o São João ao grupo Mello? Quer entregar o São José aos chineses da Fósun? Isto tem algum sentido?”
“Depois de sabermos que foi o SNS que nos salvou, este tem de ser o momento não de dar o negócio aos privados, mas de reforçar o SNS”, frisou Catarina Martins, apontando que perante o facto de haver um milhão de utentes sem médico de família, “a solução não é mandá-los para um consultório privado”.
“A solução é contratar os 600 médicos de família que faltam, com condições de carreira salariais, para que eles possam resolver a situação dos utentes da melhor maneira possível, em centros de saúde sem filas e equipados com meios complementares de diagnóstico. Eu não desisto do SNS”, frisou Catarina Martins.
Por fim ainda foi abordada a Segurança Social, com Catarina Martins a afirmar que o Bloco provou que se pode fazer melhor, lembrando o chamado "imposto Mortágua", que entre 2018 e 2020 permitiu ao fundo de estabilização da Segurança Social receber mais 477 milhões de euros graças à taxação do grande património imobiliário. “O Bloco quer proteger as pensões”, sublinhou.
Comentários
"Banhada"
Posso estar a ser extemporâneo no resultado da minha apreciação do debate Catarina/Rio, mas parece-me que o líder do PSD, poderá ter ontem enterrado os seus objectivos nestas legislativas.
Socorrendo-me da linguagem futebolística que me é cara, começou com um autogolo na questão da prisão perpétua. Como aquele jogador que tanto tenta driblar, emaranhou-se no seu próprio drible e já nem sabia da bola...
E foi grave tentar aliciar o eleitorado do Chega, ao dizer que afinal o Ventura não é tão extremista assim. Para a caça ao voto, não vale tudo, Dr.Rui Rio!
Depois, perdeu-se completamente nas suas ideias (ou na falta delas...) e acabou por apanhar uma banhada em todas as outras questões.
À Catarina bastou-lhe, com a convicção e firmeza que já a caracterizam, explanar o programa do Bloco, na defesa dos valores que nos são caros, como a defesa dos direitos humanos, de uma legislação laboral favorável a quem trabalha, de um SNS com todas as condições. Teve a tranquilidade da razão.
Rui Rio, valha a verdade, não é um trauliteiro. Não veio com a conversa dos "RSI com Mercedes à porta" (essa paga direitos de autor), nem com fotos de "bandidos pretos, ciganos ou imigrantes..."
Mas ficamos a saber que o que a direita quer não convém ao povo. Aliás, já o sabemos há muito.
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