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Adolescer em segurança, por um cuidado de saúde sexualmente inclusivo
Em Junho assinala-se o Dia da Criança e celebra-se o mês do Orgulho LGBTI+, efemérides a partir das quais importa reflectir no que concerne ao adolescer não normativo e respostas em saúde.
Autêntica fase de transição e construção identitária, a adolescência configura um período essencial para a aquisição de comportamentos saudáveis, pelo que a qualidade do acolhimento da pessoa adolescente, em todos os níveis de prevenção (primária, secundária e terciária), é decisiva para a promoção, autonomização e maximização da sua saúde, cujos efeitos se fazem sentir ao longo do seu ciclo vital.
A presunção da heterossexualidade e identidade de género binária é transversal nas respostas em saúde. Analisando a informação produzida pelas entidades de saúde e a formação especializada sobre os desafios e necessidades de saúde da comunidade LGBTQIA+* é notória a sua carência, reforçando a vulnerabilidade desta população devido à visibilidade do seu estatuto não-normativo.
Do preconceito à falta de sensibilização das/dos profissionais de saúde relativamente às singularidades LGBTQIA+, da referência a equívocos à presunção sobre características e necessidades desta população, são diversas as barreiras indigitadas na literatura científica, sendo mesmo relatadas experiências de assédio por parte de profissionais de saúde e/ou instituições de saúde.
O desconhecimento sobre as especificidades de saúde da população LGBT é o problema mais frequentemente nomeado (e.g. abuso emocional e/ou sexual, saúde mental, solidão, isolamento, falta de esperança, entre outros), seguido do preconceito das/dos profissionais de saúde relativamente a esta população, na sequência do qual pode emergir tratamento desigual. Na génese das experiências de discriminação vivenciadas nos serviços de saúde estará a falta de informação sobre as características da pessoa LGBTQIA+, incluindo as de saúde de cada uma das suas categorias, bem como dos seus direitos, cuja perceção de preconceito é maior na pessoa trans.
Pese embora a identificação das necessidades de saúde específicas da população LGBTQIA+, a verdade é que estas continuam por atender, incluindo factores de risco para a adopção de comportamentos disruptivos, a culpabilização por ser vítima de bullying, ocultação de factos da família e amigos, rejeição parental da identidade de género e/ou orientação sexual normativa, etc. Uma maior propensão para problemas de saúde mental tem sido identificada nas pessoas da comunidade LGBTQIA+, cujo incremento das taxas de suicídio entre jovens queer merece particular destaque. Destaque-se o duplo estigma que a problemática da violência no seio das relações íntimas assume na pessoa não heterossexual, resultando na duplicação do constrangimento associado à procura de apoio.
A incorporação nos serviços de saúde das necessidades de saúde da população LGBTQIA+, a integração da identidade e família LGBTQIA+ nas principais políticas de saúde e educação são essenciais para um quadro de serviços públicos de saúde e educação verdadeiramente inclusivos.
Considerando que à transformação dos serviços de saúde subjaz a transformação no modo de pensar e agir dos profissionais, é fulcral providenciar programas de sensibilização e capacitação, que assentem no desenvolvimento de competências comunicacionais e relacionais, visando a promoção de prácticas clínicas neutras e não discriminatórias de aconselhamento e educação em saúde. A formação de todos os profissionais de saúde sobre as especificidades da pessoa LGBTQIA+ é determinante, e deve conter, entre outros, aspectos como a explicitação conceptual e terminologia actuais (identidade de género, orientação sexual, trans ou transgénero, não binário, género, sexo, etc), a identificação de termos inadequados e técnicas comunicacionais promotoras do cuidado centrado na pessoa adolescente LGBTQIA+.
A promoção de cuidados inclusivos e culturalmente sensíveis, incluindo a população LGBTQIA+, deve consubstanciar um compromisso dos Conselhos de Administração das diversas instituições de saúde, compromisso esse que deve estar plasmado na sua missão.
É também no âmbito do registo informativo que importa promover mudanças, no sentido do rompimento do domínio da identidade binária e da efectiva integração processual da multiplicidade existente quanto à identidade de género e à vivência relacional.
Parece ser, ainda, primordial transformar os ambientes físicos das estruturas de saúde, promovendo espaços inclusivos e acolhedores de todas as pessoas, mediante a incorporação de matérias relativas à pessoal LGBTQIA+ na decoração e conteúdos expostos, bem como garantindo o acesso global a informação e educação sobre saúde, direitos sexuais e direitos reprodutivos, devidamente adequadas à idade adolescente.
Há um longo caminho a percorrer para a inclusão das pessoas de diversas identidades de género e/ou orientações sexuais. As respostas públicas devem tal considerar nos seus planos, sob pena de adensar a discriminação e o isolamento intrínsecos. É, nesta medida, que a exigência por uma agenda política que foque estas matérias é primordial. Afinal, na sua génese, está o cumprimento de direitos humanos fundamentais e o primado ético essencial da dignidade.
Este artigo parte de revisões de literatura elaboradas no âmbito da Pós-Graduação em Saúde Infantil e Cuidado Pediátrico e do Mestrado em Enfermagem, Especialização de Saúde Infantil e Pediátrica, publicadas, em 2018, no V Congresso dos Enfermeiros e no V Colóquio Luso-Brasileiro sobre Saúde, Educação e Representações Sociais.
Nota:
* LGBTQIA+: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais ou Transgéneros, Queer, Intersexo, Assexual e todas as diversas possibilidades de identidade de género e/ou orientação sexual existentes
Comentários
Este texto é interessante mas
Este texto é interessante mas bastante parcial. Há já um debate grande precisamente sobre "bullying, ocultação de factos da família e amigos, rejeição parental" e não só que é exercido por um exército de ativistas que se identificam como defensores da causa LGBTxxx. Em casos não pouco relevantes nem pouco frequentes, coloca-se o debate da identidade de género como forma de sobreposição aos direitos da mulher. Ativismo de cancelamento, bullying e insulto são hoje a forma mais comum de o observar online. Não é também desprezável o resultado dramático que tem sido observado em vários países, com o mercado e empresas totalmente alinhado com a moda da bandeira às cores, para vender intervenções cirurgicas a jovens, quase sempre do sexo feminino. Existe esse debate nos EUA, no Reino Unido, em alguns países nórdicos. O mercado amplo, que se move em cima de uma espécide de tabu - os "direitos" LGTBSXxx - responde ativamente, cancela debates, cancela publicações e investigação científica, e mais do que tudo, cancela a possibilidade de debates profundos sobre temas que são determinantes para muitas crianças e jovens, e novamente, principalmente mulheres. Direitos iguais para todos e todas, certamente. Esse é o início e o fim da política à esquerda. Mas direito também a que não exista uma espécie de igreja, em que se tornou este tema dos direitos da bandeiras às cores. É o próprio mercado, empresas, câmaras municipais, etc... que agitam a bandeira como nunca e já perceberam como é importante nas redes sociais e no mercado que essa bandeira lá esteja, como um pin. Infelizmente o ativismo tem colaborado com isto, porque não debate, apenas agita, e as discriminações não diminuiram, aumentaram. Principalmente, como sempre, sobre as mulheres. A bandeira tornou-se uma moda e é bastante ignorante misturar identidades de género (identidades ???? qual é a ciência em que se baseia esta estória das múltiplas identidades??!?) com escolhas, essas sim, múltiplas.
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