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Identificadas duas mil vítimas de massacres no Tigray
O trabalho é de investigadores da Universidade de Ghent, na Bélgica. Através de uma rede de contractos e colaboradores no terreno, identificaram 1.900 pessoas assassinadas em mais de 150 massacres na região do Tigray na Etiópia, desde crianças a idosos na casa dos noventa anos.
O conflito nesta zona estalou em novembro. O partido dominante na região, a Frente de Libertação do Povo do Tigray, TPLF, atacou bases do exército e este respondeu com uma campanha militar que, no final do mês, declarou vitoriosa depois da conquista de Mekelle, a capital.
Porém, os combates entre ambas as partes continuaram. E vinte dos massacres referidos no estudo belga aconteceram mesmo o mês passado. Num deles foram mortos 250 civis durante três dias na cidade de Humera. Aqui não se tratava da disputa entre as forças governamentais e do Tigray mas a uma tentativa de limpeza étnica e de ocupação de terras de uma milícia proveniente da zona vizinha de Amhara que aproveitou o caos gerado pelo conflito para tentar resolveu uma disputa territorial antiga. Esta milícia acusa o TPLF de se ter apropriado de terras suas ao longo de trinta anos.
Complicando ainda mais o cenário de guerra, os soldados do governo da Eritreia também entraram em território do país vizinho para participar no conflito. Também a eles é assacada a responsabilidade de massacres como a morte de 13 pessoas em Grizana a semana passada, uma das quais uma criança de dois anos.
Jan Nyssen, o geógrafo que dirigiu a investigação e que é especialista nesta região disse, ao Guardian, que o objetivo da sua lista “é mostrar a magnitude do que está a acontecer”. Isto apesar de se saber que “há muitos mais” e de que estas vítimas são apenas aquelas que de que se conhece o nome e as histórias de vida. Para este universitário, “estes indivíduos não devem ser esquecidos e estes crimes de guerra devem ser investigados”. Com esse intuito, o seu colega Tim Vanden Bempt publicou no Twitter, um por um os seus nomes, idades e quem os terá assassinado.
O estudo que publicaram esta quinta-feira chegou à identificação das vítimas de massacres através de cem entrevistas longas com testemunhas, mais de duas mil chamadas telefónicas e outras sete mil fontes cruzadas, incluindo publicações em redes sociais e em jornais.
Segundo eles, apenas 3% destas vítimas foram mortas pelos ataques aéreos ou por disparos de artilharia. A esmagadora maioria foram alvo de execuções sumárias. Há casos em que não se consegue determinar a autoria dos assassinatos. Mas entre aqueles que os autores também foram identificados, há 18% de casos em que a culpa é atribuída conjuntamente a soldados da Etiópia e Eritreia, 45% apenas aos soldados da Eritreia, 14% apenas aos da Etiópia e 5% as milícias de Amhara.
Tim Vanden Bempt concede que a informação obtida é ainda fragmentárioa e “muito é ainda desconhecido. Há muitos incidentes em que não conseguimos concluir qual dos lados é responsável de momento”. Por exemplo, há “dois ou três massacres cometidos por combatentes do TPLF mas ainda não podemos ter a certeza”,
Apesar das críticas internacionais dataram de há muito, apenas o mês passado o primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed Ali reconheceu a possibilidade de “atrocidades”, isto sublinhando porém que há uma “propaganda de exagero” do TPLF.
As Nações Unidas referem, por exemplo, a existência de mais de 500 casos de violações detetados em apenas cinco clínicas. O que só agora o governo reconhece. Para além destes crimes, há ainda cerca de um milhão de deslocados numa região de cerca de cinco milhões de habitantes.
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Jan Nyssen
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